Com a presidência do G20 em 2024 e a realização da COP30 em 2025, o Brasil assume importante liderança nas discussões sobre a transição energética. A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo, diferente dos demais países em que 80% das emissões vêm de processos industriais. Por esse motivo o Brasil pode ser pioneiro na emissão zero nesse setor, mas para isso precisa criar mecanismos de financiamento para seus projetos. Os bancos de desenvolvimento e multilaterais serão cruciais na captação desses recursos.
Estratégias para o financiamento da transição energética
O Brasil se destaca como o país com a matriz energética mais limpa do mundo, com cerca 49,1% do total de fontes utilizadas em 2023. Apesar do bom resultado brasileiro a meta de transição energética nacional é substituir a energia “suja” e atingir 100% da matriz produzindo energia “limpa”.
Para atingir esse objetivo é crucial pensar em estratégias de financiamento. Segundo o Climate Policy Initiative (CPI), pela primeira vez os fundos de investimentos destinados às mudanças climáticas em nível mundial atingiram a casa dos trilhões de dólares, chegando a US$1,3 trilhão entre 2021 e 2022, praticamente o dobro dos valores atingidos entre 2019 e 2020. Apesar do avanço, esses fluxos representam apenas 1% do PIB mundial. Para atingir a demanda necessária por investimentos, eles teriam que crescer cinco vezes mais.
Segundo o relatório “Financing the Green Energy Transition”, da consultoria Deloitte, financiamentos concedidos por instituições multilaterais e bancos de desenvolvimento são essenciais para atrair capital privado para projetos de transição energética. Esse tipo de apoio é estimado para reduzir a necessidade de investimentos em cerca de US$ 2 trilhões por ano.
Esses bancos podem assumir maiores riscos, participando das fases iniciais dos projetos ou oferecendo recursos não reembolsáveis, o que encoraja o mercado financeiro tradicional a financiar iniciativas de baixo carbono. Sem esses financiamentos, o custo estimado para alcançar a transição energética com emissões líquidas zero seria de US$ 7 trilhões anuais até 2050. Desse valor, cerca de 70% do fluxo total seria direcionado para as economias menos desenvolvidas, com acesso limitado aos diversos tipos de financiamento.
Quais iniciativas temos para financiar a transição energética no Brasil?
O Brasil tem se empenhado em estruturar instrumentos dentro da agenda da transição energética. Os bancos públicos exercem um papel crucial na reestruturação da nossa matriz energética para torná-la mais limpa. Entre 2019 e 2023, o Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, investiu aproximadamente R$30 bilhões nos projetos destinados a energia renovável.
Esses investimentos geram um acúmulo de aprendizado ao longo do tempo, facilitando o desenvolvimento de novos tipos de financiamentos, tendo a vantagem de dispor de estruturas contratuais e de garantias conhecidas pelos financiadores.
O Governo Federal também retomou o Fundo Clima, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O intuito é obter cerca de R$ 10 bilhões para o financiamento de projetos de baixo carbono.
O PAC também prevê recursos destinados a transição energética, além dele existem os Fundos Constitucionais (FNE, FNO e FCO), que funcionando como meios de financiamento adquiridos no mercado de capitais, por exemplo, debêntures de infraestrutura e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
Outra iniciativa é o Programa de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial (Eco Invest Brasil), que visa incentivar investimentos estrangeiros em projetos de baixo carbono no Brasil e oferecer soluções para reduzir riscos de variação cambial.
A proteção cambial é particularmente relevante, dado que o setor de energias renováveis na América Latina capta altos níveis de investimentos direto estrangeiros, principalmente de organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Inter-American Development Bank (IADB). Entre 2005 e 2022, mais de 800 projetos de investimentos estrangeiros foram anunciados, somando quase US$170 milhões, com Brasil, Chile, México, Panamá e Peru como principais destinos.
Esse quadro de diversificação dos modelos de financiamento, junto a um ambiente macroeconômico mais estável e regulado, é essencial para o crescimento do número de projetos, evidenciando a interdependência entre fontes de financiamento públicas e privadas na transição energética
Tainari Taioka é assistente de pesquisa do Instituto Propague e doutoranda em economia pela USP.
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