Dólar apresenta redução gradual e contínua nas reservas globais

Em 20 anos, a participação da divisa recuou 20 pontos percentuais, enquanto cresceu a representatividade de moedas de reserva não tradicionais, como os dólares australiano e canadense e o yuan chinês.
Dólar apresenta redução gradual e contínua nas reservas globais
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Equipe Propague
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A fragmentação da economia, em conjunto com a reorganização da atividade econômica e financeira global em blocos distintos e não interligados, parece incentivar alguns países a usar e manter outras moedas internacionais como reserva, em detrimento do dólar norte-americano.

Embora a divisa estadunidense ainda lidere o saldo dos ativos em moedas estrangeiras de bancos centrais e governos em todo o mundo, o resultado mais recente da Composição Monetária das Reservas Cambiais Oficiais (COFER na sigla em inglês), divulgada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), aponta para uma redução gradual e contínua na participação do dólar nessas contas.

A saber, a COFER corresponde a uma base de dados que contém informações trimestrais de 149 países/jurisdições declarantes ao FMI, representando até 93% das reservas cambiais globais, com a identificação separada em várias moedas.

Em análise publicada no blog do FMI, Serkan Arslanalp e Chima Simpson-Bell, respectivamente assessor no Gabinete do Diretor Geral e economista do Departamento Africano do FMI, juntamente com Barry Eichengreen, professor de Economia e Ciência Política na Universidade de Berkeley (Califórnia), chamam a atenção para essa diminuição da participação do dólar nos ativos em moedas estrangeiras das autoridades monetárias e governos.

Entretanto, eles afirmam que, surpreendentemente, a redução no volume de dólar norte-americano nas reservas durante os últimos 20 anos não foi seguida por aumentos nas frações de outras três grandes divisas internacionais, no caso a libra, o euro e o iene japonês.

Ao contrário, os pesquisadores constataram que esse declínio foi acompanhado por um acréscimo na percentagem daquilo que se costuma chamar de moedas de reserva não convencionais.

De acordo com a análise, essa categorização de divisas inclui dólares canadense, australiano e de Singapura, o yuan chinês, o won sul-coreano e moedas nórdicas como as coroas norueguesa e sueca.

Dólar recua de 78% para 58% de participação em 20 anos

Em sua análise, Arslanalp, Simpson-Bell e Eichengreen apontam que, considerando as duas últimas décadas, apesar de o valor de mercado do dólar estadunidense ter permanecido praticamente inalterado, enquanto a participação dessa divisa nas reservas globais tenha diminuído, isso sinaliza que os bancos centrais e governos têm, de fato, se afastado aos poucos do dólar.

Com base na COFER, entre 2000 e 2020, a participação do dólar norte-americano nas reservas globais diminuiu de cerca de 78% para 58%; a libra, o euro e o iene apresentaram algumas oscilações, mas praticamente mantiveram a sua proporção no saldo; ao passo que as moedas não tradicionais saltaram em representatividade de 3% para 12%. Na verdade, o maior salto se deu entre 2010 e 2020, puxado pelo dólar australiano, o dólar canadense e o yuan chines, nessa ordem.

Além disso, em um estudo lançado por esses pesquisadores em 2022, foram identificados 46 países diversificando seus ativos, registrando reservas cambiais em moedas não tradicionais na casa dos 5% ao final de 2020. Esse grupo inclui as principais economias avançadas e a maior parte dos mercados emergentes participantes do G20, grupo das 20 economias mais desenvolvidas do mundo. 

Contudo, olhando mais à frente, até 2023, ao menos outros três países se juntaram à essa lista: Holanda, Seicheles e Israel.

Por que as divisas não convencionais ganharam importância na composição das reservas?

As razões para esse movimento, explicam os pesquisadores, repousam no interesse crescente dos gestores pela diversificação dos ativos em moedas estrangeiras, na possibilidade de rendimentos atrativos, assim como na facilidade que atualmente existe em adquirir, manter e negociar essas divisas, além da questão geopolítica, incluindo eventuais sanções e razões particulares de cada país.

Com relação à maior facilidade de aquisição e venda de moedas estrangeiras na atualidade, enfatizam o papel das tecnologias digitais emergentes em finanças, como a automatização da criação de mercados e de gerenciamento de liquidez.

Como exemplo de todo esse processo, eles citam o caso do yuan, que conquistou espaço nas reservas em moedas internacionais correspondente a 25% do declínio verificado na participação do dólar no período analisado.

Para alcançar esse resultado, eles relatam os esforços do governo da China, que avança em políticas voltadas para promover a internacionalização da sua moeda em múltiplas frentes. 

Isso contempla ações como o aprimoramento do seu sistema de pagamentos transfronteiriços, o desenvolvimento de uma CBDC (sigla em inglês para moeda digital de banco central) e a ampliação de linhas de swap cambial.

Recentemente, mais um fator tem contribuído para  que outras moedas não tradicionais possam se destacar: países integrantes dos BRICS, grupo inicialmente formado por Brasil, Rússia, China e Índia vem trabalhando para criação de uma moeda comum em suas relações comerciais, a fim de dependerem menos do dólar, enquanto também promovem o uso de suas moedas nacionais com a mesma finalidade.

 

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