Um relatório recém-publicado pela PYMNTS Intelligence acende o sinal de alerta sobre como a ascensão das redes sociais mudou radicalmente a forma como as pessoas estão buscando aconselhamento financeiro, assim como o que isto representa para as instituições financeiras tradicionais.
Intitulado “Os novos desafios enfrentados pelas finanças: algoritmos, influenciadores financeiros e a busca por confiabilidade”, a publicação revela que as redes sociais se tornaram um instrumento influente nesse campo, agindo efetivamente como “pseudo-consultores” para as novas gerações ávidas por educação financeira.
Como resultado, o estudo descobriu que 79% dos indivíduos da geração Y, os chamados millennials, e da geração Z estão recorrendo às redes sociais em busca de orientação financeira.
Nesse cenário, plataformas como o TikTok se tornaram peças centrais para esse comportamento, capturando a atenção de mais de 60% dos consumidores só da geração Z, que agora enxergam essa mídia como uma ferramenta valiosa para assessoria financeira.
E é nesse contexto que surgem os “finfluencers”, influenciadores digitais que oferecem dicas financeiras, prometendo estratégias transformadoras para lidar com o dinheiro. Tanto que, indica ainda o estudo, 34% dos pertencentes à geração Z relatam serem influenciados por esse tipo de conteúdo.
Conforme a PYMNTS, essa influência pode levar à disseminação de crenças e golpes financeiros, levantando questões fundamentais sobre a credibilidade e a confiabilidade do aconselhamento financeiro disponível online.
Necessidade de regulação
Paralelamente, à medida que a busca por aconselhamento financeiro por meio das redes sociais se expande, também aumentam os pedidos de regulação em relação à atuação dos finfluencers.
De acordo com os analistas de mercado, embora entre os influenciadores financeiros existam consultores confiáveis, há também aqueles com habilidades e conhecimentos financeiros questionáveis, motivando uma apuração mais criteriosa pelos órgãos reguladores em várias jurisdições.
No Brasil, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contemplou no seu plano de supervisão baseada em riscos para 2023 e 2024, uma comissão temática para tratar sobre a crescente atuação dos influenciadores digitais na orientação financeira.
Para se ter uma ideia, dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o alcance dos finfluencers já atinge mais de 74 milhões de brasileiros.
Dessa forma, a CVM resolveu se valer de ferramentas automatizadas e de inteligência artificial para obter subsídios para decisões que eventualmente julgue necessárias. Ao mesmo tempo, a autarquia também vai agir fundamentada em reclamações, denúncias ou fatos publicamente identificados.
Outro caso de atuação dos órgãos reguladores com relação à orientação financeira veiculada nas redes sociais é visto no Reino Unido. Conforme publicado pela PYMNTS, a Autoridade de Conduta Financeira (FCA na sigla em inglês) está ativamente mirando os finfluencers, focando em promoções e consultorias financeiras enganosas para proteger os consumidores de danos potenciais.
Além da FCA, recentemente o Sebi, sigla em inglês para o órgão regulador do mercado financeiro da Índia, passou a intervir sobre a atuação dos influenciadores financeiros para reprimir ameaças ao mercado de ações e evitar que eles enganem investidores desatentos.
Bancos miram experiências personalizadas para fazer frente às redes sociais
Ainda de acordo com a PYMNTS, em resposta a esse novo cenário de orientação financeira através das redes sociais, as instituições financeiras tradicionais estão reimaginando seus papéis.
Nesse sentido, conta, os bancos estão alavancando parcerias com fintechs a fim de oferecer experiências financeiras personalizadas à sua base de clientes, afastando-se de recomendações generalizadas.
O que se vê, afirma a plataforma, é que os bancos agora estão se concentrando na inovação e no engajamento do cliente, promovendo educação financeira entre os consumidores mais jovens, municiando as famílias com habilidades essenciais de gestão do seu dinheiro e, assim, poderem recuperar a relevância e a confiança em um mercado cada vez mais influenciado pelas redes sociais.
Como reflexo, observa, cerca de 53% dos consumidores de serviços bancários de varejo dos Estados Unidos passaram a recorrer aos seus bancos para obter aconselhamento financeiro, um aumento classificado como notável na comparação com os anos anteriores.
Já quando se olha para o Brasil, vale lembrar que desde o dia 1º de julho de 2024, o Banco Central (BC) e o Conselho Monetário Nacional (CMN) estão exigindo, por meio da Resolução Conjunta número 8, que os bancos e instituições de pagamento empreendam ações sobre educação financeira para os seus clientes.
Apesar de a medida não ter relação direta com o cenário financeiro promovido pelas redes sociais, a proposta, além de prevenir problemas como o superendividamento e auxiliar na gestão dos recursos, certamente deixará os consumidores mais atentos quanto aos conteúdos financeiros disponíveis online.
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