CBDC: em que estágio se encontram os projetos na América Latina?

Segundo o BIS, 90% dos bancos centrais planejam o lançamento de suas moedas digitais. Por enquanto, os principais destaques vêm da Ásia e do Caribe. Mas e o continente latino-americano? Acompanhe o nosso giro pela região!
CBDC: em que estágio se encontram os projetos na América Latina?
Data
Autor
Equipe Propague
Produto
Compartilhar

Aos poucos, as moedas digitais dos bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês) vem conquistando espaço nas agendas econômicas em escala global. Recentemente, uma pesquisa publicada pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) revelou que aproximadamente 90% dos bancos centrais estão em algum estágio entre o planejamento e o lançamento de uma versão digital das moedas fiduciárias de seus respectivos países.

Entre as vantagens da moeda digital em relação ao dinheiro-papel, os bancos centrais veem a CBDC como mais uma ferramenta de apoio na promoção da inclusão financeira, assim como uma facilitadora nas transações transfronteiriças, oferecendo um meio mais rápido, seguro, menos dispendioso e sem fricções. Não é à toa que o próprio BIS vem encabeçando uma série de experimentos envolvendo a CBDC com foco em pagamentos internacionais.

Além disso, a CBDC é fortemente recomendada por diversos organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização das Nações Unidas (ONU), em relação aos criptoativos. Isso porque eles a consideram fundamental no enfretamento ao rápido avanço das criptomoedas e na salvaguarda da estabilidade financeira.

Dessa forma, as vantagens da digitalização da moeda reforçam as apostas na implementação da CBDC em diversos países. Por enquanto, projetos no Caribe e na Ásia se destacam, por outro lado, seguem mais lentos na Europa e nos Estados Unidos.

Mas e na América Latina? Em que patamar estão os projetos de criação e desenvolvimento de uma CBDC?  Confira, agora, nosso giro pela região, considerando as principais economias.

Saiba mais sobre o conceito e o funcionamento de uma CBDC clicando aqui.

México adia CBDC para 2025

Inicialmente prevista para circular em 2024, a moeda digital emitida pelo Banco Central do México, só deverá ser lançada no ano seguinte, segundo anúncio da presidente da autoridade monetária, Victoria Rodríguez Ceja.

De acordo com Ceja, o objetivo principal da CBDC mexicana é aumentar a inclusão financeira. O que faz todo sentido, visto que há estudos, como o da Merchant Machine, apontando que o México está entre os cinco principais países com menor inclusão financeira, depois do Marrocos, Vietnã, Egito e Filipinas.

Aliás, conforme a Associação Bancária do México, 53% dos adultos no país não têm conta bancária e sete em cada dez não têm acesso a crédito.

Ao lado da inclusão financeira, acrescentou Ceja, pagamentos mais rápidos e interoperabilidade também são foco quando o assunto é CBDC.

Colômbia entra na corrida por uma CBDC

Outro país latino-americano que considera a criação de uma CBDC é a Colômbia. Embora ainda sem uma data definida para circulação, o país afirma que sua moeda digital tem como propósito maior facilitar as transações para os consumidores e acabar com a evasão fiscal. A informação foi compartilhada por Luis Carlos Reyes, chefe do Escritório Tributário e Aduaneiro da Colômbia.

Vale destacar que o dinheiro físico ainda é um grande componente da economia colombiana, assim como em muitos países da região, o que representa, afirmam muitos especialistas, uma oportunidade de mercado no valor de várias centenas de bilhões de dólares para Fintechs e plataformas online.

Chile suspende lançamento de sua moeda digital em 2022

A princípio, o Banco Central do Chile havia anunciado o lançamento de sua CBDC para 2022. No entanto, a autoridade monetária resolveu adiar seus planos para emissão do peso digital, argumentado que não dispõe de informações suficientes para prosseguir com o projeto e que, portanto, a iniciativa demandaria uma análise mais criteriosa dos riscos e benefícios.

Por conta disso, o banco promete um novo relatório até o fim de 2022, após realizar uma série de reuniões, apresentações e seminários com diversas contrapartes.

