Pesquisa aponta a importância da introdução da educação financeira ainda no ensino médio

Conforme identificado no estudo, é nessa etapa da vida do estudante em que sua exposição ao sistema financeiro aumenta substancialmente.
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Equipe Propague
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Em um contexto no qual o sistema financeiro trabalha para atrair mais clientes, inovando em produtos e serviços, a educação financeira se apresenta como instrumento essencial para que as pessoas aprendam a lidar responsavelmente com o seu dinheiro. Considerando esse cenário, existe um momento da vida do indivíduo mais propício para esse aprendizado?

É o que pretende responder um estudo desenvolvido por Miriam Bruhn e Bilial Zia, pesquisadores do Banco Mundial, juntamente com Gabriel Garber e Sérgio Koyama, do departamento de Estudos e Pesquisas do Banco Central do Brasil (BC). De acordo com a pesquisa, o Ensino Médio é um bom momento para a introdução da educação financeira.

Os autores identificaram que, nessa fase, a exposição dos estudantes ao sistema financeiro aumenta substancialmente. Por isso, a introdução da disciplina resulta em efeitos significativos no longo prazo, como menores chances de uso de fontes de crédito mais caras, assim como de atraso no pagamento de dívidas.

A pesquisa também deu indícios de que a educação financeira é capaz de levar a uma troca do emprego formal pelo empreendedorismo.

O estudo, intitulado “O impacto de longo prazo da educação financeira no Ensino Médio: evidências em larga escala no Brasil”, se baseou na retomada de um experimento ao qual foram submetidos 25 mil estudantes de aproximadamente 890 escolas públicas em seis regiões do país entre 2010 e 2011.  Esses estabelecimentos participaram do Programa de Educação Financeira nas Escolas, movimento da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

Na etapa mais recente do estudo, os pesquisadores acompanharam, durante os nove anos subsequentes, 16 mil alunos do grupo inicial, por meio de dados administrativos do BC coletados por meio de seus CPFs, permitindo medir o efeito da educação financeira no comportamento deles com relação ao dinheiro e à ocupação.

Resultados no curto prazo

Para realizar a pesquisa, os autores separaram aleatoriamente metade das escolas selecionadas para compor um grupo de tratamento, no qual os professores receberam treinamento e foi oferecido material didático aos alunos sobre educação financeira.

A outra metade, chamada de grupo de controle, não recebeu esses recursos, mas participou, assim como o primeiro grupo, das avaliações aplicadas no início, meio e fim do programa.

Em relação aos impactos de curto prazo, a pesquisa indica que os alunos que participaram do programa, independentemente de qual grupo fizeram parte, se mostraram mais propensos a gerenciar as suas finanças, utilizar orçamentos, poupar para o futuro, assim como a juntar dinheiro para a aquisição de algum bem.

Ao mesmo tempo, foi observado um aumento significativo na utilização de crédito mais caro, como os cartões de crédito, além de maior probabilidade de atrasar os pagamentos dessa modalidade de crédito.

Segundo os autores, isso se deu provavelmente devido ao fato de o programa ter tido como objetivo informar os estudantes sobre produtos e serviços financeiros, mas sem desencorajar o seu uso.

Efeitos da educação financeira no longo prazo

Por outro lado, olhando para os resultados da educação financeira no longo prazo, o comportamento em relação ao crédito se inverteu. Os pesquisadores concluíram que os estudantes do grupo de tratamento usaram produtos de crédito mais caros em menor proporção.

Na comparação com o grupo de controle, eles apresentaram uma probabilidade 6% inferior de utilização de crédito rotativo ou parcelado com juros vinculados a cartões, além de uma probabilidade 8% menor de uso do cheque especial, enquanto a chance de atrasar os pagamentos diminuiu em cerca de 5%.

Por fim, ainda conforme o estudo, entre oito e nove anos após concluírem o ensino médio, os estudantes do grupo de tratamento apresentaram uma probabilidade 10% maior de se tornarem microempreendedores individuais, ao passo que apontaram para uma possibilidade 2,4% inferior de possuírem um trabalho com carteira assinada.

 

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