O movimento de digitalização da economia segue a todo vapor e já se olha para o próximo horizonte a ser alcançado: a tokenização. Estudos projetam que a economia tokenizada chegará a representar cerca de 10% do PIB global até 2030. No âmbito do sistema financeiro, ela promete trazer mais dinâmica e mais eficiência para as transações, além de abrir espaço para uma série de inovações.
A expectativa é de que a tokenização melhore a integração financeira global, viabilizando negociações a qualquer momento. Para isso, contudo, é necessário desenvolver soluções e padronização de regras para garantir uma interoperabilidade de blockchain eficiente e segura para um funcionamento robusto do ecossistema global de redes.
O potencial da tokenização no sistema financeiro
Um token é um ativo digital criptografado que representa o direito de propriedade sobre um ativo, seja ele um ativo tangível (como um carro, ou um imóvel) ou intangível (direitos autorais, ativos financeiros, entre outros), registrados em sistemas de registros distribuídos, as DLTs, cujo modelo mais conhecido são as blockchains.
A tokenização oferece grande potencial para o sistema financeiro, pois a conversão de instrumentos financeiros em tokens possibilita sua negociação em redes blockchain, usando contratos inteligentes e programabilidade, podendo reduzir o custo e o tempo das transações, inclusive transfronteiriças, aumentando a eficiência e a liquidez do sistema financeiro.
Além disso, a tokenização promete ser um vetor de inclusão financeira e ajudar a desenvolver novos mercados, como o mercado de carbono ou de outros instrumentos financeiros ligados à descarbonização, transição energética, iniciativas sócio-educacionais, entre outros.
Devido a esse potencial, a tokenização é considerada tópico prioritário na agenda de vários bancos centrais, como o do Brasil, além de organizações internacionais, como o Banco de Compensações Internacionais, entre outros. Isso porque, para criar um ecossistema eficiente para tokenização, é necessário que a movimentação de tokens entre diferentes redes seja viável e segura.
A importância da interoperabilidade de blockchain
Hoje, os tokens estão sendo emitidos em diferentes redes, em diferentes países, com diferentes conexões. Para que a tokenização alcance os seus poderosos potenciais no sistema financeiro, sobretudo com relação às transações internacionais, é essencial que se crie um ecossistema interoperável que permita a comunicação de distintas redes ao redor do mundo.
A interoperabilidade de blockchain permite que diferentes redes consigam se comunicar e compartilhar dados de maneira eficaz. Isso permite que uma única operação envolva diferentes tokens registrados em redes distintas de forma ágil e simples, o que é essencial para o desenvolvimento de um ecossistema amplamente conectado e versátil. Consequentemente, mais eficiente e com mais liquidez.
A aposta dos especialistas é de que caminhamos para um modelo interchain, algo similar à forma como a internet conecta várias redes de armazenamento e o gerenciamento de dados segregadas.
O principal ponto de atenção nos modelos de interoperabilidade, contudo, são as garantias de segurança nas transações e privacidade de informações que circulam em diferentes redes. Desenvolver regras e soluções voltadas para essas questões vai ser essencial para garantir a evolução da interoperabilidade de blockchain e, consequentemente, o avanço da tokenização.
Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.
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