Fazer operações bancárias digitalmente, como pagamentos e recebimentos, está se tornando cada vez mais popular. O movimento ganhou impulso principalmente a partir de 2020, com o avanço da pandemia da Covid-19, tendo em vista as medidas de isolamento e distanciamento social. Aqui no Brasil, esse comportamento teve mais um aliado: a concessão do auxílio emergencial pelo governo federal a fim de atenuar os efeitos econômicos da crise sanitária. O processo todo digitalizado acabou por incluir milhares de pessoas no sistema bancário. Nesse contexto, produtos financeiros como a conta digital e a carteira digital passaram a estar mais presentes no dia a dia da população.
Segundo uma pesquisa da Serasa em parceria com a OpinionBox, divulgada no segundo semestre de 2021, 80% dos entrevistados já tinham ouvido falar sobre carteira digital e 63% deles disseram ter utilizado pelo menos uma delas nos seis meses anteriores.
Ao passo que um outro estudo, do Instituto Locomotiva, revelou em janeiro de 2022 que um em cada cinco brasileiros só utiliza contas digitais, sendo que 30% dessas pessoas se encontram nas classes nas classes D e E.
De fato, afirmam os especialistas, esse é um caminho sem volta. Contudo, o que se observa é que apesar da popularidade da carteira digital e da conta digital, muita gente ainda tem dúvida sobre a diferença entre elas. Além disso, ao lado da questão conceitual, há também o desconhecimento sobre como cada uma delas funciona.
O que é e como funciona a carteira digital
Embora o termo carteira digital tenha ficado mais conhecido de uns dois anos para cá, esse tipo de produto já existe desde os anos 90, quando surgiu o serviço PayPal, evoluindo para os apps que vemos hoje em dia, a exemplo dos oferecidos por gigantes da tecnologia como Google, Apple e Samsung, com Google Pay, Apple Pay e Samsung Pay, respectivamente, cada uma com suas funcionalidades.
Uma carteira digital é, na verdade, um aplicativo ou serviço que permite armazenar os dados de cartões, sejam eles de débito, de crédito ou pré-pago, e, em alguns casos, até uma certa quantia, permitindo, dessa forma, que sejam feitos pagamentos.
Seu funcionamento é muito simples. No lugar de pagar por determinado bem ou serviço usando dinheiro em espécie ou um cartão físico, o usuário realiza a transação utilizando seu smartphone ou smartwatch, com o app instalado, aproximando-o da maquininha de cartão. O pagamento também pode ser feito através da leitura de um QR Code com o celular.
Porém, para que se possa usar qualquer carteira digital, o estabelecimento comercial deve ter essa opção de pagamento. Além disso, vale lembrar que algumas dessas carteiras também funcionam para realizar transações por meio do e-commerce e não apenas em lojas físicas.
Mais recentemente, algumas carteiras digitais adicionaram serviços além de pagamentos, possibilitando transferências, recargas de celular, cartão transporte, dentre outras opções. Há ainda aqueles que permitem investimentos.
Confira também o nosso podcast sobre o avanço das carteiras digitais
Vantagens da carteira digital
Quando se fala em carteira digital, simplicidade e praticidade, certamente, são seus principais benefícios. Primeiramente, não vai ser preciso retirar a carteira física do bolso ou da bolsa para fazer o pagamento. E se, porventura, a pessoa estiver sem ela no momento da compra, seja por ter esquecido em casa ou qualquer outro motivo, não haverá problema pois os dados dos cartões estarão todos no app.
Ter uma carteira digital também implica em não ter que entregar o cartão físico para o atendente, digitar senhas na presença de alguém ou informar qualquer outro dado para que a transação seja concretizada, o que dá muito mais segurança ao processo.
Outra grande vantagem é não ter nenhum custo para o consumidor, pois os principais apps e serviços de carteira digital do mercado são gratuitos. Basta baixar no smartphone, cadastrar seus dados, cartões ou depositar alguma quantia, naquelas que permitirem essa modalidade, e começar a usar.
O que são contas digitais
Pela definição do Banco Central (BC), as contas digitais, ou contas de pagamento, são um produto financeiro equivalente a uma conta bancária tradicional, com algumas diferenças e nuances, ofertadas por meio de um app.
