Visando eliminar gargalos que ainda persistem apesar dos avanços na tecnologia digital das últimas décadas, como transações que dependem de plataformas lentas de compensação e registros físicos em papel, o Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês) lançou o que está chamando de Finternet, uma proposta para aprimorar o funcionamento do sistema financeiro global.
Segundo o BIS, essa visão de futuro contempla diversos ecossistemas financeiros interligados entre si, seguindo a mesma lógica da internet.
Ao mesmo tempo, capacita indivíduos e empresas, a fim de colocá-los no centro de suas vidas financeiras, ajudando-os a gerir o risco, a salvaguardar suas poupanças e a investir melhor.
Porém, para que isso se torne realidade, o regulador defende que a Finternet precisa estar apoiada em livros-razão unificados, porque, atualmente, essa é a única tecnologia capaz de cumprir os requisitos necessários.
Baseada em uma abordagem que prioriza o digital e que aproveita a tokenização, com a Finternet será possível melhorar as transações financeiras existentes, mas também criar produtos e operações inteiramente novas.
A agilidade é o principal resultado, porque serão reunidos ativos financeiros de vários mercados, mediante objetos executáveis na mesma plataforma, garantindo, ainda, a conformidade e a privacidade dos usuários.
Além disso, essa flexibilidade também ofereceria vantagens em relação às transações digitais presentes em outros sistemas.
As bases para a Finternet
Em seu relatório, o BIS também traz um modelo objetivando orientar os decisores políticos interessados em traduzir essa visão em realidade.
Nesse sentido, começa identificando três componentes necessários. Primeiramente, uma arquitetura econômica e financeira eficiente, em segundo lugar, a aplicação de tecnologia digital de ponta e, por fim, um quadro jurídico e de governança robusto.
Já entre as principais características técnicas da Finternet, destaca a interoperabilidade, verificabilidade, programabilidade, imutabilidade, finalidade, capacidade de evolução, modularidade, escalabilidade, segurança e privacidade do sistema.
Contudo, para a concretização dessa proposta, a instituição assinala a necessidade de colaboração proativa entre as autoridades públicas e as instituições do setor privado.
Só assim seria possível estabelecer uma base sólida para abrir caminho para um ecossistema financeiro centrado no utilizador, unificado e universal, trazido para a era digital, que seja inclusivo, inovador, participativo, acessível e econômico.
Na avaliação do BIS, transformar a Finternet em realidade requer experimentação, o que permitirá obter a medida exata dos desafios e as melhores estratégias para superá-los.
Por isso, o BIS comemora o fato de muitos bancos centrais, focados em aprimorar os sistemas financeiros de seus respectivos países, já estarem empenhados nessa tarefa. Como exemplo, cita o ecossistema em desenvolvimento da moeda digital brasileira, o Drex.
Nesse sentido, destaca o pioneirismo e as lições oriundas do Drex e de outros projetos em curso, importantes para a concretização e a visão partilhada de um futuro financeiro mais eficiente, transparente e inclusivo.
Como o Drex abre caminho para essa nova realidade
De acordo com o BIS, o Drex talvez seja a iniciativa mais avançada para tornar realidade o uso de livros-razão unificados, assim como propõe para a Finternet.
Entretanto, não é a única. Há outros exemplos em curso como os projetos do Banco da Coreia, da Autoridade Monetária de Singapura e dos sete bancos centrais que se uniram recentemente ao Centro de Inovação do BIS no Projeto Agorá.
Porém, ao mencionar o Drex, o relatório destaca que o ecossistema financeiro em desenvolvimento no Brasil se consolida ao permitir que diferentes ativos, como CBDCs (sigla em inglês para moeda digital de banco central) no atacado, dinheiro eletrônico, depósitos e títulos do tesouro tokenizados coexistam no mesmo local.
Além disso, mediante o Lift Challenge, iniciativa que marcou a fase inicial do projeto, o Banco Central do Brasil permitiu diversos casos de uso selecionados propostos por bancos, instituições de pagamento e outros participantes do mercado.
Esses experimentos contemplam tecnologias como a programabilidade da moeda, tanto para a entrega versus pagamento (DvP na sigla em inglês) como para pagamento versus pagamento (PvP) e ainda a internet das coisas (IoT), finanças descentralizadas (DeFi), entre outros.
Como resultado, o BIS acredita que o projeto do Drex certamente trará respostas para tornar mais próxima a visão de futuro do sistema financeiro vislumbrada por meio da Finternet.