Finanças verdes na China: Histórico e tendências recentes

A China adotou como uma de suas prioridades atingir uma trajetória sustentável de crescimento, para isso as autoridades chinesas têm tentado impulsionar as finanças verdes.
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Equipe Propague
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A China, após décadas de rápido crescimento, adotou como prioridade o desenvolvimento sustentável, estabelecendo metas para atingir a neutralidade de carbono até 2060. Parte da estratégia passa por impulsionar o mercado de finanças verdes que, atualmente, é parte do 14º Plano Quinquenal (FYP).

De acordo com o Banco Popular da China (PBOC), finanças verdes são serviços financeiros prestados para atividades econômicas que apoiam a melhoria ambiental, a mitigação das mudanças climáticas e a utilização de recursos mais eficientes. Seguindo essa definição, finanças sustentáveis podem ser entendidas como qualquer atividade financeira destinada a mobilizar recursos para projetos verdes e limpos.

As políticas de financiamento verde da China promovem investimentos em uma ampla gama de ativos, incluindo projetos de energia renovável, estações de tratamento de água, instalações de reciclagem e transporte coletivo. Em última análise, as finanças verdes são um dos caminhos para uma transição suave em direção a um futuro de baixo carbono e limpo.

O plano chinês para desenvolver as finanças verdes

O financiamento sustentável apareceu como parte da estratégia chinesa pela primeira vez em 2015, quando o Comitê Central do Partido e o Conselho de Estado emitiram o “Plano Integrado de Reforma para Promover o Progresso Ecológico“. Desde então, diversas iniciativas foram lançadas, como:

  • 2015 – Diretrizes sobre a emissão de títulos verdes, emitido pela comissão Nacional de Desenvolvimento e reforma
  • 2016 – Diretrizes para o Estabelecimento do Sistema Financeiro Verde emitido pelo Banco Popular da China (PBOC), o banco central chinês
  • 2016 – Lançamento do Programa Piloto para títulos verdes corporativos, emitido pela Bolsa de Valores de Shanghai
  • 2016 – Lançamento do Programa Piloto para títulos verdes corporativos, emitido pela Bolsa de Valores de Shenzhen
  • 2017 – Diretrizes para apoiar o desenvolvimento de títulos verdes, emitido pela Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC)
  • 2017 – Diretrizes sobre título verdes de empresas não-financeiras, emitido pela Associação Nacional dos Investidores Institucionais do Mercado Financeiro
  • 2017 – Diretrizes sobre avaliação e certificação de Títulos Verdes, emitido pelo PBOC e pela CSRC
  • 2018 – Opiniões sobre o Apoio ao Desenvolvimento Verde de Empresas Privadas, emitido por todas as Federações de indústria e comércio
  • 2018 – Diretrizes de Investimento Verde, emitido pela Associação de Gestão de Ativos da China
  • 2020 – Plano verde de avaliação de desempenho financeiro das instituições financeiras emitido pelo PBOC em conjunto com a NDRC e CSRC
  • 2021 – Diretrizes para Divulgação de Informações Ambientais de Instituições Financeiras, emitido pelo Banco Popular da China
  • 2021 – Catálogo de Projetos de Títulos Verdes, emitido pelo Banco Popular da China, pela NDRC e CSRC

O destaque no mercado de títulos sustentáveis 

Desde então, o mercado de finanças sustentáveis na China avançou rapidamente. O mercado de títulos verdes do país, atualmente, já é o segundo maior do mundo, sendo superado apenas pelos EUA. Ao final de 2021, havia 1.643 títulos verdes na China, com um saldo total de RMB 1,727 bilhão (US$ 270 bilhões).

Entre os ativos sustentáveis, a emissão de títulos neutros em carbono tem crescido rapidamente. Apenas nos três primeiros trimestres de 2021, atingiram o valor de US$ 9,9 bilhões, representando 19,8% do total de títulos verdes emitidos no período, de acordo com dados divulgados pelo Asean.

Nesse período, diferentes tipos de títulos foram desenvolvidos mirando determinados objetivos, o que tornou o mercado razoavelmente diversificado. O Banco da China, por exemplo, desde 2020 emite títulos azuis no mercado nacional e internacional para financiar a conservação e o uso sustentável de recursos marinhos. Em junho de 2021, esses papéis somavam RMB 1.3 bilhão, internamente.

Em termos de moeda, a maior parte dos títulos foi denominado em moeda corrente. Apenas 20% dos títulos foram emitidos em moeda estrangeira, predominantemente, o dólar. Os demais 80% foram denominados em yuan.

O desenvolvimento de um mercado de comércio de carbono

Além do crescimento do mercado de títulos verdes, as finanças verdes avançam na China com o estabelecimento de um mercado de comércio de carbono  em julho de 2021, criado para reduzir emissões por meio de compensações ou punições financeiras na forma de crédito, concessões ou cotas negociadas. Esse tipo de instrumento financeiro funciona de modo que, cada empresa tem um limite de emissão de CO2 por ano:. se superarem esse valor, precisam comprar crédito de outras empresas que reduziram suas emissões.

No lançamento, o mercado contava cerca de 2.225 empresas que operavam, exclusivamente, com carvão e gás. A maioria dessas companhias eram estatais (SOEs), sendo responsáveis ​​por cerca de metade das emissões relacionadas à energia da China. No final de 2021, o mercado de carbono registrou um faturamento total de US$ 1,21 bilhão e um volume de negócios de 179 milhões de toneladas. O preço médio da cota de carbono no mercado foi de US$ 6,43 por tonelada.

Atualmente, a geração de energia é a única indústria participante do mercado de carbono. Os reguladores, entretanto, estão planejando incluir outras indústrias, como ferro e aço, metais não ferrosos e materiais de construção.

Outras iniciativas ligadas a finanças verdes

Zonas pilotos de Finanças verdes

As primeiras zonas piloto de finanças verdes foram lançadas nas cidades de Zhejiang, Jiangxi, Guangdong, Guizhou e Xinjiang em junho de 2017. Em 2019, Lanzhou entrou para a lista. Em março de 2020, Huzhou foi nomeada a primeira cidade piloto da China para o desenvolvimento coordenado entre edifícios verdes e finanças verdes. Essas zonas contam com incentivos fiscais e financiamentos especiais para projetos sustentáveis.

Incentivos de Redução de Emissão de Carbono

Em novembro de 2021, o PBOC introduziu um mecanismo de redução de emissões de carbono (CERF). Por meio desse instrumento, o PBOC fornece fundos a baixo custo para instituições financeiras dedicarem recursos a projetos de redução de carbono. As taxas de juros ficam em torno de 1,75% ao ano.

Apesar dos resultados promissores, o mercado financeiro verde da China ainda tem muito espaço para se desenvolver. Os títulos verdes,  por exemplo, representaram apenas  1% do total de títulos chineses negociados em 2020. Consequentemente, dadas as ambiciosas metas estabelecidas pelo governo, serão necessárias grandes somas de investimento e financiamento para iniciativas sustentáveis, o que deve impulsionar ainda mais o setor.

 

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