O que as diferencia é que as contas bancárias só podem ser oferecidas por instituições financeiras bancárias, o que faz com que os recursos depositados possam ser utilizados para intermediação financeira: crédito (empréstimos e financiamentos) ou aplicações financeiras. Contas digitais podem oferecidas por instituições de pagamentos e, nesse caso, os recursos não poderão ser usados para essa finalidade. Não há possibilidade de cheque especial nesse tipo de conta, por exemplo.
Contas digitais também são abertas e encerradas digitalmente, bem como todas as operações e movimentações ocorrem virtualmente. Assim, o modelo dispensa, por exemplo, agências físicas e caixas eletrônicos. Afinal, todo o contato é feito pela internet. Como instituições financeiras que ofertam contas bancárias tradicionais possuem exigências de oferta de agência física, quem tem esse tipo de conta tem acesso a tal forma de contato. A falta dessa exigência para instituições que ofertam contas digitais faz com que, via de regra, o atendimento seja exclusivamente eletrônico
Como as instituições de pagamento que podem oferecer a conta digital têm menos exigências e regras do que aquelas estabelecidas para os bancos, o resultado é acabarem facilitando o acesso ao sistema financeiro para mais pessoas.
Por meio de uma conta digital, além de o usuário poder realizar pagamentos, ele também terá a possibilidade de fazer depósitos, receber valores, fazer transferências, usar o Pix, pagar boletos e aplicar o seu dinheiro, diretamente do seu smartphone.
Ademais, a maioria das contas digitais disponibiliza aos clientes um cartão físico, geralmente de débito, mas que também por ter a função crédito. Há também aquelas que trabalham com cartões pré-pagos. Dessa forma, os clientes podem movimentar suas contas.
Vale destacar, ainda, que tanto pessoas físicas como pessoas jurídicas podem abrir uma conta digital. No caso das segundas, essa modalidade de conta é uma alternativa às contas em bancos tradicionais, pois seus diferenciais facilitam o cotidiano financeiro de empreendedores de diferentes portes de empresas.
Qual é a diferença principal para a carteira digital então? Ela tem como propósito principal armazenar digitalmente produtos financeiros que a pessoa já detém para facilitar o processo de pagamento: um cartão que ela tem por ter conta em algum banco, por exemplo. Já a conta digital é ela mesma um produto financeiro: a abertura de uma levaria à pessoa a ter um cartão de débito para cadastrar em sua carteira digital, por exemplo.
O que faz ambas se aproximarem no dia a dia do consumidor é que ele pode usar a carteira digital para armazenar uma quantia em dinheiro e não ter que carregar o papel. Do ponto de vista dele, portanto, a experiência pode ser bem parecida em alguns casos, como nesse de guardar dinheiro em uma instituição para usar de forma digital, mesmo as duas tendo naturezas para os operadores do sistema financeiro.
Vantagens das contas digitais em relação às contas bancárias tradicionais
A primeira delas é a burocracia menor para abertura e encerramento, assim como seus usuários não precisam se deslocar a agências físicas ou caixas eletrônicos para movimentações, demandas e soluções de problemas. Tudo é feito virtualmente e da palma da mão, por meio do smartfone, assim como de qualquer lugar.
Aliás, o fácil acesso é outra grande vantagem, pois as contas digitais também dispõem de interfaces para computadores, bastante intuitivas e fáceis de operar.
Em segundo lugar, existe o quesito economia. Isso porque, como os serviços são todos online, a maioria das contas digitais costumam não ter tarifa de manutenção e mesmo aqueles serviços para os quais são cobrados alguma taxa, os valores são menores do que os praticados pelas instituições financeiras tradicionais.
Outro benefício é o controle financeiro. Os apps de contas digitais geralmente disponibilizam aos clientes, extratos, relatórios e gráficos para que possam acompanhar suas finanças a qualquer hora e de qualquer lugar.
Finalmente, para quem é preocupado com a segurança desse tipo de conta, o Conselho Monetário Nacional publicou, em 2018, a Resolução 4658, regulamentando as operações digitais dos bancos e instituições de pagamento. Essa mesma resolução também determinou que o BC fiscalize o seu funcionamento, a fim de garantir a segurança das transações. Nesse sentido, quem opera nesse mercado teve que se adequar por meio da adoção de sólidas políticas de segurança da informação e ainda de segurança cibernética.
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