Em janeiro deste ano, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) liberou a negociação de Exchange Traded Funds (ETFs) de bitcoin à vista nas bolsas do país. A novidade no maior centro financeiro do mundo aqueceu o mercado de criptomoedas, com o bitcoin batendo recorde de capitalização no mês seguinte à liberação. Além disso, o mercado como um todo chegou muito perto do seu pico histórico (2021) também em fevereiro.
O movimento dos EUA também já começou a estimular agendas semelhantes em outras jurisdições. É o caso de Hong Kong, que anunciou a liberação da negociação de ETFs de cripto à vista em abril deste ano. Esse marco representa um novo passo na evolução do mercado cripto e mais um estímulo à integração das finanças tradicionais (TradFin) com esse mercado.
ETFs prometem levar o mercado cripto além
ETFs de criptomoedas funcionam como fundos de investimento negociados em bolsa, administrados por gestores e cujos ativos administrados são criptomoedas. Investir em ETFs, então, é uma forma alternativa de investir em criptomoedas sem precisar comprar o ativo diretamente, o qual normalmente possui preços elevados e alta volatilidade. Além disso, pode facilitar a diversificação dos ativos investidos, caso se trate de uma cesta de criptomoedas, e não apenas de uma única cripto.
A facilidade oferecida pelas ETFs sempre alimentou as expectativas do uso desse modelo de investimento como um impulsionador do mercado cripto. Não é surpresa, então, que a primeira tentativa de registro para a atividade de uma ETF de bitcoin nos EUA tenha ocorrido em 2013. Mesmo assim, foi negada pela SEC na época. Desde então, diversos outros pedidos também foram recusados pela autoridade, até que, em janeiro de 2024, 11 solicitações receberam o ‘sinal verde’ para que ETFs desse tipo pudessem ser negociadas à vista nas bolsas do país.
Integração entre cripto e finanças tradicionais
Apesar de não ser pioneiro (a primeira ETF spot de bitcoin foi lançada ainda em 2021 no Canadá), a nova abordagem regulatória dos EUA representa um marco importante para o mercado cripto. Isso ocorreu após a liberação das ETFs no país, contribuindo para o retorno dos patamares históricos de capitalização e valor de mercado das principais criptomoedas.
Além de servir de exemplo para que outras autoridades sigam o mesmo caminho, como já aconteceu em Hong Kong, a negociação de ETFs de cripto nas bolsas dos EUA representa um passo importante para aprofundar a integração do universo cripto com as finanças tradicionais.
Isso ocorre porque as ETFs facilitam o envolvimento do investidor de varejo, ao mesmo tempo em que abrem espaço para os grandes investidores institucionais. Como o mercado direto de criptomoedas não possui regulamentação nos EUA, a oportunidade de investir em ETFs (agora regulamentados) se torna um grande atrativo para esses investidores entrarem no mundo da criptoeconomia. Dessa forma, fortalece seus laços com a TradFin e leva o mercado de criptomoedas a um novo estágio em sua evolução.
Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.
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