A revolução tecnológica pela qual os serviços financeiros vêm passando ainda deve ir mais além com inovações como a inteligência artificial generativa e a blockchain. Entre as muitas tecnologias na mira do setor, a computação quântica é uma das áreas que mais está crescendo, atraindo investimentos de grandes corporações e bancos centrais em todo o mundo de olho no seu potencial.
Recentemente, ao se debruçar sobre um futuro moldado pela computação quântica, a plataforma Fintech Futures destacou que, embora essa tecnologia compartilhe algumas características mútuas com suas predecessoras, há uma série de inovações que podem ser habilitadas por meio dela que, em última análise, a diferenciarão de tudo o que se viu até então.
Portanto, não é de se espantar, expõe a publicação, que grandes bancos como o Truist Bank, Wells Fargo e HSBC e ainda reguladores como a Autoridade Monetária de Singapura e os bancos centrais da França e Alemanha, assim como o próprio Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês), estão desenvolvendo projetos visando explorar as oportunidades e possíveis avanços viabilizados pela computação quântica.
Ao mesmo tempo, há notícias de que o JPMorgan Chase e o Barclays também estão seguindo a mesma direção, passando a investir em pesquisas e no desenvolvimento de algoritmos quânticos visando aprimorar processos.
E pelo que se observa, a computação quântica vem se mostrando capaz de revolucionar as finanças de múltiplas maneiras, revertendo-se em ganhos operacionais e na solução em tempo recorde de problemas complexos, apesar de trazer consigo alguns desafios potenciais.
Computação quântica versus o método computacional clássico
Revisando a literatura sobre computação quântica, já dá para adiantar que ela transcende uma mera evolução do método computacional clássico. Isso porque, essa tecnologia assegura uma velocidade de processamento excepcional, trazendo soluções até então tidas como inalcançáveis.
Todo esse poder tem como fundamento a física quântica. Dessa forma, ao aplicar essa ciência na computação, os cientistas conseguiram reverter toda a lógica binária rígida tradicional, com o bit cedendo lugar ao qubit, cujo poder é transformador por conta de atributos quânticos como a sobreposição e o entrelaçamento.
Como sobreposição, tem-se que os bits quânticos que, diferentemente dos bits tradicionais, podem ser 0, 1 ou uma combinação de ambos, e não apenas um ou outro, e, assim, isto torna possível que os dados trafeguem com muito mais velocidade.
Já o entrelaçamento permite que as partículas (no caso da computação quântica os qubits) se conectem de tal maneira que uma partícula facilmente passa a responder às modificações das demais, potencializando o poder de processamento.
Com efeito, afirmam os especialistas, são essas características que conferem à computação quântica o poder de transferir dados de modo muito mais célere, para não dizer até mesmo instantânea em algumas situações.
Com relação a isso, em entrevista à Fintech Futures, o cientista da computação John Duigenan disse que um problema ou cálculo que pode levar 100 anos para os computadores clássicos resolverem pode levar dias ou até horas usando um computador quântico.
E mais: ainda de acordo com Duigenan, todo esse potencial ainda pode se amplificar, visto que a computação quântica tende a ser aplicada em todos os setores em conjunto com outras inovações, especialmente a inteligência artificial e o aprendizado de máquina.
Como a computação quântica favorece o setor financeiro
Estudo da consultoria McKinsey aponta que a computação quântica poderá ter um valor de mercado global de US$ 1 trilhão até 2035, com as finanças configurando-se como o setor que mais deve ser impactado positivamente por essa tecnologia, provavelmente sendo um dos primeiros a usufruir dos benefícios.
Afinal, como o setor financeiro já trabalha com cálculos complexos para analisar cenários e fazer previsões, através da computação quântica, problemas ainda mais elaborados poderão ser resolvidos em prazos infinitamente inferiores do que utilizando a computação clássica.
Enquanto isso, em se tratando de estimativas para empréstimos e financiamentos, a computação quântica garante melhor precisão nas avaliações e pontuações para concessão de crédito, por exemplo, possibilitando decisões mais bem fundamentadas.
Para além disso, a computação quântica também pode ser utilizada para gerenciar dados e a identificar golpes e fraudes, assim como situações de lavagem de dinheiro, com maior exatidão, ajudando as instituições financeiras a evitarem perdas milionárias.
Ainda entre os benefícios esperados para o setor financeiro estão a otimização de negociações, melhoria na confecção de perfis de risco, aprimoramento na recomendação de produtos, administração de carteiras de crédito e portfólios de investimentos, precificação de ativos, modelagens de riscos, previsões de crises financeiras, bem como testes de estresse.
Desafios e limitações
Apesar de a computação quântica apresentar uma ampla gama de oportunidades para o setor financeiro, por outro lado, também existem desafios e limitações para os quais se deve dedicar atenção e preparação para a chegada de um mundo quântico.
Na avaliação dos especialistas em tecnologia, a estabilidade dos qubits surge como um dos principais. De acordo com eles, os qubits são extremamente instáveis por serem sensíveis a ruídos e perturbações no ambiente, podendo comprometer os cálculos quânticos com falhas.
Além disso, a fabricação de computadores quânticos em escala e de qualidade ainda se configura como uma limitação técnica significativa. O que por sua vez, esbarra no quesito custo, dado que o desenvolvimento dessas máquinas e sua manutenção são extremamente caras, limitando um amplo acesso à inovação.
Paralelamente, o número reduzido de pessoal especializado em computação quântica também aparece como um desafio para a sua introdução generalizada no setor financeiro.
Para completar, o advento da computação quântica coloca em xeque as soluções de segurança digital como hoje se conhece. Isto se manifesta, segundo os estudiosos, porque essa nova tecnologia é capaz de romper com facilidade os algoritmos criptográficos atualmente utilizados para garantir a proteção dos dados financeiros.
Consequentemente, esse cenário levanta a necessidade de se repensar a segurança digital, criando soluções alternativas de proteção, pois somente dessa forma será possível impedir que o processamento por meio da computação quântica venha a violar a criptografia usada pelas instituições financeiras.
Desse modo, considerando que o setor financeiro é um dos mais regulados globalmente, a tendência de uma crescente absorção de quantum pelos bancos certamente levará a um grau mais elevado de monitoramento por parte das entidades reguladoras.