Embora tratada como sinônimo de blockchain, sendo que na verdade é um conceito mais abrangente, pois a blockchain é apenas uma forma específica e a mais conhecida e utilizada da tecnologia de livro-razão distribuído (DLT na sigla em inglês), a DLT envolve bem mais sistemas, multiplicando a inovação nas finanças.
Apesar do potencial transformador, a trajetória de adoção em larga escala da DLT vinha, até então, se mostrando longa e complexa.
Porém, tudo indica que agora, segundo a edição 2024 do Relatório de Ativos Digitais do OMFIF, somente 16 anos depois que surgiu o Bitcoin – quando a blockchain se popularizou – é que a DLT começa a dar sinais de tração no setor financeiro, especialmente no mercado de capitais.
Isto porque, a parcela de participantes da pesquisa que está considerando adotar DLT e/ou blockchain na emissão de títulos aumentou nove pontos percentuais, alcançando 38% em 2024, ante 29% em 2023.
A saber, somente do final de julho para cá, 14 títulos, totalizando US$ 1,2 bilhão, foram emitidos em blockchain, ao passo que apenas dez foram lançados entre o início de janeiro e 25 de julho de 2023, somando US$ 1,3 bilhão.
E com muitos mais sendo esperados, afirma o relatório, o mercado deve facilmente ultrapassar o ano de 2023, quando 16 títulos de blockchain foram emitidos, e ainda 2022, em que esse número era de apenas nove.
Assim, a projeção do relatório é de que o mercado de títulos lançados em DLT e/ou blockchain poderá mais que dobrar de tamanho frente os últimos dois anos.
Isso pode indicar que finalmente essa tecnologia começa a ser percebida como alternativa para uma infraestrutura de mercado financeiro mais simples e eficiente, possibilitando a troca de valores de forma segura e instantânea entre contrapartes e sem intermediários.
Expectativas em torno da DLT
A partir das opiniões de uma série de participantes do mercado, o Relatório de Ativos Digitais do OMFIF traz percepções interessantes sobre as expectativas que esses atores têm sobre as próximas atualizações da infraestrutura do mercado financeiro.
Um dos destaques é que 42% dos entrevistados concordam que a DLT, notadamente a blockchain, se tornará a principal forma de infraestrutura do mercado financeiro no futuro.
Entretanto, vale observar que seu principal atributo, que é o de conectar diretamente os usuários, prometendo, além da desintermediação, o imediatismo de liquidação, entra em conflito com a maneira como as finanças têm sido historicamente administradas – contando com intermediários confiáveis e regulamentados para supervisionar a atividade e fornecer segurança.
Mas ainda que a desintermediação pareça uma proposta mais complicada, o relatório identificou que os formuladores de políticas se mostram abertos à possibilidade de que a DLT torne os mercados mais eficientes, e estão lançando projetos-piloto e sandboxes para testar essa proposta.
Nesse sentido, expõe o documento, os reguladores já vêm há algum tempo discutindo fazer uma mudança para janelas de liquidação mais curtas, com os Estados Unidos, por exemplo, tendo adotado o prazo de D+1 (abreviação para próximo dia após o evento) desde maio de 2024.
De qualquer forma, apesar de quase todos os participantes da pesquisa (92%) esperarem um grau substancial de tokenização das finanças dentro de três a dez anos, é interessante notar que muitos deles ainda estão céticos quanto à possibilidade de mudar o prazo de liquidação dos títulos para D+1 ou até mesmo para um período menor, devido aos desafios e riscos operacionais que isso possa acarretar.
Na verdade, apenas 16% dos respondentes indicaram uma preferência por ciclos de liquidação menores. A resposta mais frequente foi D+2 ou um período de liquidação variável.
Riscos de segurança são a principal preocupação
Ainda de acordo com o estudo, a percepção de que os riscos de segurança cibernética estão crescendo fica evidente. Afinal, a parcela de participantes da pesquisa que identificou isso como uma ameaça oriunda do processo de digitalização aumentou de 48% para 76% entre 2023 e 2024.
Isso porque, afirmam os respondentes, as inovações que podem ser incorporadas em sistemas digitalizados são capazes de expor novas vulnerabilidades.
Em outras palavras, eles acreditam que isso poderá acarretar problemas para as funcionalidades operacionais de um sistema de mercados de capitais digitalizado, aumentando a exposição a deficiências operacionais e vulnerabilidades, como falha de liquidação técnica, opinião compartilhada por 52% das pessoas ouvidas na pesquisa.
CBDCs lideram preferência para liquidar operações
Outra descoberta é que os participantes do mercado preferem CBDCs (sigla em inglês para moedas digitais de banco central) de atacado para liquidar a maioria das transações de títulos em vez de soluções privadas de dinheiro tokenizado, com 59% dos entrevistados da pesquisa selecionando esta opção.
Entre as principais considerações estão que apenas as CBDCs removem completamente o risco de crédito/contraparte, sendo confiáveis para transações financeiras.
Ademais, o relatório indicou que nenhum entrevistado da pesquisa selecionou “stablecoins não emitida por bancos” como uma opção, sugerindo que existe uma relutância em confiar em não bancos para transações de mercado financeiro envolvendo ativos tokenizados.
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