O mercado de trabalho está passando por uma transformação significativa à medida que as preocupações ambientais, sociais e de governança (ESG) se tornam cada vez mais importantes para empresas, investidores e a sociedade em geral. Com o avanço da transição energética, novas metas de descarbonização são estipuladas e novas iniciativas sustentáveis entram na agenda dos setores, o que faz com que a demanda por profissionais capacitados para atuar nos chamados empregos verdes comece a superar a oferta disponível no mercado.
Empregos verdes, que envolvem a aplicação de habilidades voltadas para a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, são aqueles que exercem funções relacionadas à redução do impacto de empresas e setores econômicos em geral, adaptando e acelerando a transição dos modelos de produção para os padrões ESG. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), essa modalidade representa os empregos do futuro por fazerem um papel fundamental no esverdeamento da economia e na garantia dos esforços globais para reduzir a emissão de carbono e mudanças climáticas.
Entre 2022 e 2023, os anúncios de emprego que exigem pelo menos uma habilidade verde cresceram cerca de 15,2%, indo contrário ao ritmo de contratação e captação de novos profissionais com outras habilidades essenciais.
Dessa forma, o LinkedIn realizou uma pesquisa com mais de 900 milhões de usuários da sua rede para identificar a tendência de crescimento por habilidades verdes no mercado de trabalho e identificou que, entre 2022 e 2023, os anúncios de emprego que exigem pelo menos uma habilidade verde cresceram cerca de 15,2%, indo contrário ao ritmo de contratação e captação de novos profissionais com outras habilidades essenciais. Além disso, sete em cada oito trabalhadores não possuem sequer uma habilidade relacionada ao meio ambiente.
Esses números mostram que, enquanto a procura por esses profissionais cresce, a disponibilidade de especialistas capacitados não acompanha a tendência. Por isso, é importante que as empresas e instituições financeiras entendam essa carência do mercado e façam esforços para expandir a capacitação de habilidades verdes e sustentáveis no mercado de trabalho.
Empregos verdes: em que áreas estão as principais oportunidades?
Considerando que a redução de carbono e a transição energética são os grandes pilares da agenda global para reduzir os efeitos das mudanças climáticas, é possível identificar um crescimento na demanda por profissionais com habilidades verdes em áreas que, historicamente, são grandes produtoras de carbono e gases poluentes, como é o caso do setor de transportes e de petróleo e gás. Graças à maior regulamentação desses setores e políticas mais restritivas sobre suas atividades, novas estratégias de produção precisam ser implementadas, o que depende da contratação de profissionais com habilidades verdes que auxiliem no processo de mudança e na conformidade com os padrões ESG exigidos.
Outro setor chave é o de energia. Ao passo que existe um movimento de migração da indústria de energia via combustíveis fósseis para a produção de energia limpa e renovável, novas oportunidades de carreira foram surgindo ao longo do tempo. O Brasil, que foi responsável por 10% dos empregos verdes no mundo em 2022, registrou a segunda posição global na oferta de empregos na área de energia limpa, registrando um crescimento significativo das indústrias de energia solar, hidrelétrica e de biocombustíveis.
O setor financeiro como chave para os novos empregos verdes
E, por fim, o setor financeiro também tem grande potencial de expansão na demanda por profissionais com habilidades verdes, já que desempenha papéis fundamentais no processo de transição sustentável, em especial o de financiar o processo e incentivar que outros setores se movimentem nessa direção, ao incluir critérios ESG na definição da alocação de recursos. De acordo com a pesquisa, inclusive, é o setor que tem projeção de crescimento de quase 15% de “profissionais verdes” por ano, apresentando o maior crescimento em meio à transição sustentável da indústria. Isso porque o setor financeiro tem um potencial de alocar recursos e financiar programas de capacitação e formação de especialistas da área, absorvendo em suas estruturas e concentrando as habilidades em suas atividades sustentáveis.
Seu papel como financiador da transição também coloca o setor financeiro como central no crescimento da disponibilidade de profissionais com habilidades verdes porque, ao atuar como elo entre os recursos financeiros e os agentes transformadores, está bem posicionado para promover – direta ou indiretamente via disponibilização de recursos – programas de capacitação e desenvolvimento de habilidades para o mercado verde que ajudem a suprir essa escassez de profissionais qualificados, incentivando que empresas e indústrias invistam na especialização de seus funcionários e se adaptem às metas de sustentabilidade global.
Em meio a um cenário desafiador no mercado de trabalho global, com muitos setores enfrentando demissões em larga escala e sofrendo com a baixa de contratações, o mercado de empregos verdes segue crescendo. Nesse contexto, investir na capacitação e orientação de profissionais para adquirirem essas habilidades não apenas pode acelerar a transição para uma economia sustentável, mas também ter um impacto positivo tanto no mercado de trabalho quanto na economia como um todo.
Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.
@instpropagueEmpregos verdes e habilidades ESG: saiba qual é o novo foco do mercado de trabalho
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