Inteligência artificial no combate a fraudes impacta o setor de pagamentos?

O paradoxo da inteligência artificial, seu uso será o freio ou acelerador para as fraudes financeiras?
O papel da inteligência artificial no combate de fraudes: ameaça ou solução para os pagamentos?
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Bruna Cataldo
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A inteligência artificial generativa ganhou destaque na mídia e no mercado após o sucesso do ChatGPT, ferramenta do tipo lançada pela OpenAI. Essa modalidade de inteligência artificial, que usa algoritmos de aprendizado de máquina treinados em um grande conjunto de dados pré-existentes para produzir novos conteúdos de forma autônoma (sem intervenção humana), se diferencia de outras IAs por não se limitar a identificar padrões nos dados existentes, mas criar algo completamente novo a partir do aprendizado de máquina.

É por conta dessa característica que a IA generativa se tornou a sensação do momento entre público e investidores, já que tem potencial de aplicação em múltiplas indústrias, principalmente sob uma ótica de aumento de produtividade e eficiência de processos em geral. Nesse sentido, especialistas já estão buscando aplicações para a inteligência artificial generativa em áreas como educação, saúde, marketing e financeiro, dentre outros. Um setor específico onde ela tem grande potencial é o de pagamentos, particularmente para resolver uma dor de usuários e empresas que só tem crescido: o boom de fraudes.

O boom de fraudes que chamou atenção do setor para a Inteligência Artificial generativa

No caso do mercado de pagamentos, a inteligência artificial generativa tem se tornado uma grande aposta para a solução do boom de fraudes. Mas o que é e de onde vem esse boom de fraudes? Com o aumento do uso de modalidades digitais de pagamentos, os fraudadores têm tornado os golpes cada vez mais sofisticados, se aproveitando da natural curva de aprendizado da população em relação a novas formas de pagar.

Um fenômeno global, o boom de fraudes ganhou destaque no Brasil pela velocidade que a digitalização dos pagamentos está acontecendo. Em setembro de 2022, as transferências via Pix ultrapassaram a significativa marca de R$ 1 trilhão. Chegando o fim do ano, dados do Banco Central mostraram crescimento de 70% nas transferências via Pix quando comparado com dezembro de 2021. O mesmo foi identificado com gastos não presenciais com cartão, ou seja, pagamentos em apps e e-commerce: a modalidade cresceu mais de 20% em 2022, movimentando R$ 700 bilhões.

Com o crescimento do uso, no entanto, também cresceram as fraudes. Em 2021, a FEBRABAN reportou aumento de 165% nos golpes contra clientes de bancos. No mesmo ano, o Índice de Confiança e Segurança Digital reportou acréscimo de 70% de ataques em pagamentos. Em 2022, o Mapa da Fraude identificou que o e-commerce do país sofreu 5,6 milhões de tentativas de fraude. Diversas soluções estão sendo desenvolvidas para minimizar esses números, mas a inteligência artificial generativa ganhou destaque nos últimos meses.

Inteligência artificial generativa como solução para o boom de fraudes?

E como ela pode resolver esse problema? Na verdade, em um primeiro momento, pode piorar: sua capacidade de reproduzir uma conversa humana pode tornar golpes de phishing e engenharia social mais sofisticados. No entanto, a inteligência artificial acaba se tornando uma excelente ferramenta justamente para identificar quando este é o caso. A primeira forma pelo qual a IA generativa pode ajudar a combater fraudes, portanto, é identificando aquelas criadas por ferramentas do mesmo tipo. Esse padrão no qual inovações são usadas para criar novas modalidades de golpe e logo depois para preveni-los é comum já ocorreu em outros momentos com outras tecnologias.

Outra forma pela qual a inteligência artificial generativa pode ajudar a resolver o boom de fraudes em pagamentos deriva da sua capacidade de processar grandes quantidades de dados e compreender a linguagem natural. Com isso, ela pode identificar e sinalizar transações potencialmente fraudulentas em tempo real, ser treinada com dados históricos de pagamentos para aprender como cartões individuais normalmente são usados e fornecer aos analistas uma visão mais clara das tendências atuais de fraude.

Outros modelos de IA poderiam exercer algumas dessas atividades mencionadas, mas a generativa ainda facilita a interação com os responsáveis por seu uso. Essa integração da inteligência artificial generativa com os times de gestão responsáveis pelo combate à fraude de pagamentos ainda traz grandes oportunidades e mostra como a tecnologia pode melhorar a produtividade e condições de trabalho em certas áreas.

A inteligência artificial pode reduzir o esforço de revisão manual, já que é possível filtrar alertas de fraude de baixa probabilidade, aumentando a eficácia do processo e direcionando a atenção e o esforço dos analistas para transações realmente suspeitas. Outra opção de uso da inteligência artificial generativa é para identificar mudanças de comportamento individuais ou em massa e as possíveis razões para tais movimentos. Tudo a partir de solicitações e perguntas relativamente simples.

A IA generativa não é uma bala de prata. Ela deve ser usada em conjunto com outras tecnologias e estratégias de segurança, além de políticas públicas e regulamentações que protejam a privacidade dos usuários.

Vale pontuar, no entanto, que a IA generativa não é uma bala de prata. Ela deve ser usada em conjunto com outras tecnologias e estratégias de segurança, além de políticas públicas e regulamentações que protejam a privacidade dos usuários. Ela pode possuir vieses e questões éticas a serem observadas e a qualidade dos resultados depende do treinamento de quem a usa, assim como da qualidade dos dados e dos inputs. Ainda assim, é uma tendência que se torne uma ferramenta importante na busca pela solução de um problema que tem perseguido o setor.

 

Bruna Cataldo é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFF.

 

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