Inclusão financeira: um avanço exponencial, mas a educação ainda requer atenção

Nos últimos anos, a inclusão financeira no Brasil mais que dobrou, com um crescimento robusto no número de usuários ativos do sistema financeiro. Apesar desses avanços, a persistente deficiência na educação financeira continua a ser uma preocupação, elevando os riscos de endividamento excessivo e inadimplência.
Inclusão financeira mais que dobrou nos últimos 5 anos, mas educação financeira ainda preocupa
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Morgana Tolentino
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Segundo o novo Relatório de Economia Bancária (REB) do Banco Central do Brasil, nos últimos cinco anos o número de usuários ativos do sistema financeiro brasileiro aumentou em aproximadamente 103%, ou seja, mais do que dobrou. Esse é um resultado que reforça como as iniciativas recentes da autoridade monetária obtiveram êxito em estimular a inclusão financeira no país.

Contudo, é importante estar atento ao outro lado dessa moeda: a educação financeira. Um aumento da inclusão sem a contrapartida da educação pode trazer problemas como o alto endividamento e a alta inadimplência, resultados que podem comprometer a estabilidade do sistema financeiro. Por isso, a comemoração do aumento da inclusão deve vir acompanhada de esforços para melhorar a educação financeira do brasileiro.

Inclusão financeira: o Brasil no caminho certo

O REB 2023, publicado em junho de 2024, traz os principais resultados e análises de temas relevantes ao Sistema Financeiro Nacional referentes ao ano passado. Um dos grandes destaques desta edição foi o aumento chamativo do número de usuários ativos, uma marca de maior inclusão financeira no país.

Considera-se usuário ativo a pessoa física ou jurídica que realizou ao menos uma operação de pagamento ou de crédito ao longo dos últimos três meses. Um dos grandes marcos para o aumento considerável dessa métrica foi o lançamento do Pix e outras iniciativas de digitalização dos serviços financeiros, o que facilita o acesso ao sistema financeiro como um todo e estimula a participação de segmentos historicamente excluídos do setor.

Nesse sentido, chama a atenção, particularmente, a participação de pessoas jurídicas, incluindo microempreendedores individuais (MEIs), que registrou uma taxa de crescimento de 244,5% entre 2018 e 2023. Outro ponto de destaque é o crescimento da participação de usuários ativos no segmento de crédito, em especial no crédito digital e no aumento do uso de cartões de crédito.

Mas, se por um lado esses resultados demonstram o sucesso dos esforços do Banco Central em estimular a inclusão financeira no país, por outro acendem um alerta quanto à educação financeira.

Isso porque o Brasil carrega um histórico com relação a esse tema e o aumento da participação no sistema financeiro sem a devida capacitação pode colocar em risco a saúde financeira da população.

Educação financeira deve andar em paralelo com a inclusão

A última pesquisa global sobre educação financeira da S&P Global Finlit Survey indicou que apenas 35% dos adultos no Brasil eram financeiramente alfabetizados, colocando o país entre os 70 piores em um ranking de mais de 140 países. Além disso, pesquisas mostram que o brasileiro ainda tem dificuldade em responder sobre temas básicos como inflação, juros e risco.

Soma-se a isso indicadores de que cerca de 60% dos brasileiros não guardam dinheiro para investimento ou poupança e de que cerca de 45% não fazem controle financeiro, segundo pesquisas da Ipsos e do SPC, respectivamente.

Assim, mais do que apenas mais acesso ao sistema financeiro, a população brasileira atualmente carece de bons índices de educação financeira, cuja melhora propiciaria um melhor aproveitamento desse acesso a novos produtos e serviços financeiros e uma relação mais saudável com suas finanças.

Não à toa, o Banco Central estabeleceu novas regras para as instituições participantes do sistema financeiro nacional no que diz respeito à oferta de canais de educação financeira para seus clientes e para a população em geral. Com o regramento, a autoridade busca fomentar iniciativas educativas, aproveitando o alcance e a capilaridade das instituições financeiras do país para melhorar os resultados de letramento financeiro da população.

 

Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.

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