Com o avanço do comércio transfronteiriço, empresas de comércio eletrônico e de logística convivem cada vez mais em um ambiente regulatório diversificado e complexo. Afinal, cada país possui regras distintas e a falta de cumprimento de qualquer norma alfandegária para acarretar multas ou apreensões. Nesse contexto, onde milhares de dados e informações são movimentados a todo instante, a tecnologia se tornou uma grande aliada, com a Inteligência Artificial (IA) exercendo um papel crucial para estar em conformidade com os regulamentos comerciais internacionais.
Segundo o relatório “The Case for AI in Cross-Border Trade” (O caso da IA no Comércio Transfronteiriço na tradução direta), lançado recentemente pela Eurora, plataforma para conformidade comercial internacional com base na Estônia, esse cenário representa enormes desafios para provedores de logística e pelo setor de comércio online.
Basta observar, por exemplo, regulamentos como o STOP ACT, lei de prevenção adotada pelo serviço postal dos Estados Unidos; as novas regras GST (sigla em inglês para Imposto sobre bens e serviços) de Singapura; as regras e taxas alfandegárias de Dubai, o Serviço de Declaração Aduaneira do Reino Unido; o regime de importação CARM do Canadá; o Sistema de Controle de Importação e ainda o Mecanismo de Ajuste de Fronteiras de Carbono, ambos da União Europeia, para entender o tamanho do problema que o comércio transfronteiriço enfrenta.
Em suma, um ambiente regulatório bastante diverso e complexo para equipes humanas administrarem sozinhas e, assim, conseguirem reduzir os riscos e mitigar o impacto de erros inevitáveis.
Desse modo, defende a publicação, a digitalização se coloca no centro das atenções, com as novas tecnologias fornecendo os meios para empresas e reguladores refinarem a coleta e o manuseio de um grande volume de dados, com a IA, em específico, permitindo uma ampla gama de aplicações no comércio transfronteiriço.
Como a IA pode impactar positivamente a conformidade das transações globais?
De acordo com o estudo, a IA é capaz de analisar conjuntos de dados massivos, identificando padrões e tendências quase em tempo real, assim como prevendo um conjunto de resultados prováveis com base nessas tendências.
Dessa forma, para empresas de comércio eletrônico e logística, a IA pode agilizar os relatórios e reduzir as imprecisões que levam às penalidades pelas não conformidades regulatórias além-fronteiras.
Como exemplo, a publicação cita a atribuição automática dos códigos HS (Sistema Harmonizado de Descrição e Codificação de Mercadorias), uma nomenclatura internacional para a classificação de produtos de importação e exportação.
Nesse caso, a IA é capaz de identificar as descrições de produtos e valores numéricos como peso, volume, preço e quantidade – bem como os requisitos exclusivos da autoridade alfandegária de cada destino – informando precisamente os códigos para centenas de milhares de operações em poucos segundos.
Ao mesmo tempo, pode rastrear instantaneamente erros ou negativas e calcular com exatidão taxas e impostos para consumidores em qualquer destino no ponto de venda.
Portanto, explica Kristi Helekivi, gerente de monitoramento de IA da Eurora, a tecnologia oferece bastante flexibilidade e opções, facilitando as mudanças na nomenclatura, regras de classificação ou o próprio código HS, economizando horas de trabalho humano e eventuais ocorrência de erros.
Em outras palavras, a IA libera as equipes de conformidade de dias de trabalho manual e monótono, dando-lhes tempo para se concentrar nas tarefas mais sutis e técnicas que não podem ser automatizadas.
Além disso, emenda Helekivi, a IA tem o potencial de reduzir o atrito também para os consumidores, fornecendo clareza sobre tributos antecipadamente, além de evitar atrasos nas fronteiras.
Em suma, a AI forneceria aos operadores logísticos e empresas de comércio eletrônico os meios necessários para otimizar todas as transações transfronteiriças em meio a um cenário regulatório complexo e em constante mudança.
Os dados no centro de tudo
Nesse contexto, o relatório é taxativo ao afirmar que os dados são, atualmente, o principal facilitador para o comércio transfronteiriço e sua relevância já ultrapassou a da infraestrutura física.
Isso porque, embora os métodos de transporte sejam amplamente intercambiáveis, a necessidade de classificar e relatar com precisão cada operação transfronteiriça é essencial, com o que se chama de dados eletrônicos avançados rapidamente se tornando um requisito padrão ao enviar além-fronteiras.
Adicionalmente, a publicação argumenta que o tratamento dos dados através da IA apresenta uma oportunidade não apenas para resolver problemas de conformidade, acompanhando as mudanças regulatórias e políticas, mas também para combater desafios operacionais mais amplos, como o abandono de carrinho de compras no exterior.
Ao mesmo tempo, também destaca a relevância da IA para outros aspectos do comércio internacional, como sustentabilidade, cobrança de impostos e segurança de transporte. “Gerenciados adequadamente, os dados podem ser aproveitados para fornecer informações, criar eficiências, otimizar a experiência do consumidor, aumentar a receita e impulsionar a inovação”, conclui Helekivi.
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