O Open Banking no Brasil começou este ano, mas já está funcionando no Reino Unido desde 2018.
No seu relatório anual, a Open Banking Implementation Entity (OBIE), responsável pela implementação do sistema no Reino Unido, divulgou que em 2020 os serviços facilitados pelo compartilhamento de dados do Open Banking atingiram 3 milhões de usuários, entre consumidores e pequenas e médias empresas.
A crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19 forçou pessoas físicas e jurídicas a buscarem soluções para melhorar a gestão financeira e o acesso a crédito, impulsionando a adesão a novos serviços financeiros possibilitados pelo Open Banking.
Em janeiro deste ano, havia 299 participantes regulados pela autoridade britânica, a Competition and Markets Authority (CMA), sendo 219 provedores de serviços e 80 instituições provedoras de contas, entre bancos e outras instituições financeiras.
Número de propostas na Open Banking App Store por função (2018 – 2020)
Fonte: OBIE Annual Report 2020.
Open Banking – facilitando a gestão de finanças pessoais
Segundo o relatório anual da OBIE, os negócios habilitados pelo Open Banking voltados para consumidores se concentram em ferramentas de gestão de finanças pessoais (33%) e em agregadores de contas bancárias (19%), seguidos por comparações de produtos (8%) e ferramentas para facilitar a solicitação de empréstimos (7%) e o investimento das economias no dia a dia (7%).
A pesquisa Nesta Challenge revelou que, em meio à pandemia, 38% dos consumidores britânicos desejava um aconselhamento personalizado para melhorar a gestão do seu dinheiro. Dentre aqueles que já utilizavam algum serviço viabilizado pelo Open Banking, 82% sentiu melhorias na gestão do seu dinheiro.
No Brasil, o compartilhamento de dados transacionais de clientes habilitará provedores de serviços financeiros a desenvolverem soluções similares às britânicas. Na verdade, a disputa pelo compartilhamento de dados dos clientes entre um banco e uma fintech de um app agregador de contas chegou ao CADE e é um dos antecedentes do Open Banking no Brasil. A partir da segunda fase do Open Banking, em julho de 2021, os bancos e outras instituições que oferecem contas deverão disponibilizar por APIs os dados transacionais dos clientes que optarem por utilizar serviços como os citados acima.
Pequenos negócios mais resilientes graças ao Open Banking
A oferta de soluções do Open Banking para pequenas e médias empresas (PMEs) se divide entre ferramentas de gestão financeira, pagamentos digitais, crédito e identificação dos consumidores no e-commerce.
As ferramentas para gestão financeira são as principais na loja de aplicativos do Open Banking para PME, conforme indica o relatório da OBIE:
- 23% dos apps são especializados em gestão financeira para PMEs;
- 16% são apps de contabilidade;
- 16% são voltados à gestão e previsão de fluxo de caixa.
A entidade responsável pelo Open Banking no Reino Unido estima que cerca de um quinto dos usuários das soluções autorizadas pelo sistema são pequenos negócios. A adesão pelas PMEs é motivada pela estratégia de acompanhar as inovações no mercado e ganhar resiliência frente à incerteza imposta pelo contexto de crise global.
Em uma pesquisa que entrevistou 500 tomadores de decisão de empresas com até 49 funcionários, 50% utilizavam serviços associados ao Open Banking. 24% das PMEs haviam contratado serviços de contabilidade em nuvem, 21% utilizava serviços de previsão do fluxo de caixa e 18% contratou crédito alternativo.
A pesquisa apontou que o uso dessas novas soluções ligadas ao Open Banking tem permitido aos pequenos empreendedores reduzir burocracias, entender melhor o funcionamento do negócio e torná-lo mais resiliente frente à crise.
Além disso, os negócios que adotaram soluções de Open Banking se mostraram mais propensos a trocar de banco em busca das melhores condições para contas correntes empresariais.
Benefícios: crédito para pequenas e médias empresas
Soluções para o mercado de crédito ficam em segundo lugar na Open Banking App Store, com 13% dos apps sendo destinados à contratação de empréstimos e crédito alternativo e 6% para gerenciamento de dívidas.
Além de facilitar a contratação de serviços por canais digitais, o compartilhamento de dados no Open Banking fornece às instituições credoras mais informações sobre o histórico de pagamentos e endividamento das empresas, o que leva à oferta de empréstimos mais adequados ao perfil de cada negócio.
Normalmente, essas informações detalhadas ficam sob controle do banco onde a empresa tem uma conta. No Reino Unido, o Open Banking facilitou a participação das instituições de crédito alternativo, isto é, diferentes dos grandes bancos, no mercado de microcrédito para PMEs.
Segundo a pesquisa da OBIE, 18% das PMEs utilizaram empréstimos de instituições alternativas, e 3 em cada 5 destas empresas sentiram que o crédito alternativo tornou o negócio mais resiliente.
| Escute o podcast Open Banking: o que as principais empresas enxergam de oportunidade?
Open Banking facilitando pagamentos digitais
As soluções de Open Banking para facilitar pagamentos são a aposta da Open Banking Implementation Entity para o crescimento de pequenas empresas em 2021.
Com a Segunda Diretiva dos Serviços de Pagamentos (PSD2), surgiram no Reino Unido e na União Europeia os PISPs – provedores de serviços de iniciação de pagamentos. Esses provedores realizam as transações em nome do cliente em um só lugar – sem necessitar que o cliente acesse o app do banco. O Open Banking traz mais segurança e praticidade ao facilitar a conexão entre os PISPs e os bancos domicílios das contas dos usuários finais por uma API aberta.
Na Open Banking App Store, 17% das propostas para PMEs oferecem soluções de pagamentos para o e-commerce e são alternativas às opções de pagamentos tradicionais, o que se tornou importante no contexto da pandemia em que o varejo precisou se adaptar aos canais digitais.
Ainda em 2021, a OBIE planeja implementar um mecanismo para viabilizar pagamentos recorrentes variáveis por PISPs. Com isso, em vez de digitar os dados do seu cartão em uma plataforma de delivery, streaming ou marketplace, o usuário poderá autorizar que o provedor de serviços realize pagamentos diretamente a partir da sua conta bancária, dispensando a necessidade de expor dados bancários para o site do estabelecimento.
No Brasil, a implementação de processos para iniciação de pagamentos pela estrutura do Open Banking terá início em agosto de 2021, na terceira fase.
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