Internacionalização do Renminbi: Brasil e outros países negociam com a China

O uso do Renminbi como moeda de reserva tem se expandido, tornando-a cada vez mais relevante no mercado global. A China tem firmado acordos de compensação com diversos países, o que reduz os custos de conversão cambial e aumenta a eficiência, facilitando as transações comerciais e financeiras entre eles.
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Equipe Propague
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Desde a implementação das reformas econômicas da década de 70, a China ascendeu como uma das principais economias do mundo, consolidando seu papel como centro financeiro. Consequentemente, o Renminbi (RMB), a moeda oficial da China, está cada vez mais internacionalizada.

A internacionalização da moeda faz parte da estratégia do governo chinês de promover o país como um centro financeiro global e fortalece sua posição na economia mundial.

Assim, nos últimos anos, a China tem tomado medidas para aumentar a aceitação do RMB como uma moeda de reserva, ampliando sua utilização em transações comerciais e promovendo a internacionalização do mercado financeiro chinês.

Com a guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia, o fluxo de dólar foi barrado em diversas operações, criando um vácuo de câmbio que a China quer preencher.

Nesse sentido, novos contratos em Renminbi significam um maior fluxo mundial da moeda, expandindo a influência chinesa e criando um poder financeiro em relação aos contratos globais.

Essa expansão tem se dado em diferentes frentes e países. O Brasil, por exemplo, foi notícia no dia 7 de fevereiro quando o Banco Central anunciou a assinatura de um memorando para estabelecer acordos de compensação com o Banco Popular da China (PBOC).

Novo acordo de compensação pode aumentar uso de Renminbi na relação China-Brasil

De acordo com o BC chinês, o comércio entre o país e o Brasil chegou a US$ 172 bilhões em 2022, um salto em relação a 2020, quando as exportações e importações computaram US$ 104,3 bilhões.

A expectativas das duas autoridades monetárias é de que acordo facilite o comércio e o investimento entre os dois países. Além disso, o PBOC espera que o acordo fortaleça a sua moeda e o uso do RMB na América Latina.

Com esse acordo, o Brasil se junta a uma rede global de centros offshore do RMB que inclui jurisdições como Hong Kong, Londres, Nova York, Singapura, Tóquio, Paris, Frankfurt, Dubai e Sydney. Em geral, são firmados dois tipos acordos: os acordos de compensação de moeda e os acordos de swap cambial.

O que são os acordos de compensação de moeda e os acordos de swap cambial

Os acordos de compensação são mecanismos voltados para liquidação de transações comerciais e financeiras entre os países, enquanto os acordos de swap são voltados para troca de moedas entre os bancos centrais de dois países.

Assim, acordos de compensação de moeda podem envolver a definição de uma moeda de referência para as transações comerciais, o uso de um sistema de pagamentos específico ou o estabelecimento de um mecanismo de compensação para a liquidação de transações.

Por outro lado, os acordos de swap cambial permitem que os bancos centrais de ambos os países troquem suas moedas para evitar pressões no mercado cambial, garantindo que haja liquidez suficiente em caso de crises financeiras. Isso pode ajudar a garantir que as transações comerciais e financeiras entre os dois países possam continuar sem interrupção.

Apesar de cumprirem funções diferentes, os dois tipos de acordo são importantes para a promoção do comércio entre países e estão cumprindo um papel importante na estratégia chinesa de internacionalização do Renminbi que, nos últimos anos, tem se difundido no mercado internacional.

Uso do Renminbi cresce no mundo, em especial em regiões da Ásia

De acordo com a Pesquisa Trienal do Banco de Compensações Internacionais (BIS), a moeda chinesa teve o maior crescimento no comércio de câmbio (FX) entre abril de 2019 e abril de 2022. Esse rápido crescimento elevou o RMB para a posição de quinta moeda mais negociada no mundo.

