Para muita gente, digitar a senha nas maquininhas de cartão já é coisa do passado. Além de conveniente e rápido, o pagamento por aproximação ganhou um incentivo a mais com a pandemia do novo coronavírus: a ausência de contato físico. Nesse sentido, os números não deixam mentir. Diversos estudos confirmam o comportamento observado nos caixas dos estabelecimentos comerciais.
Para começar, um novo relatório da Juniper Research, empresa especializada em fornecer pesquisas de mercado e business Intelligence (metodologia que transforma dados aleatórios em informações valiosas para as empresas), aponta que os valores de transações globais com cartão por aproximação chegarão a US$ 2,5 trilhões em 2021. Um salto que equivalerá a quase 50% (47%) até 2020, quando foram contabilizados US$ 1,7 trilhão.
Este ano, ainda de acordo com o estudo, os cartões contactless (sem contato, traduzindo para o português) deverão continuar mantendo a participação majoritária dos valores gerais de pagamentos por aproximação. A projeção é de que atinja 79%. Nessa direção, expõe o documento, a pandemia acelerou significativamente uma tendência existente de uso de cartão sem contato, e esses aumentos de valor deverão se repetir nos anos que seguem.
“A combinação de emissão e uso acelerados de cartões durante a pandemia com uma série de aumentos do limite de transação global desbloquearam um potencial de crescimento significativo para o pagamento por aproximação, mudando fundamentalmente o paradigma de pagamentos”, conclui o relatório “Pagamentos sem contato: Tendências, Oportunidades e Previsões de Mercado 2021-2026”, da Juniper Research.
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Tendências globais do pagamento por aproximação
Segundo outro estudo, de autoria da Mastercard, 89% dos europeus consideram o cartão contactless fácil de usar e quase metade (42%) admite ter reduzido a utilização de dinheiro em espécie do ano passado para cá. A propósito, a maioria (73%) também é da opinião que o fim da pandemia não alterará o hábito de utilização do pagamento por aproximação. Assim como 64% afirmaram que está é a sua forma preferida de pagar as compras.
Ao mesmo tempo, além de possibilitar que 42 países, em todo o mundo, aumentem os limites de gastos mediante o pagamento por aproximação, mais recentemente, aMastercard também comunicou que deixará de emitir cartões de crédito e débito com tarja magnética até 2029. A expectativa, conforme a empresa, é de que não haja mais nenhum cartão da marca com esse recurso até 2033, apenas com chip. O movimento foi impulsionado pela maior aceitação dos cartões com chip e dos pagamentos contactless.
“A tarja magnética começará a desaparecer em 2024 nos cartões de pagamento Mastercard em regiões como a Europa, onde os cartões com chip já são amplamente utilizados. Os bancos nos EUA não serão mais obrigados a emitir cartões com chip e com tarja magnética a partir de 2027”, afirmou a companhia em comunicado global no dia 17 de agosto de 2021.
A Visa, outra bandeira de cartões, também aposta na expansão do uso do cartão por aproximação. Para Rubén Salazar Genovez, vice-presidente sênior de Produtos e Inovação da Visa para a América Latina e Caribe, os pagamentos sem contato continuarão ganhando espaço entre consumidores, estabelecimentos comerciais e emissores de todo o mundo.
“Na Austrália, por exemplo, quase 90% das transações de pagamento presenciais ocorrem via tecnologia sem contato. O sistema de transporte de Londres, por sua vez, trabalha com essa tecnologia e o governo da Costa Rica está adotando a tecnologia sem contato para aumentar a aceitação dos pagamentos eletrônicos. O contactless pode dinamizar também os pagamentos na América Latina e no Caribe, trazendo benefícios reais para todo o ecossistema.”, disse em comunicado.
Pagamentos por aproximação ganham força na América Latina
Em se tratando de América latina e Caribe, há pouco tempo a Visa anunciou um novo marco para suas soluções digitais na região. Em junho de 2021, a empresa registrou um índice de adoção de 25% para pagamentos por aproximação com credenciais Visa no continente, o que significa que uma em quatro transações presenciais já é por aproximação.
Além disso, cinco países ultrapassaram a marca de 50% de adoção: Chile, Costa Rica, Panamá, Guatemala e Bermuda. Enquanto mercados como Peru e Colômbia seguem pelo mesmo caminho, com mais de 40% de penetração para esse tipo de pagamento.
De acordo com a empresa, a preferência do consumidor se deve, sem dúvidas, ao fato de o pagamento por aproximação proporcionar uma experiência rápida, prática e segura, diminuindo a necessidade de contato com terminais de pagamento.
O cenário do pagamento por aproximação no Brasil
No âmbito do Brasil, de acordo com a Visa, as transações por aproximação também continuam em alta. Nos últimos 12 meses, considerando o período de junho de 2020 a igual mês de 2021, o uso dessa forma de pagamento cresceu cinco vezes mais, representando 14% de penetração entre todos os pagamentos com a bandeira.
