Igualdade de gênero promove economia verde? Parece que o E e o S do ESG andam juntos!

Primeiras análises sugerem que uma participação maior de mulheres na política facilita o avanço de políticas climáticas, trazendo o debate de como integrar as agendas social e ambiental do ESG.
Igualdade de gênero promove economia verde? Parece que o E e o S do ESG andam juntos!
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Amanda Stelitano
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Mesmo com as três letras que compõem a sigla ESG andando juntas, o direcionamento mais comum é de tratar as agendas de ambiental, social e de governança separadas. Em meio às urgências de transformação no sistema global, não parece ser possível imaginar uma transição para uma economia verde eficiente sem considerar soluções para incluir igualdade de gênero no debate. A transição para essa nova dinâmica do sistema financeiro mais verde tem como objetivo promover uma migração justa e eficiente com a criação de economias mais resilientes aos riscos das mudanças climáticas; porém, esse movimento não parece enxergar ainda a importância e prioridade do investimento em igualdade de gênero e capacitação de mulheres para lidar com a nova dinâmica verde global.

Enquanto os projetos em torno de uma economia verde continuarem se apresentando de forma independente às demais agendas, sem incluir fatores chave como a resiliência de grupos vulneráveis e maior diversidade nos processos de tomada de decisão, o processo de transição para um sistema financeiro sustentável, justo e resiliente dificilmente irá alcançar os resultados esperados.

Crise climática com o fator gênero: mulheres são as mais afetadas pelas mudanças do clima

Na COP26, as estatísticas referentes aos mais vulneráveis e afetados pelos eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas acendeu um alerta: 80% de desabrigados e migratórios devido a essas catástrofes eram mulheres. Fatores como baixa renda, desigualdade e invisibilidade nas tomadas de decisões de políticas públicas são os principais motivos para potencializar o risco e exposição de mulheres – tanto na adaptação e prevenção, quanto na recuperação dos efeitos.

Contando com a participação de mais mulheres em cargos de alta representatividade e poder para a tomada e escolha de deliberações, as chances de influência na formulação e inclusão de pautas direcionadas a inserir mulheres no centro da transição justa são mais altas e prováveis de terem resultados eficientes.

Ao passo que a transição acontece e a neutralização dos efeitos negativos da crise ambiental e climática continuam afetando milhares de mulheres ao redor do mundo, medidas de resolução rápida e impacto direto precisam ser levadas mais a sério. É desse ponto que a igualdade de gênero se vê tão necessária. Contando com a participação de mais mulheres em cargos de alta representatividade e poder para a tomada e escolha de deliberações, as chances de influência na formulação e inclusão de pautas direcionadas a inserir mulheres no centro da transição justa são mais altas e prováveis de terem resultados eficientes.

Financiamento verde com inteligência de gênero: a nova economia verde?

Ainda reconhecendo a importância da participação de mulheres no processo de tomada de decisão, o setor financeiro é um dos principais motores para conseguir a transformação e avanço da agenda de igualdade de gênero e ambiental. Em busca de alcançar as metas de descarbonização dentro do período estabelecido e financiar projetos e instrumentos financeiros verdes, o papel de mulheres em posições decisivas pode ser o diferencial para superar as lacunas ainda existentes atualmente.

Em pesquisa realizada pela OMFIF, foi observado que bancos e instituições financeiras que possuem mais mulheres em seus conselhos e posições de gerência tendem a direcionar maior atenção para pautas ambientais e climáticas e encaminhar aportes de financiamento para investimentos sustentáveis, chegando a reduzir as emissões de carbono e gases efeito estufa até 5% a mais do que empresas lideradas por homens em sua maioria.

Em outra esfera, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos para testar a correlação entre a representação de mulheres em espaços legislativos e a aprovação de políticas e acordos referentes à agenda ambiental e climática. O estudo mais avançado, feito na Austrália e intitulado “Gênero e mudanças climáticas: as mulheres parlamentares fazem diferença?”, em sua tradução livre, teve resultados positivos, sugerindo que há espaço para análises mais profundas que possam corroborar tais indícios iniciais de relação positiva entre avanços nas agendas de gênero e sustentáveis.

Essa relação de ganhos mútuos que foi observada entre as duas agendas de igualdade de gênero e sustentabilidade permite que investidores e autoridades do sistema financeiro identifiquem as barreiras ainda existentes no crescimento de mulheres no meio para resolver dois dos grandes problemas e preocupações globais de uma vez. O setor financeiro que, hoje, é um dos principais ambientes em que a desigualdade de gênero e o financiamento de atividades prejudiciais à descarbonização da economia ainda são fortemente enraizados, pode ser o agente promissor da transformação para que, então, demais segmentos globais sigam o mesmo caminho.

 

Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.

 

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