Enquanto o mundo sente os efeitos das mudanças climáticas cada vez com mais intensidade e mais países se esforçam para reduzir as emissões de carbono visando conter a elevação da temperatura do planeta, o avanço da inteligência artificial (IA) e da criptografia acende a luz amarela quando se trata da descarbonização da economia.
O alerta vem de um artigo recém-publicado no blog do Fundo Monetário Internacional (FMI). A saber, a publicação acena para o impacto climático dessas atividades, independentemente de seus benefícios econômicos e sociais, e porque isso gera preocupação.
Segundo os autores, Shafik Hebous e Nate Vernon-Lin, respectivamente vice-chefe de divisão no Departamento de Assuntos Fiscais e economista na Divisão de Política Climática do FMI, a IA e a criptografia são grandes consumidoras de energia, contribuindo consideravelmente para as emissões de carbono na atmosfera.
Para exemplificar, eles apontam que, devido aos equipamentos altamente potentes para minerar criptomoedas, uma operação com bitcoin consome praticamente igual quantidade de energia que uma pessoa média no Paquistão ou Gana usa em três anos.
Ao mesmo tempo, as consultas do ChatGPT exigem dez vezes mais energia do que uma simples busca do Google, dada a eletricidade requerida pelos data centers de IA.
Assim, conforme estimativas baseadas em dados da Agência Internacional de Energia, os analistas assinalam que, em conjunto, a mineração de criptomoedas e os data centers geraram 2% do consumo global de eletricidade em 2022, com essa proporção devendo aumentar para quase 6% em cinco anos, ultrapassando a demanda do Japão atualmente, quinto maior usuário de energia do mundo.
Outro estudo do FMI reforça que o processo de criação de criptomoedas pode produzir 0,7% das emissões de carbono globalmente até 2027. Ao passo que os data centers podem alcançar 1,2% do total mundial.
Política tributária pode ser alternativa para redução das emissões de carbono
Diante de um cenário classificado como preocupante, Hebous e Vernon-Lin são taxativos ao afirmar que o sistema tributário pode ser um modo de fazer com que as empresas que trabalham com as atividades citadas diminuam suas emissões de carbono.
De acordo com eles, projeções do FMI indicam que tributar diretamente em US$ 0,047 cada quilowatt-hora conduziria a indústria cripto a reduzir suas emissões em consonância com os objetivos globais. Enquanto isso, levando-se em conta o impacto da poluição atmosférica na saúde, o valor de imposto se elevaria para US$ 0,089.
Essa tributação ampliaria a receita anual dos governos em todo o mundo em mais de US$ 5 bilhões e reduziria as emissões de carbono anuais em torno de 100 milhões de toneladas, ou o equivalente ao volume atual de emissões da Bélgica.
Já com relação aos data centers de IA, a tributação sobre o seu consumo de eletricidade poderia ser fixada em US$ 0,032 por quilowatt-hora, sendo de US$ 0,052 no caso dos impactos causados pela poluição do ar. Em termos monetários, a arrecadação tributária governamental poderia chegar à casa dos US$ 18 bilhões por ano.
Aqui, segundo os pesquisadores, o imposto inferior àquele definido para a criptografia se justifica porque os data centers podem estar em locais com energia mais limpa.
Entretanto, eles chamam a atenção para o fato de que a situação atualmente é o oposto, ou seja, ao invés de serem mais tributados para compensar seu volume de emissões de carbono, boa parte dos data centers de IA e os mineradores de criptomoedas recebem isenções fiscais entre outros benefícios.
Medidas de incentivo
Paralelamente à implementação de uma política tributária, os analistas do FMI também propõem como solução para diminuição das emissões de carbono provenientes da IA e da atividade criptográfica a concessão de créditos para emissão zero carbono, acordos de reciprocidade de compra de energia, bem como certificados de energia potencialmente renováveis.
Ao mesmo tempo, Hebous e Vernon-Lin acrescentam que o alinhamento entre os países também se faz necessário. Afinal, regras mais rígidas em uma determinada nação poderiam motivar a realocação das empresas para jurisdições com padrões de emissões de carbono menores.
Entretanto, afirmam, um preço coordenado entre os países por tonelada de carbono seria a melhor forma de reduzir as emissões, pois isso promoveria a diminuição do consumo de combustíveis fósseis, uma maior procura por opções de energia mais verdes e melhor eficiência energética.
Para eles, a fim de limitar o aumento da temperatura do planeta a 2 graus celsius, os formuladores de políticas precisariam adotar medidas capazes de majorar o preço da tonelada de carbono para US$ 85 até 2030.
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