Desde que a pandemia de Covid-19 começou, a aceleração digital atingiu as empresas e muitas foram pegas de surpresa ao participar de uma corrida para a qual ainda não estavam preparadas. Aquelas que não estavam familiarizadas com os canais de compra e meios de pagamento digitais ficaram para trás. As que estavam devidamente habilitadas, no entanto, não ficaram sem desafios e atraíram a atenção dos fraudadores. Como resultado, as ameaças de fraude no e-commerce aumentaram como nunca, assim como as taxas de incidência. É o que aponta o Relatório de Prevenção de Fraudes no Comércio Eletrônico 2021/2022, divulgado pela The Paypers, uma das principais fontes de notícias e inteligência sobre pagamentos.
“Olhando para a realidade atual no espaço digital, podemos ver que as empresas precisam encontrar uma maneira de voltar aos níveis de taxas de fraude anteriores à Covid-19”, expõe a publicação, que reúne a opinião de especialistas em comércio eletrônico, associações da indústria, grandes players, consultores e comerciantes. Juntos, eles abordam os principais tipos de fraude no e-commerce e sugerem algumas estratégias a fim de superar as consequentes ameaças.
De acordo com o relatório, ameaças de fraudes oriundas de pagamentos em tempo real, invasões de conta, roubo de identidade e provenientes de facilidades como o “Buy Online, Pick Up in Store (BOPIS) – “Comprar Online e Retirar na Loja”, na tradução livre para o português -, estão entre as principais ocorrências. “O que é preocupante é que, mais recentemente, os fraudadores começaram a usar esses vetores simultaneamente, levando a mais problemas para empresas em todo o mundo”, alerta a publicação.
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Tendências de fraude no e-commerce
Segundo Simona Negru, editora sênior e de gerenciamento de projetos da The Paypers, “quando a pandemia começou, o que se seguiu foram meses inteiros de altos e baixos nos pagamentos digitais. Essa ruptura global deu aos fraudadores e aos hackers, o terreno perfeito para roubar mais dados, invadir mais contas e, obviamente, achar novos lugares para se esconder”. “Portanto, vemos que os cibercriminosos não apenas concentraram seus esforços para otimizar as táticas de abuso já existentes, mas também desenvolveram formas mais sofisticadas para usá-las”, afirma.
Ainda de acordo com ela, “como as pessoas foram forçadas a ficar em casa durante o isolamento social, setores como jogos e varejo registraram aumento explosivo de atividades online, bem como na taxa média de ataques móveis”. “Sites de comércio eletrônico, por exemplo, sempre foram os principais alvos de fraude ou roubo de credenciais, porém, os varejistas também estão enfrentando muitos ataques de BOT (programas de invasão de computadores), incluindo roubo de pontos em programas de fidelidade ou fraudes em cartão pré-pagos. Com o mundo reabrindo as fronteiras, os setores de viagens e hospitalidade têm sido alvos constantes de invasão de seus sistemas com foco na redução não autorizada de preços e acúmulo de estoque”, conta.
Na sua avaliação, a fim de manter a confiança dos comerciantes, a fidelização do cliente, nesse momento, é muito importante, “mas hoje em dia ela nunca foi tão frágil”. “Manter ou conquistar novos clientes não é uma tarefa fácil, especialmente quando um único ato fraudulento pode resultar em perdas de clientes, estornos de vendas, queda de receita ou danos à reputação”, fala.
Além disso, ela lembra que quando os cibercriminosos não conseguem contornar as técnicas de prevenção, eles rapidamente migram para alvos mais fáceis, perpetuando, assim, as ameaças de fraude no e-commerce. “É por isso que as empresas devem se manter atualizadas com ferramentas eficazes, de última geração e de monitoramento em tempo real, no sentido de tornar as tentativas de ataque dos fraudadores uma tarefa impossível”, recomenda.
Estatísticas e dicas prevenção
O Relatório de Prevenção de Fraudes no Comércio Eletrônico 2021/2022 faz ainda um recorte nos tipos de ameaças de fraudes mais recorrentes na atualidade, apresentando as respectivas perdas financeiras globais, entre outras estatísticas. Ao mesmo tempo, destaca algumas das melhores práticas a fim de ajudar a diminuí-las.
