Atualmente, os esforços empreendidos em prol da sustentabilidade e o consequente esverdeamento da economia tendem a permear todos os setores e áreas de negócios. No setor financeiro, a implementação das finanças verdes tem sido a principal vertente. Já no setor produtivo, a aplicação do conceito de economia circular promete ser uma das maiores conquistas.
Diferentemente das ações focadas apenas em diminuir as emissões de gases de efeito estufa, a economia circular muda todo o processo de produção como hoje se conhece, o qual se convencionou chamar de economia linear.
A saber, seguindo todos os seus pilares, a economia circular permite economizar energia, matérias-primas, dinheiro, entre outros recursos. Como resultado, evita-se o desperdício, o descarte de resíduos e a liberação de poluentes, ajudando, por sua vez, a proteger o meio ambiente. Daí o forte apelo que ela tem para a sustentabilidade.
Ainda mais levando-se em consideração o atual volume de descarte no mundo. No caso do plástico, por exemplo, presente na maioria das cadeias produtivas, mais de oito milhões de toneladas são jogados anualmente nos oceanos, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Portanto, se nenhuma medida for tomada, a projeção da ONU é de que dentro de pouco mais de duas décadas, existirá maior quantidade de plástico no mar do que de peixes. Dessa forma, a responsabilidade recairá sobre as gerações seguintes, que terão de se esforçar mais para obter recursos naturais para que possam viver dignamente.
O que é a economia circular?
A economia circular é um modelo que enxerga sob a mesma ótica a produção e o consumo com o propósito de reduzir, reutilizar, recuperar e reciclar insumos, matérias-primas e até mesmo produtos usados, estendendo a sua vida útil.
Esse reaproveitamento visa diminuir ao máximo a demanda por recursos naturais, preservando as reservas do planeta e assegurando, desse modo, o equilíbrio de biomas e ecossistemas, sem esquecer, além das questões ambientais e econômicas, os aspectos sociais. Por isso, o conceito e a dinâmica da economia circular estão intimamente relacionados à sustentabilidade.
Sua abordagem se diferencia do processo produtivo atual, ou economia linear, visto que este tem como prática as seguintes etapas: extração, produção, consumo e descarte.
Consequentemente, o crescimento da economia nesse modelo fica dependente do uso de recursos finitos, trazendo o risco iminente de esgotamento de insumos e matérias-primas, resultando em instabilidade e insegurança quanto ao futuro.
Além disso, juntamente à utilização insustentável de recursos, ocorre também a poluição do meio ambiente, resultante da produção e descarte indiscriminado de produtos.
Portanto, a economia circular configura-se como uma estratégia valiosa para promover a sustentabilidade, desenvolvendo formas mais inteligentes de produzir e consumir.
No entanto, essa abordagem não é tão recente como se imagina. O termo economia circular surgiu pela primeira vez em 1989, por meio de um artigo assinado pelos economistas e ambientalistas David W. Pearce e R. Kerry Turner, ambos do Reino Unido.
A inspiração veio do símbolo da reciclagem, que contém três setas curvas, colocadas na forma de um triângulo no sentido horário, representando justamente um processo contínuo de produção.
Etapas da economia circular
Embora a economia circular tenha etapas em comum com a economia linear, seu modelo cíclico permite um melhor aproveitamento dos recursos produtivos, gerando menos impacto ao meio ambiente, já que há preocupação com a redução do desperdício e com o reaproveitamento de materiais.
Nesse contexto, a dinâmica da economia circular compreende, além da extração, produção (transformação e processamento) e consumo, a manutenção e reparação, a reutilização e, por fim, a reciclagem ou, se não der para reaproveitar, o tratamento para o descarte consciente.
