Política climática necessita da integração dos dados para se fortalecer

Segundo pesquisadores do FMI, é preciso conectar dados climáticos confiáveis e as estatísticas macroeconômicas para compreender melhor o impacto ambiental na economia e a eficácia das ações.
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Equipe Propague
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Em meio aos esforços empreendidos pelas economias em todo o mundo para reduzir as emissões de carbono e atingir um crescimento sustentável, a qualidade e a confiabilidade dos dados relacionados ao clima, além da sua integração com as estatísticas macroeconômicas, configura-se como o caminho mais indicado para a construção de uma política climática consistente.

É o que defendem Jim Tebrake e Francien Berry, respectivamente, diretor adjunto e economista do Departamento de Estatística (STA) do Fundo monetário Internacional (FMI) e Darja Milic, economista da Divisão de Instituições Financeiras do STA.

Em artigo publicado no blog do FMI, eles sustentam sua argumentação tomando como base a estratégia do G20, grupo das 20 economias mais desenvolvidas do mundo, para melhorar o escopo e a qualidade dos dados relacionados com o clima.

Isto porque, justificam os pesquisadores, é por meio da terceira fase do que está sendo chamado de “Iniciativa sobre Lacunas de Dados”, que o G20 pretende integrar melhor os dados climáticos com as estatísticas macroeconômicas, criando métricas com base nessa relação.

De acordo com eles, ao fazer isso, será possível compreender melhor o impacto ambiental das atividades econômicas e a eficácia da política climática. Afinal, é a confiabilidade dos dados, explicam, que constitui a base para a tomada de decisões informadas, orientando o desenvolvimento, a implementação e o acompanhamento de uma política climática eficaz.

Intensidades de emissão dos gases de efeito estufa e a política climática

Em seu artigo, Tebrake, Berry e Milic destacam, especificamente, uma das métricas definidas pelo G20 no âmbito da terceira fase da “Iniciativa sobre Lacunas de Dados”: as intensidades de emissão de gases de efeito estufa.

De acordo com eles, essa estatística mede os níveis de emissão de gases poluentes em relação à produção industrial, revelando quais indústrias estão gerando mais poluentes por dólar de produção, o que pode orientar os esforços para reduzir as emissões nas áreas de maior impacto no âmbito da política climática.

Ao analisar os dados obtidos, os pesquisadores apontam reduções notáveis ​​nas intensidades de emissões nos setores agrícola e industrial, este último abrangendo as indústrias da eletricidade, de mineração e de água. 

Na sua avaliação, o cenário é encorajador, uma vez que esses setores, em conjunto, são responsáveis ​​por mais de 75% de todas as emissões do G20 e estão entre os que mais lançam gases de efeito estufa na atmosfera.

Ademais, o declínio nas intensidades de emissões desses setores, acrescentam os especialistas, sugere que fontes de energia com menores emissões de carbono, tecnologias mais limpas e melhorias na eficiência energética já estão produzindo frutos. 

No entanto, eles orientam que a fim de compreender melhor como essas dinâmicas se desenrolam em setores específicos e nas economias, ainda são necessários dados mais granulares para fortalecer a construção de uma política climática.

Até porque, afirmam, uma análise mais profunda dos dados também revela lacunas significativas e persistentes. Nesse sentido, eles identificaram que, embora mais informações estejam disponíveis por meio da iniciativa de dados do G20, a maioria das economias do grupo ainda não produz regularmente essas estatísticas ou o faz sem o necessário detalhamento setorial, dificultando a gestão e a tomada de decisões eficazes.

Em direção a uma perspectiva global

Segundo Tebrake, Berry e Milic, a intensidade de emissão de gases de efeito estufa e sua relação com as atividades econômicas é apenas uma parte da pegada de carbono de um país, visando a construção de uma política climática.

Para uma compreensão plena do progresso global, eles afirmam que é necessário levar em conta as reduções de emissões alcançadas através da transferência de atividades intensivas em poluição além-fronteiras, considerando ainda economias fora do G20.

Aliás, um dos objetivos da “Iniciativa sobre Lacunas de Dados” é expandir as pegadas de carbono para o conjunto do G20, refletindo as emissões de cada país, independentemente de onde elas ocorram fisicamente.

Conforme os pesquisadores, todo esse esforço desempenha um papel fundamental no melhor alinhamento das políticas econômicas com os objetivos sustentáveis.  Ao mesmo tempo, à medida que o trabalho avança, ele tende a melhorar a forma como os países medem e, em última análise, gerenciam a sua política climática e o seu impacto ambiental.

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