Pagamentos digitais sem fronteiras: transações internacionais são foco

Pagamentos internacionais ainda são um desafio operacional e tecnológico entre países. Os pagamentos digitais, como o Pix e CBDCs, são algumas das apostas para acabar com as barreiras transfronteiriças.
Pagamentos digitais sem fronteiras: inovações em pagamentos internacionais são tendências no setor
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Bruna Cataldo
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A última década do mercado de pagamentos foi de grandes transformações com o forte avanço da digitalização, que movimentou diversos países na direção de sociedades cashless, promovendo reduções de custo, ganho de eficiência e competitividade, além de inclusão financeira. Seja nas modalidades de cartão para e-commerce e carteiras digitais, ou em plataformas de pagamento instantâneo como o Pix, os pagamentos digitais já são uma realidade do setor que reduziu as principais dores do consumidor, mas uma ainda permanece: os pagamentos internacionais.

Se em múltiplos países de todos os continentes já é possível fazer pagamentos de forma digital, barata e rápida, o mesmo não pode ser dito quando se deseja fazer pagamentos internacionais. Ainda hoje eles são considerados altamente ineficientes e caros, podendo demorar dias para compensar. Em mundo globalizado, com grande circulação de pessoas e produtos entre países, esse é um problema relevante não só para consumidores, mas para o mercado e reguladores. 

Assim, em um contexto em que as soluções de pagamentos digitais domésticos estão amadurecendo, a próxima fronteira do setor é justamente derrubar fronteiras.

Tal impressão é compartilhada pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) e pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), que nos últimos dois anos vêm priorizando o tema e até apoiando projetos para inovações na área. Assim, em um contexto em que as soluções de pagamentos digitais domésticos estão amadurecendo, a próxima fronteira do setor é justamente derrubar fronteiras.

Pagamentos internacionais ainda são caros e ineficientes, mas por quê?

Estudos recentes lançados pelo BIS e FSB têm documentado o que o consumidor já sente quando precisa fazer transferências e pagamentos internacionais: que eles são lentos, caros e pouco eficientes. Especialmente a partir de 2020, o tema ganhou destaque entre esses e outros organismos internacionais, que passaram a mapear os gargalos que fazem com que uma pessoa ter que enviar dinheiro para seu parente que mora em outro país, por exemplo, seja tão sacrificante.

No primeiro de três materiais que lançou em parceria com o G20 ao longo de 2020, o FSB listou os principais fatores que contribuem para a lentidão e alto custo da modalidade:

  • Horários de funcionamento prejudicados pelos diferentes fuso horários; 
  • Legado tecnológico, ou seja, operação em plataformas com tecnologias desatualizadas;
  • Falta de padrões de dados e interoperabilidade entre sistemas de diferentes jurisdições;
  • Dificuldade em cumprir requisitos de conformidade como combate à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo (AML/CFT) e garantia de proteção de dados de diferentes jurisdições.

Assim, apesar de ser difícil de resolver, o problema dos pagamentos internacionais não é difícil de categorizar. Existem, basicamente, duas frentes que precisam de iniciativas e projetos: inovação tecnológica para lidar com os dois primeiros pontos e coordenação regulatória para lidar com os dois últimos.

A aposta global tem sido a internacionalização dos pagamentos digitais e suas tecnologias para endereçar os dois primeiros, acompanhada do esforço multilateral em projetos de inovação em parceria para os dois últimos. CBDCs e Pagamentos instantâneos são o destaque. A quantidade e escala dos projetos em andamento nessas frentes coloca o desenvolvimento de soluções de pagamentos internacionais como grande tendência no setor.

Internacionalização dos pagamentos digitais: todos os olhos em CBDCs e Pagamentos Instantâneos

Muitos projetos que prometem tornar transferências e pagamentos internacionais fáceis como os pagamentos digitais domésticos estão sendo desenvolvidos por Bancos Centrais de diversos países. Em comum, eles têm a aposta no desenvolvimento de versões digitais de suas moedas e integração entre elas e/ou na integração entre suas plataformas nacionais de pagamento instantâneo. 

Os projetos incluem iniciativas regionais, como as que estão se desenrolando em múltiplos países asiáticos — que contam com o objetivo adicional de diminuir a dependência do dólar —, as promovidas pelo hub de inovação do BIS, e até o movimento do Brasil de levar o Pix para Colômbia e Uruguai, mas também ações de maior escala e mais ambiciosas como o projeto Nexus, que almeja integrar 60 países em uma plataforma para pagamentos internacionais instantâneos.

O motivo para o foco em CBDCs e Pagamentos Instantâneos vai além da sofisticação tecnológica que ambos possuem e tem também diretamente a ver com uma das 4 fronteiras que precisa ser derrubada para melhorar a experiência em pagamentos internacionais: a superação do legado tecnológico. Por serem iniciativas novas, muitas ainda em desenvolvimento dentro dos países, os Bancos Centrais estão tendo oportunidade de construir muitas das estruturas (praticamente) do zero e em parceria uns com os outros, mitigando também algumas dificuldades de coordenação.

As duas modalidades de pagamentos digitais se mostram, portanto, promissoras para lidar com os 4 pontos destacados, mas os responsáveis do projeto Nexus, por exemplo, têm sido cautelosamente otimistas justamente porque os desafios não são triviais, principalmente os de coordenação regulatória. Ainda assim, o foco do BIS e do FSB em incentivar esses projetos e empurrar Bancos Centrais na direção de priorizar a dor do consumidor com pagamentos internacionais coloca o tema como grande tendência do setor. 

Assim, nos próximos anos, devemos ver múltiplos projetos sendo lançados e avançando das fases piloto até à implementação, efetivamente derrubando aos poucos as fronteiras que restam na experiência proporcionada pelos pagamentos digitais.

Bruna Cataldo é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFF.

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