CBDCs do Brasil e de Hong Kong serão testadas em pagamentos internacionais

A cooperação entre os bancos centrais dos dois países vai investigar a tokenização em transações transfronteiriças, considerando a liquidação de “pagamento versus pagamento” e “entrega versus pagamento”.
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Equipe Propague
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O Banco Central brasileiro (BC) e a Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA na sigla em inglês) anunciaram uma iniciativa conjunta para testar a vinculação das suas CBDCs (moedas digitais de banco central) para a realização de pagamentos internacionais.

O experimento envolve o projeto piloto do Drex, a moeda digital brasileira, atualmente em sua segunda fase de testes, e o Ensemble Sandbox, que funciona como plataforma de pesquisa para a versão virtual do dólar de Hong Kong (e-KHD) e outros ativos tokenizados.

A saber, a colaboração entre o BC e a HKMA se soma aos esforços empreendidos por outros bancos centrais e por meio de projetos maiores capitaneados por autoridades monetárias globais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês) nos testes com CBDCs.

Exemplos disso são os projetos Rialto, reunindo os bancos centrais da França, Itália, Malásia e a MAS (sigla em inglês para Autoridade Monetária de Singapura); e o mBridge, que também junta a MAS, os bancos centrais da Tailândia e dos Emirados Árabes Unidos e o Instituto de Moeda Digital do Banco Popular da China. Ambos são apoiados pelo Centro de Inovações do BIS.

Na avaliação do BIS, CBDCs, infraestruturas de pagamento interligadas, assim como soluções descentralizadas podem ser consideradas boas tendências para aprimorar os pagamentos transfronteiriços.

Conforme disse, isso legitima a importância dos experimentos em curso, que podem gerar respostas que permitam avanços globais para a melhoria dos pagamentos internacionais. 

A expectativa que se tem é que, no futuro, as CBDCs venham a ser conectadas globalmente, possibilitando a implementação de uma rede interligada para tornar as transações transfronteiriças mais fáceis, rápidas, baratas e seguras. Aliás, tão simples e instantâneas quanto transferir dinheiro como hoje é feito no Brasil via Pix.

Em que consiste a colaboração envolvendo as CBDCs dos dois países

Em comunicado, a HKMA informou que a cooperação com o BC brasileiro no âmbito das CBDCs em desenvolvimento por ambos os países vai investigar a tokenização em pagamentos internacionais considerando dois casos de uso.

O primeiro deles consiste em PvP, termo em inglês usado no mercado financeiro para se referir a liquidação de “pagamento versus pagamento”. Já o segundo abrange o conceito de DvP, sigla em inglês para “entrega versus pagamento”, mecanismo que garante que os ativos somente sejam entregues após o pagamento ter sido feito, estabelecendo, dessa forma, a confiança e a eficiência nas transações e mitigando riscos associados a falhas de liquidação.

Ainda segundo o comunicado, os dois casos de uso serão aplicados em transações como o financiamento comercial e de créditos de carbono.

Vale destacar ainda que essa parceria aproxima a relação entre as duas instituições, definida por meio de acordo de cooperação, assinado em 2018, visando estimular a inovação nos serviços financeiros nos mercados brasileiro e de Hong Kong.

Volume de transações pode chegar a quase 8 bilhões em sete anos

Iniciativas bilaterais, como as do Brasil e de Hong Kong, juntamente com os grandes projetos colaborativos empreendidos pelo BIS, o FMI, entre outros, buscam conectar CBDCs de cada vez mais países e isso pode resultar em um salto no volume de transações envolvendo essas moedas digitais ao longo dos próximos oito anos.

Segundo uma recente pesquisa da Juniper Research, o número de pagamentos globais feitos usando CBDCs atingirá 7,8 bilhões até 2031, um avanço impressionante de 2.440%, quando comparado com o volume de 307 milhões de operações estimadas para o final de 2024.

Esse progresso, destaca o estudo, segue atrelado à crescente demanda por pagamentos transfronteiriços simplificados, criando assim um impulso para as CBDCs.

Ainda de acordo com a publicação, tanto as CBDCs como as stablecoins, em conjunto, poderão contribuir com uma economia da ordem de US$ 45 bilhões na realização de pagamentos internacionais no período analisado. 

O que representa uma grande ajuda, ressalta, dado os relatos recorrentes daqueles que efetuam remessas transfronteiriças e das empresas globais de cobrança, que sempre se queixam de altas taxas e da transparência limitada das transações. 

Alinhado com o que dizem outros especialistas, o autor da pesquisa, Lorien Carter, afirma que as tecnologias de pagamento emergentes, como as CBDCs e as stablecoins, vão simplificar os pagamentos internacionais, auxiliando a desenvolver a economia digital e aumentar a inclusão financeira global, reduzindo a dependência do dólar norte-americano para liquidação.

Interoperabilidade deve ser prioridade

Entretanto, para desbloquear totalmente o crescimento dos pagamentos transfronteiriços, o estudo enfatiza que a interoperabilidade entre diferentes CBDCs é primordial. 

Conforme disse, os fornecedores de CBDCs devem participar ativamente de projetos pioneiros como os conduzidos pelo BIS, o que tornará possível que eles testem sua infraestrutura e contribuam para o design de padrões de interoperabilidade multilaterais. 

“Sem essa colaboração, o ecossistema de CBDCs corre o risco de fragmentação, resultando em ilhas digitais que não conseguem perceber a eficiência dos pagamentos internacionais”, conclui.

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