À medida que a inteligência artificial é cada vez mais aplicada no mercado financeiro, ela segue sendo analisada em relação ao que entrega. Um exemplo disso é um artigo recentemente publicado no blog do Fundo Monetário Internacional (FMI), onde os autores avaliam em que sua aplicação pode resultar.
Saiba o que é inteligência artificial e como ela se aplica ao setor financeiro clicando aqui.
De acordo com Nassira Abbas, Charles Cohen, Dirk Jan Grolleman e Benjamin Mosk, respectivamente, vice-chefe, consultor e especialistas sêniores do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, a adoção da inteligência artificial pode gerar incrementos de administração de riscos e ampliar da liquidez, mas, ao mesmo tempo, também pode tornar os mercados mais difíceis de acompanhar, mais vulneráveis a golpes e sensíveis a ataques cibernéticos.
Nesse sentido, eles destacam o novo Relatório Global de Estabilidade Financeira do FMI, por meio do qual a equipe conduziu uma ampla investigação com as partes interessadas – de investidores a provedores de tecnologia e reguladores de mercado – a fim de mostrar como as instituições financeiras estão aproveitando os avanços da inteligência artificial e o impacto de sua adoção.
O que se descobriu é que os algoritmos de negociação automatizados ajudam os mercados a se movimentarem quase que instantaneamente e a processar grandes volumes de transações de forma mais eficiente nas principais classes de ativos. Entretanto, há temores de que eles possam desestabilizar os mercados em momentos de estresse e incertezas severas.
Em outras palavras, eles explicam que, dada essa velocidade de negociação, a inteligência artificial pode contribuir para eventos de “flash crash”. Esse termo em inglês é usado para denominar a ocorrência de uma retirada de ordens de ações, ampliando de forma considerável e rápida a volatilidade de preços dos títulos, que podem reagir aceleradamente em um mercado impulsionado por essa tecnologia.
Inovações e implicações da inteligência artificial estão apenas começando
Ainda de acordo com Abbas, Cohen, Grolleman e Mosk, as transformações nos mercados financeiros causadas pelo uso da inteligência artificial estão apenas no início.
A saber, apontam, os pedidos de patentes são uma boa maneira de entender esse movimento, visto que geralmente decorre um longo prazo entre as solicitações e a tecnologia real pronta para produção.
Segundo eles, desde que os grandes modelos de linguagem começaram a aparecer, em 2017, a participação do conteúdo de inteligência artificial em pedidos de patentes relacionados à negociação algorítmica aumentou de 19% para mais de 50% a cada ano desde 2020, sugerindo que uma onda de inovação está chegando nessa área.
Desse modo, afirmam, esses novos desenvolvimentos provavelmente expandirão a capacidade da inteligência artificial de ajustar-se rapidamente às carteiras de investimento, o que, assim, levará a volumes maiores de negociação.
Nesse contexto, eles falam que a pesquisa revelou que os participantes do mercado concordam que a negociação de alta frequência, orientada por essa tecnologia, deve se tornar mais prevalente, particularmente em classes de ativos líquidos como títulos do governo, ações e derivativos listados.
Como consequência, a previsão que se faz é de que, dentro de três a cinco anos, haja uma maior incorporação da inteligência artificial nas decisões de investimento e nas negociações, apesar da persistência de uma abordagem que inclua seres humanos, especialmente para grandes decisões de alocação de capital.
Como os reguladores devem se preparar?
Em sua análise, Abbas, Cohen, Grolleman e Mosk também falam sobre como as autoridades monetárias e supervisores devem estar atentos para esse novo mundo, decorrente da aplicação da inteligência artificial nos mercados financeiros.
Conforme dizem, a inteligência artificial pode levar a uma maior migração de investimentos para intermediários financeiros não bancários, o que tornaria os mercados menos transparentes e mais difíceis de acompanhar.
Nesse contexto, avaliam, os não bancos têm uma vantagem estrutural na adoção da tecnologia, pois as instituições não bancárias são geralmente mais ágeis e sujeitas a menos restrições regulatórias do que grandes bancos comerciais e de investimento, que geralmente devem lidar com infraestrutura legada e podem estar sujeitos a requisitos mais rigorosos, incluindo garantir o entendimento de modelos complexos de inteligência artificial.
Dessa maneira, em um mercado de reação mais rápida, onde os não bancos podem continuar a ganhar importância, a equipe do FMI aponta que vários aspectos da regulamentação e supervisão em áreas relacionadas à inteligência artificial devem ser aprimorados.
Entre esses aspectos, eles destacam a criação de instrumentos de resposta à volatilidade — ou alterar os já existentes adequadamente — para lidar com eventos de “flash crash” potencialmente oriundos de negociações conduzidas pela tecnologia.
Além disso, deve-se aumentar o comprometimento dos intermediários financeiros não bancários, requisitando divulgação de pesquisas e outras informações importantes sobre inteligência artificial.
Só assim, concluem, será possível criar a base para uma resposta regulatória oportuna e equilibrada que pode permitir que participantes do setor financeiro se beneficiem da inteligência artificial enquanto mitigam seus riscos.
Veja também:
Inteligência artificial no setor financeiro traz oportunidades e desafios
Singapura busca o futuro da tecnologia e do sistema financeiro na Inteligência Artificial
Inteligência Artificial em alta no mercado financeiro da Coreia do Sul
Desafios macroeconômicos que a inteligência artificial apresenta