Carteiras digitais crescem em meio à transformação do cenário monetário

Para o pesquisador do Banco Central, a coexistência monetária tende a ser o caminho a seguir, com carteiras digitais contendo várias moedas, públicas ou privadas, que podem ser utilizadas de acordo com as preferências e necessidades do usuário.
Carteiras digitais crescem em meio à transformação do cenário monetário
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Equipe Propague
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Colecionando experiências bem-sucedidas internacionalmente e no Brasil, as carteiras digitais, que permitem pagamentos e transferências de dinheiro de forma eletrônica, prática e segura, têm recebido grande destaque como meio de pagamento alternativo aos tradicionais. A transformação ocorre no cenário monetário internacional, onde elas lutam por uma participação cada vez mais agressiva, principalmente após o surgimento das moedas digitais privadas.

É para o que chama a atenção o advogado e pesquisador do Banco Central do Brasil (BCB), Marcelo Prates, em artigo publicado pelo OMFIF, (sigla em inglês para Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras), um grupo independente para discussão de política econômica e investimentos. Conforme disse, esse movimento “começou lentamente com o Bitcoin, em 2008, e ganhou força com a Libra do Facebook, em 2019, tornando-se, agora, uma realidade inevitável: as moedas digitais privadas estão aqui para ficar”.

Para justificar sua linha de raciocínio, Prates destaca que até mesmo setores conservadores como os bancos centrais começaram a olhar mais seriamente para as moedas digitais. Nesse sentido, ele argumenta que as autoridades monetárias em diversas partes do mundo iniciaram um movimento em torno da emissão de uma versão digital de dinheiro soberano com o intuito de fazer frente ao avanço das moedas digitais privadas.

Pagamentos domésticos

Em seu artigo sobre as carteiras digitais e a luta empreendida no cenário monetário, o pesquisador também se debruça sobre a aplicação das formas digitais de dinheiro soberano para pagamentos nos mercados domésticos e internacional. Ao mesmo tempo, aponta em que circunstâncias as moedas digitais privadas podem representar maior concorrência.

No que diz respeito ao primeiro cenário, ou seja, para pagamentos de varejo em nível nacional, Prates defende que “as formas digitais de dinheiro soberano – notadamente depósitos bancários – não têm concorrentes fortes, mesmo que por nenhuma outra razão que não seja a praticidade”.

Como exemplo, ele cita o fato de alguém estar nos Estados Unidos, onde todos os produtos são precificados em dólares. “Então, nesse caso, seria caro, se não impossível usar libras ou euros para comprar um café”, afirma. “Portanto, é difícil para um desafiante monetário entrar no espaço doméstico para pagamentos de varejo, tornando as moedas digitais do banco central (CBDC, na sigla em inglês), um ajuste perfeito para esse espaço”, explica.

Dessa forma, Prates defende que “as CBDCs podem se tornar uma escolha valiosa de dinheiro digital e para pagamentos para pelo menos dois tipos de pessoas e empresas: aqueles que não podem pagar pelas opções privadas disponíveis (depósitos bancários, cartões, criptomoedas e stablecoins); ou que discordem das condições impostas por emissores privados de moedas digitais (uso de dados pessoais, por exemplo) e ainda preferem a opção pública”.

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Pagamentos internacionais

Já para pagamentos internacionais, Prates afirma que “as moedas soberanas perdem muito de seu apelo, mesmo se colocadas em uma blockchain”. “Com quase 200 moedas soberanas disponíveis, cada uma sujeita a diferentes regras e controles, o envio de dinheiro para o exterior envolve conversões de moedas que geralmente são demoradas, lentas e caras”, justifica.

Além disso, ele argumenta que o principal problema não é nem a falta de tecnologia capaz de tornar os pagamentos internacionais mais fáceis e rápidos, “mas a falta de coordenação política”. “É difícil trazer centenas de países à mesma mesa e pedir-lhes que cheguem a um consenso sobre qualquer coisa, muito menos sobre a regulamentação do dinheiro e das transações internacionais”, expõe.

Em contrapartida, Prates aponta o Bitcoin como um forte concorrente para os pagamentos internacionais. A justificativa para isso, diz, é que a criptomoeda “não apresenta lastro, não tem emissor e não está vinculada a nenhuma jurisdição”. “Um Bitcoin em uma carteira japonesa pode ser transferido para uma carteira norte-americana e depois para uma brasileira a qualquer momento e com custo relativamente baixo”, relata.

No entanto, emenda, a volatilidade do Bitcoin e seus desafios em relação ao dimensionamento podem fazer com que a balança pese mais a favor das stablecoins quando se fala em pagamentos internacionais. Conforme disse, além de facilitar as transferências transfronteiriças, elas podem servir como porta de entrada para o universo financeiro descentralizado, embora afirme ser difícil manter, em todos os momentos, a estabilidade de 1:1 com o dinheiro que as lastreiam, o que representa um risco de gerenciamento.

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Carteiras digitais: fragmentação monetária e competição

Face a este pano de fundo, Prates conclui ser “difícil acreditar que as moedas soberanas continuarão a desfrutar do domínio monetário que mantiveram ao longo do último século”. Nesse contexto, ele destaca o movimento dos próprios bancos centrais, das instituições financeiras, fintechs, grandes empresas de tecnologia e ainda dos entusiastas da criptografia em direção a novas ideias e tecnologias de ponta com o intuito de oferecer sua visão sobre o futuro do dinheiro. “Dessa forma, será quase impossível evitar a fragmentação monetária e a competição”, afirma.

Para o especialista, isso se coloca a partir da concepção de que “o futuro monetário trará várias moedas digitais rodando em diferentes sistemas e redes em todo o mundo”. “E nesse futuro que se aproxima rapidamente, a interoperabilidade será crucial. Construir as pontes conectando sistemas monetários e redes de pagamentos será mais importante do que projetar um aplicativo definitivo para moedas digitais ou criar a rede mestre para todos os pagamentos”, expõe.

Ainda de acordo com ele, até o momento a coexistência monetária tende a ser o caminho a seguir, “com carteiras digitais contendo várias moedas, públicas ou privadas, que podem ser perfeitamente salvas ou gastas de acordo com as preferências e necessidades do usuário”.

“Há como mudar essa realidade?”, questiona. Bem, na sua avaliação, o surgimento de uma moeda digital privada emitida por um grande banco, corporação ou tecnologia adotada globalmente para pagamentos de varejo poderá afetar esse equilíbrio, determinando, assim, um vencedor no que Prates chama de a “guerra do dinheiro”.

Entenda o que são carteiras digitais

De forma generalizada, as carteiras digitais nada mais são do que softwares ou aplicativos para computadores, smartphones entre outros dispositivos por meio dos quais o público em geral cria uma conta e através dela armazena seus dados financeiros como identidade, cartões e até moedas digitais. A partir daí, essa conta pode ser acessada para fazer pagamentos e transferências tanto em estabelecimentos físicos como virtuais que tenham o serviço habilitado.

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