Em 2023, cerca de 73% da população brasileira acessou a internet, de acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios. Mas, enquanto nas classes altas o acesso à internet é alto, ele não chega a 70% nas classes D e E. Além disso, entre os que têm acesso, 58% utilizam exclusivamente o celular.
Essa disparidade de acesso se reflete nos números alarmantes publicados pela Anatel: apenas 29,9% dos brasileiros dominam habilidades digitais básicas. Esse número acende um alerta para o sistema financeiro, pois pode comprometer o acesso da população aos produtos e serviços financeiros digitais, especialmente aqueles mais complexos, como as criptomoedas.
Baixos índices de “alfabetização digital”
Em junho de 2024, a Anatel publicou um Boletim de Diagnóstico das Habilidades Digitais no Brasil e no Mundo. Entre os resultados do estudo, destaca-se o baixo desempenho da população brasileira na avaliação.
Menos de 30% dos brasileiros demonstraram habilidade para executar tarefas digitais consideradas simples, por exemplo, anexar, copiar e colar arquivos, mover ou transferir pastas e arquivos entre dispositivos ou nuvem. Esse resultado faz com que o País ocupe a 60ª posição de um ranking de 84 países. A título de comparação, a média dos 20 países líderes em habilidades digitais básicas é de 76,3%. Além disso, menos de 18% dos brasileiros dominam tarefas consideradas intermediárias e apenas 3,4% dominam tarefas avançadas.
No âmbito do sistema financeiro, esses números podem representar um risco. Isso porque o setor vive um forte processo de digitalização, com o crescimento das fintechs, o lançamento do Pix e do Open Finance, e, também, a forte participação dos brasileiros na economia cripto. O País caiu uma posição na última edição do Índice Global de Adoção de Criptomoedas da Chainalysis, porém se manteve no top 10 global e líder absoluto na América Latina.
Cidadania financeira
De forma paralela aos riscos da inclusão financeira sem educação financeira, há riscos no aumento da digitalização sem o devido desenvolvimento das habilidades digitais. Em muitos aspectos, a digitalização facilita o acesso ao sistema financeiro, mas os produtos e serviços digitais estão se tornando cada vez mais complexos. Assim, o uso da tecnologia sem os devidos conhecimentos pode vir a comprometer a saúde financeira da população.
Quando se trata do acesso de qualidade ao sistema financeiro, o Banco Central (BC) trabalha com o conceito de cidadania financeira. Ele abarca, além da inclusão, a educação financeira, a proteção ao consumidor e a participação da população nos debates sobre o funcionamento do setor.
Dessa forma, entende-se que, mais do que o acesso puro e simples, a população precisa ter os conhecimentos específicos e o apoio institucional necessário para fazer um bom uso dos produtos e serviços financeiros. Ou seja, para um bom desenvolvimento digital do sistema financeiro, é necessário um esforço de alfabetização digital dos brasileiros.
Com uma melhora do índice de habilidades digitais básicas, espera-se que a população consiga alcançar um uso mais consciente e qualificado das novas soluções digitais que vêm dinamizando o sistema financeiro nacional nas últimas décadas, estimulando o desenvolvimento digital das finanças.