O aumento do volume de negociação do RMB refletiu principalmente uma maior atividade de negociação entre contrapartes fora da China continental. Esse aumento no volume de negociação internacional dobrou entre abril de 2019 e abril de 2022, representando cerca de 80% de todas as negociações em RMB.

Além disso, o relatório destacou que Hong Kong segue como principal centro para o comércio em RMB, apesar de ter perdido mercado para Singapura, Reino Unido e Estados Unidos.

O aumento do market share de Singapura coincide com o uso transfronteiriço da moeda chinesa na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). O volume de liquidação transfronteiriça em RMB China-ASEAN aumentou quase 20 vezes em uma década.

Em 2021, o número atingiu U$ 684,96 bilhões, um aumento de 16% ano a ano, de acordo com o relatório divulgado pela Sociedade Financeira de Guangxi durante o 14º Fórum de Cúpula China-ASEAN sobre Cooperação e Desenvolvimento Financeiro.

Parte desse crescimento se deve aos esforços empreendidos pelo PBOC na assinatura de acordos bilaterais. Até o final de 2021, a China já havia assinado acordos de liquidação de moeda com o Vietnã, Indonésia e Camboja, bem como acordos de swap cambial com a Indonésia, Malásia, Singapura e Tailândia.

Acordos simbolizam a relação estreita entre os países do ASEAN e a China

Nesse sentido, a Autoridade Monetária de Singapura (MAS) e o Banco Popular da China (PBC) renovaram, em 2022, o Acordo Bilateral de Swap Cambial (BCSA) por mais cinco anos, até 2027.

O BCSA desde sua assinatura, em 2010, foi pilar fundamental de cooperação entre a MAS e o PBC e tem ajudado a fortalecer a resiliência econômica regional e a estabilidade financeira. Além disso, como mencionado anteriormente, tem fortalecido Singapura como centro para transações em Renminbi.

Como parte do acordo, cerca de 300 bilhões em RMB e 65 bilhões em Dólar de Singapura (SGD) estão disponíveis para as instituições financeiras que operam em Singapura e China, respectivamente.

A renovação do BCSA foi assinada pelo Diretor Administrativo da MAS, Ravi Menon, e pelo Governador do PBC, Yi Gang, e foi efetivada em 13 de julho de 2022. Portanto, os acordos de compensação têm impulsionado o uso do Renminbi no ASEAN, consolidando Singapura como um importante centro.

Outra iniciativa que tem contribuído para o uso cada vez maior da moeda chinesas em transações transfronteiriças e o uso do Renminbi como reserva de valor é a iniciativa da Nova Rota da Seda (NRS). Até o final de 2021, a China já havia assinado acordos bilaterais de swap cambial com 22 países da NRS.

Nova Rota da Seda tem impulsionado a difusão do Renminbi

De acordo com o Banco Popular da China, as liquidações de RMB entre a China e os países da NRS totalizaram US$ 763,4 bilhões em 2021, um aumento de 19,6% em relação ao ano anterior. Esse valor, por sua vez, representou 14,8% do uso transfronteiriço total de RMB da China no ano destacado.

Entre os acordos assinados nesse contexto, um dos mais recentes é um memorando de cooperação (MOC) entre os Bancos Centrais da China e do Paquistão para estabelecer acordos de compensação de Renminbi no Paquistão.

A notícia foi divulgada no fim de 2022, quando o primeiro-ministro paquistanês Muhammad Shehbaz Sharif estava em visita à China. Nesse período, foi emitida uma declaração conjunta afirmando que as duas partes assinaram e concluíram um número de acordos cobrindo a cooperação bilateral em áreas como comércio eletrônico, economia digital, exportações de produtos agrícolas, cooperação financeira, proteção do patrimônio cultural e infraestrutura, incluindo o acordo de compensação.

Além do Paquistão, o PBOC, firmou acordos com o Laos e com o Cazaquistão. Os acordos foram divulgados em setembro do ano passado de forma conjunta pelos bancos centrais dos três países e tiveram como objetivo estabelecer acordos de compensação em RMB.

 

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