Sustentabilidade em pagamentos: o que vem sendo feito e como é possível avançar

Apesar dos benefícios claros das iniciativas em curso, ainda existe uma lacuna no alinhamento nas expectativas ESG entre a indústria de pagamentos e as partes interessadas.
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Equipe Propague
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Embora os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG na sigla em inglês) tenham assumido papel estratégico no setor financeiro nos últimos anos, a sustentabilidade em pagamentos ainda tem espaço para crescer.

Em contraste com os empréstimos e financiamentos, por meio dos quais as instituições financeiras oferecem incentivos diretos para os clientes que atendam a critérios ESG específicos, o setor de pagamentos, até então, não vem adotando estratégias suficientemente orientadas para a sustentabilidade com comerciantes e consumidores.

É o que concluem Gabriel Lucas e Chaira Mekkaoui, respectivamente diretor e diretora associada da Redbridge Debt and Treasury Advisory, ao analisar as principais iniciativas e as últimas tendências relacionadas à sustentabilidade em pagamentos, conforme artigo publicado na plataforma The Paypers.

De acordo com eles, é notório como as instituições financeiras têm contribuído para o avanço da sustentabilidade em pagamentos nos últimos anos, reduzindo o consumo de recursos através da digitalização e inovação nas transações. 

Iniciativas como os cartões virtuais, por exemplo, ajudam a eliminar o desperdício de plástico, assim como as soluções de pagamentos baseadas em softwares, como o SoftPOS – solução que transforma um dispositivo móvel com tecnologia NFC em um terminal de pagamento sem contato –, eliminam a necessidade de sistemas físicos nos pontos de venda.  

Ao mesmo tempo, as plataformas de cartões digitais permitem que os emissores ofereçam uma alternativa sustentável, além de otimizar a eficiência das transações. E mais: estabelecer parcerias com data centers neutros em carbono, também ajuda a minimizar a pegada energética dos pagamentos digitais.

Porém, por outro lado, Lucas e Mekkaoui argumentam que, apesar dos benefícios claros dessas iniciativas, ainda existe uma lacuna no alinhamento nas expectativas ESG entre a indústria de pagamentos e as partes interessadas.

Como alcançar um setor de pagamentos mais sustentável?

Segundo esses especialistas, avançar na sustentabilidade em pagamentos requer esforços coordenados de várias partes interessadas, o que inclui, além de comerciantes e consumidores, reguladores e instituições financeiras.

Nesse sentido, Lucas e Mekkaoui apontam que tanto iniciativas privadas quanto políticas públicas podem promover essa transformação, incentivando empresas que priorizam a sustentabilidade em pagamentos e os valores ESG no setor.

Como exemplo, eles expõem que em regiões como a União Europeia, as regulamentações financeiras se concentram no alinhamento ESG premiando investimentos responsáveis e punindo práticas prejudiciais ao meio ambiente. No entanto, acrescentam, o setor de pagamentos permanece praticamente inalterado por essas mudanças regulatórias, com taxas de intercâmbio uniformemente limitadas em todos os setores sob as regras atuais.

Dessa forma, a avaliação que se faz é que a ausência de considerações ESG claras e transversais nessas estruturas implica em uma oportunidade perdida de estabelecer critérios comparativos robustos de sustentabilidade em pagamentos.

Consequentemente, Lucas e Mekkaoui relatam que isto tem feito com que algumas partes interessadas no setor de pagamentos questionem se as empresas que contribuem para as metas ESG não deveriam receber termos de transação mais favoráveis. Por exemplo, os comerciantes poderiam obter melhores taxas de intercâmbio ou preços se operarem sob condições que se alinhem com princípios ESG específicos. 

Por outro lado, emendam, também há indagações sobre se determinados métodos de pagamento deveriam sofrer penalidades, particularmente aqueles que promovam o consumo excessivo ou dívida excessiva. E ainda: por que não deixar alguns setores cobrarem sobretaxas quando os consumidores optarem por usar um método de pagamento com um impacto ESG pior?

Já do lado do consumidor, argumentam, as empresas poderiam incentivar os clientes a compensar a pegada de carbono de suas transações.

A estratégia do mercado de cartões

Contribuindo para esse cenário de promoção da sustentabilidade em pagamentos, vale destacar um novo estudo da Juniper Research sobre a estratégia utilizada pelo setor de cartões.

Segundo a pesquisa, o uso de materiais sustentáveis na fabricação dos cartões de pagamento vem aumentando. Com isso, espera-se que, até 2029, mais de 90% dos cartões enviados globalmente para os consumidores tenham essa característica, representando mais do que o dobro do índice registrado em 2024, que é de 40%.

Entre as matérias-primas citadas na utilização para aumento da sustentabilidade em pagamentos por meio dos cartões se destacam o PVC reciclado e o de meio biológico, assim como metal reciclado e madeira sustentável.

O que ainda desafia o avanço da sustentabilidade em pagamentos 

Contudo, apesar das estratégias citadas e das questões levantadas para aumentar a sustentabilidade em pagamentos, Lucas e Mekkaoui reconhecem que incorporar princípios ESG nos processos ainda apresenta desafios significativos, começando com a necessidade de gerenciamento consistente de dados e transparência. 

Isto porque, expõem, relatórios ESG eficazes precisam de sistemas de dados avançados, que exigem investimento substancial para rastrear e relatar com precisão os impactos ambientais e sociais, gerando métricas padronizadas de desempenho em relação aos pares do setor.

Além disso, juntamente com os investimentos tecnológicos, cultivar um compromisso com a sustentabilidade em pagamentos envolve mudanças culturais dentro das organizações. 

Nesse sentido, as empresas precisariam garantir a adesão de todos os níveis, de executivos a funcionários da linha de frente, para promover uma cultura genuinamente orientada para a sustentabilidade em pagamentos. 

Conforme Lucas e Mekkaoui, isto envolveria, inclusive, a introdução de programas de treinamento e engajamento em toda a organização, visando incorporar a sustentabilidade em pagamentos de forma definitiva, em vez de tratar a questão como uma tendência passageira.

Também não se pode esquecer, destacam, as considerações de custo, que representam um grande obstáculo para provedores de pagamento menores, que podem ter dificuldade para conciliar investimentos em sustentabilidade com lucratividade.

Portanto, eles orientam que, à medida que o setor de pagamentos avança em direção à sustentabilidade, cada parte interessada deve considerar como pode contribuir para um sistema que harmonize a lucratividade com o propósito.

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