Prevenção de fraudes de pagamento: novas regras no Reino Unido

De forma inédita, a mudança no regulamento do PSR propõe a partilha de responsabilidade pelos golpes de APP entre bancos emissores e receptores de pagamentos.
Prevenção de fraudes de pagamento: novas regras no Reino Unido atraem atenção global
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Equipe Propague
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A disseminação de golpes de pagamentos, principalmente os do tipo push autorizado, APP na sigla em inglês, causam bilhões de dólares em prejuízos em todo o mundo. Portanto, nada mais natural que reguladores e instituições financeiras sigam atentos e invistam cada vez mais na prevenção de fraudes.

Tomando como exemplo o Reino Unido, cujas regulações relacionadas ao sistema financeiro, especialmente ao de pagamentos, têm se destacado perante outras jurisdições, servindo, inclusive, de benchmarking para os demais países, vale observar as novas regras do Regulador de Sistemas de Pagamento (PSR).

Isso porque, de forma inédita, elas propõem a partilha de responsabilidade pelos golpes de APP entre bancos emissores e receptores de pagamentos, dando um passo à frente no combate e à prevenção de fraudes, atraindo, por conta disso, a atenção global.

É o que destaca Hardeep Rai, chefe de Produto, Fraude e Identidade da Feedzai, empresa norte-americana de ciência de dados, especializada em soluções de machine learning, em um artigo publicado na plataforma The Paypers.

Conforme disse, bancos em todo o mundo estão cientes da importância de combater a ameaça de fraudes e estabelecer regulamentos para responsabilização.

Consequentemente, afirma, a crescente incidência de irregularidades, combinada com a necessidade de fortalecer a confiança do público no sistema financeiro, indica como certa a aceitação desse próximo estágio de prevenção de fraudes.

O que as novas regras do PSR determinam sobre prevenção de fraudes

Na avaliação do executivo, a maior transformação que a regulamentação do PSR está fazendo para reforçar a prevenção de fraudes é justamente a promoção de uma maior colaboração entre os bancos.

Segundo ele relata em seu artigo, já existem vários grupos trabalhando para permitir que os bancos colaborem melhor e criem pontos de dados adicionais que possam ser usados para avaliar o nível de risco das contas dos beneficiários.

A saber, essa abordagem cooperativa e o compartilhamento de dados entre bancos têm o poder de agilizar a identificação e a comunicação de contas de possíveis mulas – aquelas utilizadas para viabilizar atividades irregulares -, mitigando significativamente os riscos de fraude.

Além dessa colaboração, as novas regras do PSR exigem que os bancos reembolsem os consumidores por golpes de APP, a menos que os clientes sejam “altamente negligentes”, embora o texto não identifique o que isso significa.

Como resultado, afirma Rai, pela primeira vez, observa-se que a regulação divide igualmente a responsabilidade por fraudes entre bancos emissores e receptores de fundos.

Contudo, explica, isso vai exigir que todos os bancos busquem pela unificação de seus sistemas, em vez de criar estruturas isoladas, objetivando estender as soluções de fraude de transações também para o monitoramento de pagamentos recebidos.

Ao mesmo tempo, eles ainda devem rapidamente identificar se a tecnologia atualmente adotada é adequada para acompanhar esses pagamentos e, caso contrário, identificar os ajustes que precisam ser feitos. Se bem-sucedida, Rai acredita que a iniciativa pode levar a uma maior eficiência.

Como os bancos podem se preparar para dividir responsabilidade de golpes

Apesar de o cronograma para a implementação das novas regras ainda estejam em discussão, há poucas dúvidas de que elas entrarão em vigor. Enquanto isso não acontece, orienta Rai, os bancos já podem começar a se preparar para a nova realidade de prevenção de fraudes em pagamentos recebidos.

Entre as medidas que podem ser adotadas estão:

  • Na análise de dados: entender os passivos financeiros examinando os dados. Em seguida, determinar quanto dinheiro se espera recuperar devido à divisão 50/50 no reembolso ao cliente em caso de fraudes de APP e quanto pode ter que pagar. Aliás, compreender a posição em termos de perdas por fraude e a prevalência de mulas de dinheiro pode ajudar os bancos a se preparar para o novo ambiente regulatório;
  • Nos processos e controles: avaliar se os mecanismos de risco existentes podem ser dimensionados para atender aos novos regulamentos. Além disso, considerar se há pessoal suficiente com o conjunto de habilidades certo para gerenciar alertas adicionais. É crucial antecipar que haverá um aumento nos alertas. Agora é a hora de planejar isso e implementar os processos necessários;
  • Na conformidade regulatória: certificar-se de estar preparado para cumprir as regras quando elas entrarem em vigor. A prontidão operacional é tão importante quanto ter a tecnologia certa instalada;
  • No monitoramento da movimentação de recursos: nesse sentido os bancos não devem se concentrar na detecção da entrada de dinheiro de forma autônoma. Afinal, o poder real do machine learning e dos recursos de análise avançada torna-se evidente quando os pagamentos de entrada e saída são monitorados juntos. Ao fazer isso, os bancos podem criar perfis de comportamentos típicos (e adversos) e direcionar uma detecção mais forte de contas mulas.

Consequências e desafios

Ainda de acordo com Hardeep Rai, não basta apenas olhar para a tecnologia a fim de se preparar para as novas regras de prevenção de fraudes do PSR. Também deve-se considerar o impacto social.

Segundo o especialista, embora sejam um avanço significativo, os novos regulamentos do PSR apresentam complexidades intrínsecas e desafios potenciais na prevenção de fraudes.

Isso porque, apesar de terem como objetivo proteger as vítimas de golpes, sua execução deve ser tratada com cuidado a fim de evitar a exclusão financeira de indivíduos vulneráveis.

Em seu artigo, Rai destaca que houve um aumento substancial no número de jovens que se tornaram mulas em pagamentos. Dessa forma, se isso não for devidamente tratado, poderá haver consequências terríveis para esse público.

Como exemplo, ele cita um jovem de dezenove anos que, consciente ou involuntariamente, concorda em depositar 500 libras em sua conta com a promessa de manter 100 libras. Pelas novas regras, esse indivíduo pode enfrentar uma possível exclusão financeira vitalícia por seu envolvimento em um esquema de mula. “Agora, imagine milhares de pessoas incapazes de garantir empréstimos, cartões de crédito, contas bancárias ou até mesmo empregos”, expõe.

Portanto, Rai considera fundamental que as ferramentas certas na prevenção de fraudes sejam usadas e o cuidado apropriado seja dado às decisões sobre se uma conta é mula ou não, pois as consequências de errar também podem ser enormes. “Este será o ato de equilíbrio que os bancos terão de enfrentar na luta contínua contra o aumento dos golpes”, alerta.

 

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