A tokenização, uma tecnologia em crescente destaque no setor financeiro, possui o potencial de atingir US$16 trilhões em valor global até 2030, comparado aos US$1,5 trilhão projetados para 2024.
Se confirmada, a projeção é comparável a todo o Produto Interno Bruto (PIB) atual da China ou à soma dos PIBs da Alemanha, Reino Unido e Japão, colocando a tokenização como um elemento de transformação da economia global.
E mais: por apresentar vantagens competitivas únicas, o Brasil possivelmente tende a assumir papel central nessa evolução, podendo encabeçar o mercado global de tokens de ativos reais (RWA na sigla em inglês) e, consequentemente, na avaliação de alguns especialistas, se tornar o primeiro país a tokenizar a sua economia.
Esse é o cenário para o qual aponta um novo estudo, o “Relatório de Tokenização Brasil 2024”, divulgado em dezembro por meio de uma parceria entre as empresas de tecnologia Nexa e Fintrender.
De acordo com a publicação, a digitalização segue avançando intensamente, com o dinheiro, pagamentos e ativos passando a ser amplamente representados no meio virtual e, em muitos casos, se tornando a principal fonte de valor e inovação.
E é, nesse contexto, emenda, que a tokenização está ganhando tração, com foco inicialmente no dinheiro, principalmente em stablecoins e em títulos da dívida.
Contudo, isso é apenas o começo, pois, conforme o documento, uma transformação mais ampla está no horizonte, à medida que a capacidade de tokenização se expande para outros setores, em particular nos ativos RWA.
Além dos serviços financeiros e pagamentos, entre esses setores se destacam ainda o imobiliário, o de investimentos sustentáveis e responsáveis, de commodities, instrumentos de crédito público e privado, ativos colecionáveis, private equity e de ações.
Por que o país é um dos mercados mais promissores para a tokenização
Segundo o relatório, o mercado brasileiro é classificado como dinâmico e pronto para a adoção de tecnologias emergentes e inovação, posicionando-se como um dos mais favoráveis no contexto global da tokenização.
Além disso, acrescenta, o país dispõe de um ambiente regulamentar avançado, com destaque para o Marco legal das Criptomoedas, aprovado em 2022, sendo um dos seus diferenciais.
Afinal, a nova legislação institui a supervisão dos ativos digitais, dividindo a tarefa entre o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), visando a segurança dos investidores e das empresas do setor.
Enquanto isso, o Brasil também se sobressai ao contar com uma população receptiva a mudanças tecnológicas. Exemplos disso, cita, são o fato de mais de 70% dos brasileiros já terem aderido ao Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do BC; de a taxa de penetração do comércio eletrônico no país ser de quase 70% e já existirem mais de 250 milhões de contas bancárias digitais, indicando uma cultura tecnológica avançada.
Outro destaque é uma infraestrutura sólida que permite explorar tecnologias financeiras de ponta, pois além do Pix, o Brasil dispõe de um sistema de Open Finance em evolução e trabalha para lançar, em 2025, o Drex, sua moeda digital de banco central (CBDC na sigla em inglês).
Aliás, segundo a publicação, a CBDC brasileira é considerada elemento-chave para o fortalecimento do mercado de tokenização nacional, ao viabilizar operações financeiras mais complexas, incluindo a movimentação programada de ativos tokenizados.
Paralelamente, o relatório sinaliza ainda que o Brasil expõe oportunidades para o desenvolvimento do seu mercado financeiro, visto que parcela inferior a 10% da população tem investimentos na Bolsa de Valores.
E, se não bastasse, o país está na sexta colocação entre os maiores mercados globais na adoção de criptomoedas, demonstrando o interesse dos brasileiros pela inovação financeira.
Marco histórico
Além do relatório da Nexa e da Fintrender, especialistas como Michael Nicklas, sócio-diretor da Valor Capital Group, uma das principais empresas globais de capital de risco, também têm uma avaliação positiva sobre o mercado de tokenização no Brasil.
Em entrevista à plataforma de notícias The Cointelegraph, Nicklas afirmou que o Brasil tem potencial para alcançar um marco histórico, tornando-se a primeira entre as grandes economias do mundo a adotar a tokenização de forma completa, liderando internacionalmente o setor, especialmente no contexto dos tokens RWA.
Para ele, o país tem capacidade para ser um modelo para outros países em termos de eficiência e inovação financeira, com o Drex exercendo um papel fundamental no processo de atualização do ecossistema financeiro local.
Em sua análise, o executivo também destaca o avanço do arcabouço regulatório do país, além do interesse contínuo das grandes instituições financeiras na tokenização, o que tem impulsionado sua adoção tanto no Brasil quanto globalmente.
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