Vantagens e desafios do modelo
Entre os principais benefícios da economia circular estão:
- Preservação de recursos naturais, pois estimula o reuso e a reciclagem de insumos e produtos de segunda mão, diminuindo a necessidade de novas matérias-primas;
- Contenção do descarte de resíduos ao promover a reciclagem e o reaproveitamento de materiais;
- Diminuição da poluição atmosférica, da água e do solo, visto que minimiza a extração de matérias-primas e o descarte;
- Geração de empregos, afinal a transição para o modelo de economia circular é capaz de criar postos de trabalho nas áreas de coleta, reciclagem, manutenção e reparo e, por sua vez, a remanufatura;
- Inovação da produção, já que na busca por formas de reutilizar e reaproveitar materiais e produtos tende a desenvolver novas tecnologias e processos; e
- Melhoria da imagem da organização, que passa a ser vista como responsável pelo bem-estar do planeta;
Contudo, para a sua adoção, a economia circular enfrenta alguns potenciais desafios, como:
- Custos iniciais, já que a transição para essa nova abordagem produtiva pode exigir investimentos em infraestrutura e na introdução de novas tecnologias;
- Resistência ao novo, comum em indivíduos e empresas que costumam ser avessos à mudança;
- Coordenação entre setores diferentes e partes interessadas, tornando complexa a implantação da economia circular; e
- Segurança e qualidade em relação aos produtos reaproveitados ou remanufaturados.
Como implementar no dia a dia?
Saindo da teoria para a prática, é importante ressaltar que não apenas as empresas, mas também as pessoas podem incorporar a economia circular no dia a dia, afinal, a abordagem coloca a produção e o consumo sob o mesmo prisma.
Dessa maneira, práticas simples como separar o que iria para o lixo e é possível de ser reciclado é o primeiro passo.
Adotar o compartilhamento de bens, principalmente os duráveis, é outra medida baseada na economia circular. Exemplo disso são os aplicativos de transporte, não só de carros, mas ainda de bicicletas e patinetes, contribuindo para diminuir os problemas de mobilidade urbana, reduzindo ainda a quantidade de veículos emitindo gás carbônico na atmosfera.
Seguir os princípios da logística reversa. Afinal, muitas empresas se responsabilizam pelo descarte adequado ou ainda a reciclagem dos materiais que vendem ao consumidor. Com isso, vale estar atento aos pontos de coletas de baterias e pilhas usadas, garrafas pet e outras embalagens.
Dar preferência a insumos reutilizáveis ou que podem ser reciclados é outra medida valiosa. Assim, como priorizar fontes de energia renováveis.
Mais uma alternativa é procurar estender a vida útil do que consome, como roupas e acessórios, os quais podem ser reaproveitados em novos ciclos mediante transformação.
Finalmente, sensibilizar a família e os amigos sobre os atuais problemas ambientais causados pela economia linear e falar das vantagens da economia circular para o bem do planeta e das gerações futuras.
Exemplos de economia circular
Existem várias iniciativas de economia circular que estão se sobressaindo no Brasil e no mundo. Um desses exemplos na indústria brasileira é a Nespresso, que criou uma solução para reaproveitar as cápsulas de alumínio para suas máquinas de café, investindo em um centro de reciclagem. Nesse processo, enquanto o alumínio é reciclado repetidamente, o pó de café vira adubo.
Já a engarrafadora da Coca-Cola no Brasil tem algumas iniciativas com abordagem similar, como a reutilização de suas garrafas de vidro e a reciclagem de garrafas PET, por meio de um centro de coleta, que funciona em parceria com catadores e cooperativas, colaborando para o devido descarte dos resíduos.
Outra iniciativa interessante de economia circular é a adotada pela CBPak, que produz copo, bandeja se outros utensílios biodegradáveis usando fécula de mandioca como insumo. Além disso, ao fim da vida útil dos produtos, eles são transformados em adubo.
A C&A também é uma empresa que implementou algumas estratégias no âmbito da economia circular, como a reciclagem de resíduos de rótulos adesivos; a criação da linha Ciclos, coleção com roupas fabricadas com algodão e outros insumos sustentáveis; assim como oferta um programa de coleta de roupas usadas para serem reutilizadas ou recicladas.
Fora do país, a varejista de móveis sueca Ikea compra itens usados da marca que os clientes não querem mais, vendendo-os em uma loja de artigos de segunda mão da marca, estendendo, assim, a vida útil de seus produtos.
A gigante de tecnologia Apple, por sua vez, adotou várias ações para tornar a produção de seus aparelhos mais sustentável, usando para isso materiais reaproveitados e energia renovável na fabricação. Nesse sentido, ela promove a devolução dos produtos por meio de um programa de reciclagem, diminuindo o descarte de eletrônicos.
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