Em um documento anterior, publicado em maio de 2022, a autoridade monetária chegou a fazer avaliação preliminar da CBDC chilena. A publicação examinou o atual sistema de pagamento do país comparando-o com as vantagens, riscos e princípios relacionados a um eventual peso digital.

Nesse contexto, embora apontasse que o atual sistema de pagamento funcione adequadamente e tenha sido capaz de uma boa adaptação aos recentes desafios, uma CBDC melhoraria e seria capaz de mitigar quaisquer riscos da transformação digital. Além disso, pode contribuir para que o Chile alcance um sistema de pagamento mais integrado, competitivo, inovador e inclusivo.

O Banco Central do Chile conclui que a emissão de uma CBDC também seria uma boa alternativa para enfrentar os desafios ligados à massificação das criptomoedas, embora por enquanto elas ainda tenham uma participação muito pequena no sistema de pagamentos do país.

Autoridades argentinas mantém-se longe do debate sobre CBDC

Diferentemente de seus pares latino-americanos, por enquanto, as autoridades argentinas vêm demonstrando certa inércia na discussão sobre uma CBDC. O presidente da República, Alberto Fernández, apesar de ter dado sinais sobre estar disposto a debater o assunto, não esconde sua incerteza e falta de confiança nas moedas digitais.

Embora as criptomoedas tenham caído no gosto dos argentinos e, hoje, apresentarem uma grande parcela na preferência de pagamentos no país, o presidente do Banco Central da Argentina, Miguel Pesce, se distancia das recomendações do FMI e BIS, e, afirma que seu país não intenciona ou tem planos futuros de dar encaminhamento a um projeto de CBDC.

Por outro lado, chama a atenção uma iniciativa da Fundação Inclusão Produtiva, uma instituição não governamental local com foco no desenvolvimento de ferramentas financeiras. Segundo o site Cointelegraph, em abril de 2022, a fundação anunciou um projeto que prevê a criação de uma CBDC para o país.

Conforme a matéria, a proposta já foi até apresentada a entidades como a União Industrial Argentina e à Confederação Argentina de Médias Empresas. A ideia é digitalizar 100% do peso argentino. Porém, ainda não se tem notícia de qualquer sinal de aprovação por parte dos reguladores locais.

E quanto ao Real digital, tem avançado?

Já no que diz respeito à CBDC brasileira, o projeto do Real Digital vem cumprindo a sua agenda. Para este mês de setembro de 2022, está previsto o início dos trabalhos no que está sendo chamado Lift Challenge, que corresponde ao laboratório do real digital, lançado ainda em novembro de 2021.

A informação foi divulgada por Fábio Araújo, coordenador da iniciativa no Banco Central do Brasil (Bacen). Segundo ele, a previsão é de que dure quatro meses. Dessa forma, as primeiras aplicações da versão digital do real deverão começar a ser testadas nos primeiros meses de 2023.

O laboratório do real digital contempla nove projetos voltados para inovações relacionadas aos estudos do BC para o lançamento da CBDC brasileira. Segundo o banco, todos eles utilizam contratos inteligentes, ferramenta fundamentada na tecnologia blockchain que permite a definição de parâmetros específicos para conferir eficiência aos sistemas de pagamento e de crédito. Como resultado, o real digital funcionará como uma espécie de dinheiro programável.

Leia mais:

Discussão de CBDCs avança: economias desenvolvidas lançam estudos sobre o projeto

CBDC desperta interesse de países africanos, que apostam no desenvolvimento do dinheiro digital

Moedas digitais: como afetam o sistema financeiro e as soluções dos bancos centrais

Moedas digitais: França e Suíça testam primeira liquidação internacional de CBDC da Europa

Pagamentos com CBDC: bancos centrais avaliam moeda digital interoperável

 

Todos os produtos

Quer se
aprofundar mais?

Com uma linguagem simples de entender, as análises do Instituto Propague vão te deixar por dentro dos principais temas do mercado.

Leia agora!