A maior penetração foi no Distrito Federal, que alcançou a marca de 32% em junho deste ano, versus 9,7% há 12 meses, seguido por Santa Catarina (22,7% ante 4,8%), Paraná (18,8% versus 3,7%), Mato Grosso (18,7% versus 3,4%) e São Paulo (17,5% ante 3,4%).
Já, os segmentos que se destacaram com maior número de transações por aproximação no intervalo avaliado foram: fast food, restaurantes, padarias, lojas de conveniência, supermercados e postos de gasolina, nesta ordem.
Entretanto, quando se olha para o mercado de cartões como um todo, no segundo trimestre de 2021, o pagamento por aproximação cresceu 694%, somando R$ 34,4 bilhões. É o que informa a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (Abecs). Otipo de cartão mais usado nessa função foi o cartão de crédito, com R$ 19 bilhões, seguido pelo cartão de débito, com R$ 10,6 bilhões, e pelo cartão pré-pago, com R$ 4,8 bilhões.
Porém, considerando o acumulado no primeiro semestre do ano, foram R$ 53 bilhões movimentados na modalidade de pagamento por aproximação. Assim, o crescimento foi de 540,7%, em comparação com igual período de 2020. De janeiro a junho de 2021, por modalidade, o cartão de crédito registrou R$ 30,1 bilhões, o cartão de débito, R$ 15,7 bilhões, e o cartão pré-pago, R$ 7,1 bilhões no pagamento sem contato.
Além da conveniência e agilidade, outro fator impulsionador do cartão por aproximação no Brasil, afirma a Abecs, foi o aumento do limite de transações. No fim de 2020, foi estabelecido um novo teto para esse tipo de operação, que passou de R$ 100 para R$ 200.
Cartão por aproximação versus carteiras digitais
Na competição entre os métodos de pagamento do consumidor, o cartão contactless também leva vantagem na comparação com as carteiras digitais (disponíveis nos smartphones), que também permitem pagamentos por aproximação. É o que revela uma outra pesquisa, desta vez da PYMNTS. Segundo a empresa, “quanto mais os portadores de cartão pagam por compras com a tecnologia sem contato, menos usam as suas carteiras móveis”.
O estudo revela que o uso de compartilhamento de cartão de crédito sem contato, cartão de débito e cartão de loja dobrou de 2020 para cá. Ao mesmo tempo, o número de consumidores que relatam usar seu cartão para fazer uma compra presencial nas últimas 24 horas saltou de 4,6% em 2020 para 10,8% em 2021.
Em contraste, a proporção de consumidores que afirmaram usar uma carteira móvel diminuiu. Valendo-se da mesma métrica das 24 horas anteriores, o percentual de usuários entrevistados pela PYMNTS que disse ter feito uma transação com sua carteira digital nas últimas 24 horas saiu de 5,1% em 2020 para 4,5% este ano.
De acordo com o estudo, conveniência, velocidade e segurança foram os principais motivos para o uso da tecnologia sem contato entre os consumidores de todas as gerações. Conforme disseram, eles só não usam a facilidade quando ela não está disponível ou não é compatível na hora de quitar as suas compras.
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Tecnologia NFC: como se dá o pagamento por aproximação
O pagamento por aproximação é um recurso disponível na maioria dos cartões de crédito e débito na atualidade. A modalidade permite que o usuário faça o pagamento de produtos ou serviços, sem inserir o cartão na máquina. Apenas aproximando o cartão, a uma distância máxima de 10 centímetros, desde que haja suporte para essa funcionalidade.
Isso é possível por meio da tecnologia NFC (Near Field Communication, na sigla em inglês), cuja introdução, por meio de outras aplicações que não os pagamentos, começou ainda no início dos anos 2000. Em tradução literal para o português NFC seria algo como comunicação por campo de proximidade. Ela se difere de outras tecnologias como o Bluetooth e Wi-Fi, pois a transmissão dos dados se dá por meio de ondas magnéticas. Dessa forma, o pagamento é viabilizado sem a necessidade de inserir a senha.
Mais recentemente, os fabricantes de smartphones começaram a implementar o NFC em seus dispositivos e, agora, também já o vemos implementados em acessórios como relógios inteligentes e pulseiras.
Desafios para expansão do pagamento sem contato
Para os especialistas no assunto, o maior desafio na implantação do pagamento por aproximação é educar as pessoas para a tecnologia e mudar comportamentos e hábitos antigos do consumidor. Nesse sentido, orientam, é necessário produzir materiais informativos que demonstrem como a tecnologia é segura e prática, sendo ainda importante treinar os varejistas para usar a tecnologia NFC.
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