No caso de ataques à identidade, por exemplo, quando os fraudadores roubam as senhas dos usuários, os prejuízos globais para as empresas chegam, em média, a US$ 6 bilhões por ano, com 60% das empresas afirmando que as ocorrências impactam negativamente a experiência do consumidor com a marca. Entre as melhores formas de evitar esses tipos de ameaça, recomenda o relatório, estão reforçar a defesa nos pontos de ataques mais focados pelos cibercriminosos e solicitar suporte adicional dos fornecedores de soluções a fim de treinar as equipes de atendimento da empresa. Não se deve esquecer ainda de empregar respostas escalonáveis e adaptáveis a cada ocorrência no intuito de aumentar a pressão sobre os invasores.
Já ameaças de fraude no e-commerce a partir de ferramentas como o BOPIS, aponta a publicação, cresceram 70% em número de incidências e 58% em termos de valor com a pandemia. Assim, objetivando diminuir as ocorrências, ações como garantir a identidade de quem está comprando; reforçar a segurança na retirada dos produtos, habilitando, por exemplo, a operação somente por meio de PIN; e confirmar manualmente os pedidos, a fim de impedir transações suspeitas, são indicadas.
Outra ocorrência muito comum, destaca a publicação, é o chamado “scam”, um tipo de golpe que ocorre quando um cliente legítimo é, de forma fraudulenta, induzido a autorizar uma transação ou fazer um pagamento a alguém que não a empresa. Muitos desses golpes começam com uma tentativa de phishing em que o fraudador coleta os dados pessoais do consumidor usando marcas conhecidas para, assim, enganá-los com uma falsa sensação de segurança por meio de canais como mensagens de texto, e-mail, anúncios online ou mesmo comentários falsos.
Conforme a pesquisa, pelo menos 98% das pessoas em escala global já receberam algum tipo de mensagem contendo scam, sendo que 44% delas caíram nos golpes. Como resultado, 45% dos clientes disseram que perderam a confiança nas empresas citadas nesse tipo de mensagem. Para evitar que isso ocorra, orienta o relatório, vale contar com o uso da inteligência artificial para detectar quando um consumidor corre o risco de um golpe, procurando alertá-los. O uso da autenticação de dois fatores ou biometria também é recomendado.
Fraude no e-commerce e o cenário nacional
Segundo um levantamento de 2021 da consultoria Serasa Experian, a prevenção de fraudes surge como uma das grandes preocupações das empresas brasileiras que atuam no e-commerce. Na Pesquisa Global de Fraude e Identidade, 62% dos negócios que participaram do estudo pretendem aumentar os investimentos nessa área.
O movimento faz sentido, tendo em vista os resultados de uma outra pesquisa, da empresa antifraude Clearsale, que acompanhou mais de 152 milhões de transações digitais no primeiro semestre de 2021 em todo o país. Entre essas operações, cerca de 2,6 milhões foram identificadas como tentativas de golpe por parte de cibercriminosos. No confronto com igual período de 2020, houve acréscimo de quase 33% nas tentativas de fraude. Denominada de “Mapa da Fraude”, a pesquisa aponta que o principal motivo para esse avanço é a entrada em massa de novos consumidores no comércio eletrônico por conta da pandemia.
Ao mesmo tempo, o estudo também analisou mais de 30 milhões de transações em setores como o mercado financeiro, telecomunicações e vendas direta. Nesses grupos, foram identificadas mais de 1,1 milhão de tentativas de golpes. Vale destacar que, conforme a publicação, os principais meios utilizados para os golpes continuaram sendo o phishing, assim como outras técnicas de engenharia social, a exemplo da instalação de malware em smartphones e computadores. Entre os golpes, ganham destaque a abertura de contas, emissão de cartões, pedidos de empréstimos, desvio de equipamentos, contratação de serviços utilizando dados de terceiros entre outros.
Há ainda uma pesquisa da Vesta, plataforma de transação para compras online, mostrando que 42% dos entrevistados afirmaram ter tido alguma compra online bloqueada, recusada ou com a confirmação retardada por suspeitas de fraude. Além disso, informa ainda o levantamento, considerando o valor médio de R$ 475 dos pedidos que foram bloqueados ou negados, assim como os consumidores que eventualmente desistiram da compra durante o ano de 2020, estima-se que o valor total das vendas perdidas chegou a aproximadamente R$ 7,3 bilhões.
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