Cientes dos riscos financeiros provocados tanto pelos efeitos físicos das alterações climáticas como pela transição para uma economia zero carbono, não é de agora que bancos centrais e autoridades monetárias de todo o mundo vêm se debruçando sobre como identificar e avaliar os impactos do risco climático para a estabilidade do sistema financeiro.
A abordagem mais recente surge de uma parceria do Centro de inovação do Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês) e a Autoridade Monetária de Singapura (MAS).
Por meio do Projeto Viridis, eles desenvolveram um modelo com o objetivo de explorar a criação de uma plataforma de risco climático capaz de ajudar autoridades financeiras a detectar, analisar, monitorar e gerenciar eventuais prejuízos financeiros relacionados ao clima.
De acordo com o BIS, a iniciativa se apoia na premissa de que as informações sobre o risco climático poderiam ser obtidas inicialmente a partir de fontes de dados existentes e disponíveis.
A proposta é integrar os dados regulatórios aos dados climáticos, transcritos de relatórios de divulgação corporativa, usando técnicas de processamento de linguagem natural.
Assim sendo, acredita-se que tais referências poderão proporcionar aos reguladores um entendimento precoce de quais entidades estarão mais vulneráveis à questão e a qualquer potencial risco sistêmico a setores e geografias.
Como o modelo pretende tratar o risco climático na supervisão da estabilidade financeira
Para o BIS, o gerenciamento do risco climático e suas implicações para a estabilidade do sistema financeiro é particularmente desafiador devido à natureza complexa das alterações do clima, ao seu impacto global e às distintas estratégias de mitigação entre as jurisdições.
Desafio que também se amplia pela grande variação entre os dados e as divulgações relacionadas à sustentabilidade utilizados para analisar o risco climático, dificultando uma base consistente de comparação.
Por conta disso, tanto o Centro de inovação do BIS como a MAS apontam que a plataforma em desenvolvimento poderá representar uma resposta a esses impasses.
Ainda mais considerando que a ferramenta é modular, possibilitando, portanto, que novos avanços e o alinhamento internacional em dados e métricas climáticas possam ser integrados, enriquecendo o conhecimento.
Nesse sentido, a plataforma de risco climático proposta pelo projeto Viridis contempla diversos recursos para tratar a questão. Entre eles estão:
- Fornecimento de visões de todo o sistema bancário e financeiro e de nível de instituição financeira sobre as emissões financiadas;
- Consolidação das emissões publicadas e modeladas de entidades que são contrapartes importantes para as instituições financeiras, e ainda
- Esquematização da distribuição geográfica dos ativos das instituições para avaliar a sua exposição ao risco de transição decorrente de mudanças nas políticas de precificação de carbono e as diferentes ameaças físicas.
Dessa maneira, os desenvolvedores creem que a plataforma poderá constituir uma base para os bancos centrais e demais autoridades monetárias compreenderem suas lacunas de dados e explorarem com as instituições financeiras supervisionadas a maneira como elas podem coletar essas informações.
BC brasileiro se destaca no cenário internacional
Paralelamente a essa e outras propostas para ajudar aos reguladores nacionais a calcular e acompanhar o risco climático e seus impactos sobre o sistema financeiro, o Banco Central (BC) brasileiro vem se destacando na comparação com outras jurisdições.
Em abril desse ano, ao lançar uma consulta pública, no âmbito da Agenda BC#, a fim de coletar subsídios para aprimorar as regras de divulgação de riscos ambientais das instituições sob sua supervisão, o BC deu mais um passo em seus esforços nessa direção.
Em artigo publicado pela Agência EY, Rui Cabral, que é sócio líder da área de risco e finanças para o setor financeiro da consultoria EY no Brasil, destacou que, mediante as ações do BC, os bancos brasileiros estão sendo submetidos a uma exigência bem mais abrangente com relação às suas divulgações de sustentabilidade quando confrontados com seus pares em outros países.
Afinal, segundo sua avaliação, enquanto a mais recente consulta pública do Comitê da Basileia para Supervisão Bancária, ligado ao BIS, permaneceu restrita à introdução de um relatório abrangendo apenas riscos e estratégias climáticos, no Brasil, o BC vai além, ao também contemplar os riscos sociais nos relatórios de divulgação.
No entanto, assim como ocorre em outras jurisdições, ele aponta que aqui o maior desafio ainda é conseguir dados de qualidade.