A edição 2024 do relatório sobre fintechs, da consultoria Distrito, traz resultados animadores para as startups financeiras na América Latina, especialmente para as fintechs brasileiras.
Segundo a publicação, nos últimos dez anos, de 2014 ao primeiro semestre de 2024, as fintechs latino-americanas foram contempladas com quase US$ 16 bilhões em investimentos —US$ 15,6 bilhões.
Desse montante, as brasileiras foram as mais beneficiadas, concentrando aproximadamente 67% — US$ 10,45 bilhões —, dos aportes feitos no período nas empresas do gênero em toda a região.
O ano que registrou o maior volume de captação foi 2021, por conta do distanciamento social imposto pela pandemia, acelerando a digitalização dos serviços financeiros. À época, as fintechs latino-americanas conquistaram US$ 5,7 bilhões em investimentos, por meio de 363 rodadas.
Ao passo que 2019 foi o ano que registrou a abertura de mais startups financeiras no continente, contabilizando 298 novas fintechs, o que deixou o setor com 2.214 empresas operantes no segmento naquele ano.
Atualmente, destaca o relatório, existem 2.712 startups financeiras em operação na América Latina, com a maior fatia localizada no Brasil, quase 59%, o que equivale a 1.600 fintechs. Na segunda posição vem o México, com 21% das empresas — 570 unidades.
Ao apresentar o relatório, Gustavo Gierun, CEO e cofundador da consultoria Distrito, comemorou o feito afirmando que o mercado latino-americano de fintechs se revelou forte, inovativo e resiliente frente aos desafios econômicos globais dos últimos anos.
Nesse contexto, pontuou, as fintechs estão encabeçando a transformação digital do setor financeiro com serviços financeiros mais acessíveis a todos, o que contribui para a inclusão financeira não só no Brasil, mas em todos os países da América Latina.
Conforme disse, quando se compara os primeiros seis meses de 2024 com igual período de 2023, verifica-se um salto de 75% nos investimentos.
Serviços digitais recebem mais aportes
Entre as fintechs, quem mais captou recursos na América Latina foi o segmento de serviços digitais, como carteiras, contas e bancos digitais, recebendo pouco mais de US$ 5 bilhões. Entretanto, o que tem o maior número de fintechs é o segmento de crédito, somando 477 empresas.
Porém, olhando especificamente para o Brasil, a consultoria Distrito observa algumas movimentações em curso no setor financeiro, capazes de proporcionar um ambiente oportuno para as fintechs nacionais, que, assim, poderão criar e lançar mais soluções no mercado.
Nesse cenário, expõe, o Banco Central brasileiro (BC) surge como o principal catalisador desse processo. Afinal, iniciativas a exemplo das novas funcionalidades previstas para o Pix e o Drex, a moeda digital do BC, o avanço do Open Finance e uma provável regulação para soluções de BaaS (sigla em inglês para Banco como Serviço) estão impulsionando muitos projetos das fintechs operantes no país.
Receitas também crescem entre as fintechs
Ainda de acordo com o relatório da Distrito, embora o volume de investimentos nas fintechs latino-americanas tenha sido expressivo no período analisado, a partir de 2022 até o primeiro semestre de 2024, os aportes diminuíram consideravelmente, resultando no que o mercado batizou de “inverno das startups”.
Porém, em contrapartida, de 2021 a 2023, as receitas das fintechs cresceram consideravelmente em todo o mundo, sendo o avanço ainda mais significativo na América Latina, segundo um outro estudo, desta vez assinado pelo Boston Consulting Group e pelo QED Investors, um fundo global de venture capital.
Intitulada Global Fintech 2024: Prudence, Profits, and Growth (Global Fintech 2024: Prudência, Lucros e Crescimento na tradução direta), a publicação sinaliza que, somadas, as receitas das fintechs públicas e privadas registraram, na média global, uma taxa de crescimento anual composta da ordem de 14% no período— índice alcança 56% no continente latino-americano.
Ademais, com bilhões de indivíduos ainda sem conta bancária em todo o mundo e com o advento de uma série de tecnologias emergentes, a exemplo da inteligência artificial generativa, as fintechs têm um vasto potencial de crescimento.
Conforme a publicação, espera-se que as startups financeiras alcancem globalmente um volume de receita da ordem de US$ 1,5 trilhão até 2030, representando um salto de aproximadamente cinco vezes em relação ao contabilizado atualmente.
Ao lado da inteligência artificial generativa, diz ainda o relatório, o desenvolvimento do Open Finance e uma maior adoção das finanças incorporadas por setores não-financeiros, principalmente pelo varejo, também devem ajudar a consolidar as startups financeiras, resultando em um novo ecossistema de fintechs daqui por diante.
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