Rússia aposta em tecnologia blockchain como alternativa ao SWIFT

Após ter sido desconectada do sistema SWIFT, a Rússia aposta em uma plataforma baseada na tecnologia blockchain para fugir das sanções.
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Equipe Propague
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Após o início do conflito com a Ucrânia, a Rússia foi alvo de inúmeras sanções que limitaram o seu acesso a mercados e serviços internacionais, com o sistema financeiro sendo particularmente atingido.

Um dos golpes mais duros veio em fevereiro de 2022 com a exclusão dos bancos russos do SWIFT. Essa plataforma é a principal alternativa para liquidação internacional de transações interbancárias, como ordens de pagamento e transferências.  Por meio desse sistema, cada banco recebe um código que permite a comunicação de forma extremamente segura.

Desde então, as autoridades russas buscam alternativas para contornar as sanções e, ao mesmo tempo, se prevenir contra futuras restrições. Entre as estratégias exploradas estão o uso e desenvolvimento de tecnologias associadas a moedas digitais. A presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, por exemplo, anunciou a introdução de um projeto piloto de CBDC nos próximos meses.

No mesmo sentido, a Receita Federal da Rússia apresentou uma proposta para permitir que as empresas da região usem moedas digitais para algumas de suas operações, como o recebimento e pagamento a entidades estrangeiras. O mais novo desdobramento desse cenário, entretanto, se trata de um sistema baseado em tecnologia blockchain que promete substituir, mesmo que parcialmente, as funcionalidades do SWIFT.  A plataforma, batizada de CELLS, foi apresentada durante a Conferência da Indústria Digital Russa (CIPR-2022), em Nizhny.

Alternativa ao SWIFT: quem projetou o CELLS?

O sistema foi desenvolvido pelo Instituto Novosibirsk de Sistemas de Software (NIPS) vinculado a empresa RT-Techpriemka, uma subsidiária da Rostec State corporation, estatal que está entre as maiores empresas de tecnologia na Rússia.

A Rostec, atualmente, reúne cerca de 700 organizações científicas e industriais em 60 regiões do país. Os produtos da corporação são fornecidos para mais de 100 países ao redor do mundo e cerca de um terço da receita da empresa advém da exportação de produtos de alta tecnologia. Além disso, a maior parte das atividades da empresa está ligada à indústria de defesa, sendo um player fundamental no complexo industrial militar russo.

O CELLS foi lançado com a expectativa de que pudesse ser uma alternativa ao SWIFT, funcionando, entre outras coisas, como um sistema para liquidar transações internacionais. De acordo com Oleg Yevtushenko, Diretor Executivo da Rostec, a plataforma é plenamente capaz de realizar essa tarefa: “Um sistema de pagamento digital baseado em uma plataforma blockchain pode ser usado como um substituto completo para o SWIFT, proporcionando alta velocidade, segurança e transações irrevogáveis.”

Segundo Yevtushenko, o sistema elimina o risco de sanções e garante a independência da política financeira nacional russa e dos participantes. Considerando que tirar a Rússia do SWIFT foi considerado, à época, chamada de bomba nuclear das sanções, conseguir operacionalizar tal objetivo via CELLS tem se mostrado de grande relevância para os russos.

O que o sistema alternativo ao SWIFT vai oferecer?

A plataforma blockchain CELLS foi projetada para ser um ecossistema de produtos e serviços de software com base na tecnologia de registro distribuído. Um dos seus elementos centrais é um sistema digital para efetuar pagamentos em moedas nacionais, que pode constituir, também, uma alternativa ao SWIFT nas liquidações internacionais. O sistema multifuncional propõe oferecer pagamentos internacionais, transações multimoedas, identificação do usuário e armazenamento de moeda digital.

No comunicado à imprensa, a empresa destacou que o blockchain CELLS pode lidar com até 100 mil transações por segundo, com potencial para aumentos adicionais no futuro. A empresa também está procurando expandir suas funções de blockchain para além de negociações internacionais, oferecendo o armazenamento e transmissão de grandes arquivos multimídia de forma segura, identificação do usuário, emissão de passaportes digitais e uma ferramenta para criação de aplicativos web protegida contra-ataques de hackers, além de um sistema de habitação digital e serviços comunitários.

O grupo Rostec tem como alvo grandes empresas que mantêm relações comerciais com a Rússia, bem como autoridades governamentais estrangeiras que fazem negócios com Moscou, além de instituições financeiras, bancos e desenvolvedores independentes de softwares. A empresa não informou quando a plataforma irá começar a operar.

Será mesmo que esse projeto pode substituir o SWIFT?

Apesar da confiança da empresa na capacidade da tecnologia, alguns alertas importantes precisam ser feitos. Em primeiro lugar, o SWIFT conta com mais 11.000 instituições em 200 países diferentes, processando mais de 42 milhões de operações financeiras por dia. Essa escala e eficiência dificilmente poderiam ser substituídas pelo sistema CELLS, mesmo com a adesão de grandes empresas russas.

Além disso, convencer empresas e institutições financeiras estrangeiras sobre a confiabilidade  do sistema será um desafio. Afinal, nas atuais circunstâncias, há dúvidas se empresas confiariam em uma plataforma sob supervisão de autoridades russas. Além disso, vale destacar que mesmo que obtenha algum sucesso, substituir o SWIFT não muda as restrições impostas para transações em múltiplas frentes e a saída em massa de empresas do país.

De qualquer forma, o projeto é mais uma demonstração do empenho russo em contornar as sanções e garantir o funcionamento do seu sistema financeiro e, de forma mais geral, da sua economia.

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