Habilidades digitais do brasileiro não acompanham transformação digital da economia

Segundo estudo da Anatel, menos de 30% da população detém conhecimentos básicos, o que dificulta usufruir dos benefícios da novas tecnologias que avançam no país.
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Equipe Propague
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A digitalização dos negócios, dos serviços públicos e da economia no Brasil avança em um ritmo em que o país já se classifica, conforme o Banco Mundial, na segunda posição no ranking global em governo digital. Enquanto isso, seu sistema financeiro, capitaneado pelo Banco Central, apresenta-se como um dos mais inovadores do mundo. Contudo, o que se observa é que as habilidades digitais da população não acompanham a transformação digital em curso no país.

É o que revela um diagnóstico recentemente publicado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Apesar de figurar entre os dez maiores consumidores de criptomoedas do planeta e tendo abraçado fortemente iniciativas digitais como o Pix e serviços bancários móveis, o relatório descobriu que menos de 30% (29,9%) dos brasileiros detém habilidades digitais básicas.

Ou seja, a maior parte da população não domina atividades corriqueiras como, por exemplo, adicionar arquivos em e-mails e mensagens instantâneas, acionar comandos como copiar e colar ao utilizar editores de texto e transferir conteúdo entre diferentes dispositivos digitais, incluindo pela nuvem.

Enquanto isso, apenas 18% dos brasileiros detêm habilidades digitais intermediárias, onde, além das tarefas já citadas, aparecem, por exemplo, trabalhar com fórmulas aritméticas simples em planilhas de cálculo, instalar equipamentos com ou sem fio, baixar softwares e desenvolver apresentações eletrônicas. 

Por outro lado, somente 4% da população alcança o grau de habilidades digitais mais avançado, em que se adiciona a capacidade de elaborar programas de computador ou aplicativos para dispositivos móveis.

A saber, para poder definir os três níveis de habilidades digitais, a Anatel adotou como metodologia os padrões recomendados pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) e ainda dados da pesquisa TIC Domicílios, publicada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação.

Desigualdades sociais, econômicas e regionais refletem baixo índice de habilidades digitais

Mas o que explica o baixo índice de habilidade digitais básicas da população, apesar de o país avançar a passos largos na transformação digital? A resposta para essa questão, aponta o levantamento, reflete as desigualdades socioeconômicas e regionais que ainda persistem no Brasil.

Para entender melhor essa relação, a pesquisa levou em conta variáveis de interesse, como grau de instrução, faixa etária, nível de renda, classe social, raça ou cor, gênero e as populações das áreas urbana e rural, conforme dados da TIC Domicílios dos anos de 2022 e 2023.

Nesse sentido, o que se identificou foi que indivíduos com renda e nível de escolaridade menores possuem acesso mais limitado a dispositivos tecnológicos e, por conta disso, enfrentam mais obstáculos em utilizá-los.

Igual relação se observa quando se olha para quem vive em áreas rurais, pois apresentam menos habilidades digitais frente à população das áreas urbanas.  

Cenário que também se repete com relação a raça e gênero. Isto porque, de acordo com o levantamento, os homens apresentaram melhores resultados considerando as três categorias de habilidades digitais indicadas pela UIT. Enquanto isso, a população branca demonstrou habilidades digitais maiores ante pretos, pardos, amarelos e indígenas.

Ao passo que, quando se analisa os índices de habilidade digitais por região, as disparidades também se confirmam. Nesse contexto, o Sudeste agrega as taxas mais elevadas, vindo na sequência o Sul, o Centro-oeste, o Norte e, finalmente, o Nordeste. 

Como o Brasil se posiciona internacionalmente?

Dentre os 85 países que fornecem seus dados para a UIT, o Brasil figura na 60ª posição em habilidades digitais básicas da população, na 59ª em termos de habilidades intermediárias e na 51ª colocação quando se fala em habilidades digitais avançadas.

Por outro lado, considerando os mesmos dados divulgados pela UIT, no âmbito do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, o país aparece no 12º lugar entre as 14 nações que disponibilizam informações, com resultados inferiores, por exemplo, ao México, à Alemanha e à China. 

Levando-se em conta as habilidades digitais básicas e intermediárias da população, o Brasil está à frente somente da África do Sul, Turquia (básicas) e Rússia (intermediárias). Enquanto em termos de habilidades avançadas, o desempenho do país é superior apenas aos dois últimos países citados.

Entretanto, no cenário latino-americano, tendo em vista as dez nações com dados disponíveis na UIT, o Brasil aparece na 5ª colocação nas habilidades básicas e intermediárias, com índices inferiores à Colômbia e ao México, e acima dos registrados por Cuba e pelo Peru. 

Finalmente, nas habilidades avançadas, o país cai para o 7º lugar, registrando taxas menores do que Cuba e México.

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