Na tentativa de validar a meta de conter o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima da média pré-industrial até 2050, conforme estabelece o Acordo de Paris, os principais bancos multilaterais de desenvolvimento do mundo pretendem reforçar seus aportes ao financiamento climático em mais de US$ 700 bilhões nos próximos seis anos.
O valor, que equivale a uma média anual de US$ 120 bilhões, será destinado a aumentar o financiamento climático especificamente nos países mais pobres, como resultado de parte dos esforços empreendidos nas negociações globais durante a 29ª Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 29, realizada em novembro de 2024, em Baku, capital do Azerbaijão.
Segundo a agência de notícias Reuters, a cifra corresponde a um acréscimo de mais de 60% em relação ao que o grupo, formado por dez bancos multilaterais de desenvolvimento, canalizou para as nações mais pobres em 2023, conforme declaração divulgada no decorrer do evento.
Dessa meta anual de aporte para o financiamento climático, cerca de US$ 42 bilhões serão destinados para auxiliar esses países a se adaptarem aos impactos climáticos extremos, aproximadamente 70% acima do que foi desembolsado em 2023.
Com relação à iniciativa, Clare Shakya, diretora global da organização ambiental sem fins lucrativos Nature Conservancy, disse à Reuters que o financiamento dos bancos múltiplos de desenvolvimento é essencial para os países mais pobres, visto que os governos mais ricos saem em vantagem, pois geralmente conseguem acessar dívidas a custos reduzidos com mais facilidade.
Espera-se que o setor privado contribua com mais de US$ 65 bi anualmente para o financiamento climático
Ao mesmo tempo, os bancos multilaterais de desenvolvimento em questão, entre eles o Banco Mundial, o Banco Asiático de Desenvolvimento e o Banco Europeu de Investimento, afirmaram almejar que, no futuro, seus empréstimos possam trazer anualmente pelo menos US$ 65 bilhões adicionais em dinheiro do setor privado.
Nesse sentido, Nadia Calvino, mandatária do Banco Europeu de Investimento, avaliou durante o encontro que o setor privado tem se engajado no financiamento climático, à medida que ficou claro que o custo das mudanças do clima se mostrou inacessível.
Ela acrescentou ainda que, juntamente com as finanças privadas, se faz necessário mobilizar as finanças verdes e as finanças públicas para ter o máximo impacto local.
Contudo, em seu comunicado, os bancos multilaterais de desenvolvimento alertaram que sua capacidade de fazer mais em relação ao financiamento climático dependia em grande parte do comprometimento dos acionistas dos bancos de países tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, que precisam mostrar “maior ambição” em direção à transição verde.
Enquanto isso, o texto também destaca que para aumentar o financiamento climático em escala, existe a dependência dos recursos internos dos bancos multilaterais de desenvolvimento; de um maior conjunto de subsídios e fundos concessionais para ajudar a aperfeiçoar o diálogo político, custear bens públicos e estimular o financiamento privado; bem como de capital extra para desbloquear mais financiamentos dos bancos de desenvolvimento.
Custo da transição verde foi subestimado?
Apesar da promessa de os bancos multilaterais de desenvolvimento destinarem mais dinheiro para o financiamento climático, bem como o valor aplicado em títulos verdes virem crescendo ano a ano, segundo a entidade britânica Climate Bonds Initiative (CBI), o capital necessário para reduzir os impactos da crise climática global ainda está distante do ideal.
Conforme matéria publicada pelo Instituto Propague em meados de 2022, Sean Kidney, CEO da CBI, afirmou à época que seria necessário que os formuladores de políticas e instituições financeiras “mirassem” mais alto, passando a considerar como meta alcançar a quantia de US$ 5 trilhões ao ano em investimentos verdes até 2025, cerca de cinco vezes o projetado para 2022, se desejassem diminuir a lacuna de recursos financeiros até então registrada.
Recentemente, ao participar da Green Swan 2024, quarta edição de uma conferência coorganizada pelo BIS (sigla em inglês para Banco de Compensações Internacionais), bancos centrais do Japão e da Espanha e pela Rede para Esverdeamento do Sistema Financeiro, Roberto Campos Neto, então presidente do Banco Central do Brasil (BC), afirmou que existem claras evidências de que a quantia necessária para a transição verde tem sido subavaliada.
Para ele, tal afirmação se sustenta diante do crescimento exponencial dos eventos climáticos em todo o mundo. Consequentemente, disse, o financiamento climático está se revelando mais oneroso do que se imaginava, de modo que essa transição deve ser concretizada de forma articulada.
E mais: de acordo com Campos Neto, os insumos necessários para bancar todo esse processo se mostraram ser mais inelásticos do que se estimava, com a inovação para a descarbonização da economia parecendo muito mais difícil de moldar.
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