Inicialmente, alguns chegaram a levantar desconfiança acerca do Open Finance Brasil, pois o projeto não alcançou números expressivos com a mesma rapidez do PIX, que foi lançado cerca de três meses antes pelo Banco Central e teve adesão recorde. Contudo, essa adesão mais lenta já era esperada pela autoridade, devido à maior complexidade do projeto.
Hoje, mesmo sem os holofotes iniciais do PIX, os usuários já começam a se deparar com novas soluções de produtos e serviços possibilitadas pelo compartilhamento de dados.
Open Finance Brasil já é um dos mais importantes do mundo
Em novembro de 2020 entrou em funcionamento o sistema instantâneo de pagamentos brasileiro, o PIX. Em um país continental e heterogêneo como o Brasil, e em um cenário de expansão da digitalização, a possibilidade de transacionar rapidamente, a qualquer hora, em qualquer dia da semana, fez a ferramenta ganhar espaço velozmente.
Só nos primeiros três meses de funcionamento do serviço instantâneo, foram mais de 159 milhões de chaves cadastradas por cerca de 65 milhões de usuários. E em janeiro de 2021 foram feitas mais de 200 milhões de transações via PIX. Hoje, segundo dados do BC, são mais de 500 milhões de chaves e quase 145 milhões de usuários, com um recorde de quase 3 milhões de transações em dezembro de 2022.
O rápido sucesso levou o PIX a ser reconhecido internacionalmente e gerou uma certa expectativa para o Open Banking Brasil, projeto que seria lançado três meses depois do PIX e que posteriormente mudaria de nome para Open Finance Brasil. Contudo, a implantação de um ecossistema de compartilhamento de dados é mais complexa e demorada.
Isso porque, enquanto o PIX é um arranjo de pagamentos com liquidação centralizada pelo BC, o open finance é um ecossistema de compartilhamento de dados entre diversas instituições, exigindo o desenvolvimento de estruturas que viabilizam a interoperabilidade entre os participantes de forma eficiente e segura. Além disso, o crescimento do ecossistema depende do engajamento dos clientes, que precisam adquirir confiança para compartilhar seus dados e esse processo tende a levar um certo tempo.
Os cerca de 4 milhões de usuários cadastrados no primeiro ano do Open Finance Brasil podem não chamar a atenção quando comparado aos números astronômicos do PIX, mas já eram bem expressivos quando comparados com o Reino Unido, pioneiro na implementação de um sistema financeiro aberto, que só alcançou tal marca após 3 anos de funcionamento do ecossistema.
O open finance brasileiro viveu um ano de consolidação e, ao fim de 2022, o ecossistema já contava com 18,7 milhões de consentimentos ativos.
No ano seguinte, o open finance brasileiro viveu um ano de consolidação e, ao fim de 2022, o ecossistema já contava com 18,7 milhões de consentimentos ativos (para cerca de 13 milhões de clientes únicos) e 822 instituições cadastradas. Além disso, o Relatório Trimestral do Open Finance Brasil mostrou que, no 4º trimestre do ano, foram mais de 4 bilhões de chamadas de APIs com um índice geral de sucesso de 84,5%.
Esses números conferem ao Brasil a posição de maior open finance do mundo e também levam o país a ser citado como uma das principais referências para esse tipo de projeto.
Mas o sucesso não para por aí e o sistema financeiro aberto brasileiro também tem mostrado reflexo na vida do consumidor, pois novos produtos e serviços já estão sendo ofertados aos clientes através de funcionalidades disponibilizadas pelo ecossistema.
O open finance no dia a dia do cliente
Um dos principais benefícios prometidos pelo open finance é a melhora da experiência do usuário, que busca fazer suas transações da forma mais ágil e mais simples possível. Nesse sentido, já é possível identificar o surgimento de novas soluções viabilizadas pelo open finance que buscam atender essa demanda do usuário.
Um produto clássico das finanças abertas é o agregador, que permite que o usuário visualize em um único lugar informações de diversas contas de diversas instituições diferentes.
Hoje, por exemplo, já é possível checar o saldo de contas de outras instituições sem precisar trocar de aplicativo, emitir um extrato unificado com lançamentos de várias contas, ou mesmo usar serviços de planejamento financeiro consolidando informações de diversas contas.
Essas soluções facilitam a organização financeira dos clientes, ajudando a desenvolver autoconhecimento financeiro, melhorando o planejamento de consumo, orçamento e a busca por outros objetivos financeiros.
Mais recentemente, passou a ser possível, além de visualizar, transferir saldos de contas distintas a partir de um único aplicativo. Diversos bancos já permitem que o cliente faça um PIX usando o saldo de outras contas, por exemplo. A tendência é que esse fluxo de inovações se intensifique, trazendo cada vez mais novas possibilidades para melhorar ainda mais a capacidade de gestão financeira e a experiência do usuário como um todo.
Assim, percebe-se que o projeto de finanças abertas no Brasil não só mostra números expressivos, como esses números já começam a se traduzir em melhorias práticas na prestação do serviço financeiro. É por isso que, mesmo com um tempo de maturidade maior, o Open Finance (como o PIX) se mostra como mais um projeto de sucesso na agenda de inovação do Banco Central.
Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e mestra em Economia pela UERJ.
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