O Banco Central divulgou os resultados da pesquisa de letramento financeiro e inclusão financeira em 2023, em parceria com o Fundo Garantidor de Créditos. O relatório final indica um nível médio de letramento financeiro da população brasileira de 59,6 (em uma escala de 0 a 100). Além disso, 75% dos entrevistados fizeram no máximo 70 pontos, indicando ainda muito espaço de melhora, principalmente em alguns nichos, como mulheres, pessoas com 60 anos ou mais, pessoas com renda de até 2 salários-mínimos e residentes da região Nordeste. Com isso, percebe-se que o país ainda tem desafios a enfrentar no que tange a educação financeira.
Resultados da pesquisa de letramento e inclusão financeira
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) faz um acompanhamento periódico para medir os níveis de letramento financeiro das populações de diversos países, analisando a consciência financeira, o conhecimento e as habilidades necessárias para uma pessoa tomar decisões financeiras sólidas e alcançar o bem-estar financeiro individual. Assim, em uma escala de 0 a 100, o índice mede o comportamento financeiro, a atitude (ou postura) ao fazer escolhas financeiras e o conhecimento sobre finanças dos cidadãos. Utilizando esta metodologia, o Banco Central do Brasil (BCB) e o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) publicaram um estudo sobre o Brasil.
Os principais resultados positivos são sobre inclusão financeira, medida através da análise do conhecimento e do uso de produtos e serviços financeiros. O estudo mostra que 74% dos brasileiros conhecem mais da metade dos produtos listados no estudo. Entre os produtos mais conhecidos estão o Pix, o cartão de crédito e a conta-corrente ou conta-salário. Todos são conhecidos por mais de 90% dos entrevistados. Além disso, mais de 60% possuem ao menos um produto de crédito e aproximadamente 80% possuem algum tipo de produto de pagamento, sendo o Pix usado por mais de 60% deles.
Contudo, é muito importante que o aumento da inclusão esteja associado a uma melhora no letramento financeiro, estimulando um uso adequado e mais consciente dos produtos e serviços financeiros. Pensando nisso, os resultados que a pesquisa traz acerca do letramento financeiro da população brasileira levantam alguns sinais de alerta.
Um ponto que chama bastante atenção na pesquisa é a heterogeneidade dos resultados de letramento financeiro no Brasil. Enquanto o nível médio geral chegou a 59,6 pontos (como já citado), os grupos de homens, pessoas com renda familiar acima de 5 salários-mínimos e jovens de 16 a 24 anos apresentaram média acima de 60. Por outro lado, os grupos de mulheres, residentes do Nordeste, pessoas com 60 anos ou mais e pessoas com renda mensal de até 2 salários-mínimos apresentam médias abaixo da média geral. Nota-se, ainda, que o letramento financeiro cai conforme aumenta as faixas de idade e em demais regiões quando comparado a região Sudeste.
Este cenário tão diverso mostra que o Brasil tem um desafio para alcançar um nível de letramento financeiro médio adequado, precisando estar atento às diferenças entre os grupos mais vulneráveis e atendendo de forma mais equânime os moradores de um país de proporções continentais.
O que pode ser feito para melhorar o letramento financeiro no Brasil
A pesquisa mostra que o letramento financeiro ainda pode melhorar no Brasil, especialmente quando se trata de grupos específicos, como mulheres, idosos, pessoas com renda familiar de até 2 salários-mínimos e moradores da região Nordeste. Mas, nem todos os resultados são desanimadores. Um ponto interessante é perceber que o nível de letramento financeiro cresce substancialmente conforme as faixas de educação da população, podendo ter um impacto positivo de mais de 13 pontos. Estar empregado também mostra um impacto positivo, de quase 7 pontos a mais na média com relação a quem está desempregado.
É perceptível, portanto, que parte do esforço para melhora do letramento financeiro tem um aspecto econômico-social mais amplo, estando fortemente relacionado à trajetória educacional da população, bem como ao nível de emprego da economia. Dessa forma, uma boa evolução macroeconômica do país, com um cenário de crescimento e desenvolvimento, é um dos principais aliados do letramento financeiro no longo prazo.
Além disso, o papel das autoridades é essencial para a evolução da educação financeira no país. Atualmente, o Brasil possui uma Estratégia Nacional de Educação Financeira, baseada nas diretrizes da OCDE e promovida pelo Fórum Brasileiro de Educação Financeira, do qual fazem parte as principais autoridades do setor financeiro, como o Banco Central, a CVM, entre outros. A Estratégia conta com uma extensa lista de ações que vão desde a promoção de cursos e palestras até iniciativas relacionadas ao Museu da Economia.
É interessante perceber como a iniciativa abrange ações de naturezas diversas para a promoção da cidadania financeira. Contudo, o que os resultados heterogêneos da última pesquisa de letramento financeiro sugerem é uma certa urgência em se desenvolver ações mais específicas voltadas para grupos com os resultados mais preocupantes da pesquisa. Mesclar projetos amplos de educação financeira com ações voltadas para os grupos mais vulneráveis é essencial para alcançar um desenvolvimento mais equânime da cidadania financeira.
Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.
@instpropague Como melhorar o letramento financeiro da população brasileira? #educacionfinanciera #fintok #finanças ♬ som original – Instituto Propague
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