Registros financeiros: brasileiros invisíveis ao crédito representam oportunidade social e de inclusão financeira

Mais de 35 milhões de consumidores e empreendedores no país não possuem contas, financiamentos e empréstimos com seu CPF, dificultando acesso ao crédito, importante ferramenta de inclusão financeira.
Registros financeiros: brasileiros invisíveis ao crédito representam oportunidade social e de inclusão financeira
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Equipe Propague
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Embora o Brasil seja um dos países mais bancarizados da América Latina, uma pesquisa inédita da consultoria Serasa Experian descobriu que quase 22% dos adultos no país não possuem registros financeiros, como financiamentos em bancos, empréstimos, contas de consumo ou faturas de cartões com base em seu CPF. Nem mesmo no Cadastro Positivo eles estão inseridos.

Em números absolutos, a quantidade de brasileiros nessa condição passa dos 35 milhões, sendo classificados como “Thin Files”, ou seja, “indivíduos sem informação de crédito”, aponta o estudo.

Na prática, esses são consumidores que não costumam usar regularmente o crédito e, dessa forma, não acusam quaisquer atividades recentes em seu histórico. Ou, ainda, são pessoas jovens que não deram início à sua vida financeira.

Apesar disso, explica Roger Cruz, diretor de Sustentabilidade da Serasa Experian, não ter registros financeiros não quer dizer que esse contingente populacional não tenha recursos. Ao contrário, pois, na verdade, grande parte dessas pessoas gera renda, representando além de uma oportunidade social, a possibilidade de ampliar a inclusão financeira e de gerar mais negócios.

De acordo com ele, assegurar que indivíduos, inclusive empreendedores, sem registros financeiros tenham acesso ao sistema, pode trazer vantagens para as empresas do setor que adaptarem seus produtos e serviços ao perfil e necessidades desse público, viabilizando novas fontes de receitas.

Uma vez incluídas financeiramente, acrescenta, esses consumidores e empreendedores ampliam suas chances de obter crédito, fazendo com que o motor da economia se movimente, desenvolvendo uma sociedade mais saudável economicamente falando.

Capacidade de pagamento

A publicação também chama a atenção para o fato de que embora invisíveis ao crédito, os brasileiros nessa situação são bons pagadores. Prova disso são dados do estudo que identificaram que aproximadamente 80% deles não estão negativados.

Para Cruz, isso pode ser justificado porque essas pessoas, na maior parte dos casos, não possuem registros financeiros por preferirem pagar à vista ou ainda porque suas contas de consumo podem estar, por exemplo, em nome de algum parente.

Contudo, a questão aqui é que esses consumidores poderão ter dificuldade de acessar o crédito ou, mesmo que consigam, certamente obterão limites menores e taxas de juros, por sua vez, mais elevadas. Isso porque as instituições financeiras não sabem como eles se comportam financeiramente e, por isso, não conseguem medir o grau de risco dos indivíduos desse grupo.

Em outras palavras, diante da escassa ou ausência de informação sobre o histórico do indivíduo, isso impacta o que se chama “Score de Crédito”, que significa uma pontuação utilizada pelos bancos e o comércio para aprovar cartões, empréstimos, financiamentos e ainda o acesso a serviços como telefonia e internet.

Ademais, Cruz complementa que o acesso ao crédito é uma medida de inclusão financeira e social, pois ele tem a capacidade de criar oportunidades para a realização de muitos objetivos como comprar um imóvel, empreender, cuidar da saúde, estudar, entre outros sonhos pessoais.

Perfil dos brasileiros sem registros financeiros

O estudo também faz um recorte por idade, faixa de renda e procedência dos brasileiros sem registros financeiros.

Considerando a faixa etária, a maioria dos indivíduos que se encontra nessa condição estão na casa dos 21 a 30 anos, com 19,5%. Na sequência, vêm aqueles entre 18 e 20 anos, representando 15,3%, e de 31 a 40 anos, com 14,9%.

Na outra ponta, a menor proporção de brasileiros sem registros financeiros são os que estão na faixa etária de 61 a 70 anos, com 8,5%.

Já quando se olha para o perfil de renda, a maioria, ou 77%, recebe até um salário-mínimo por mês. Em seguida, quase 15% das pessoas sem registros financeiros ganham entre um e dois salários-mínimos.

Por outro lado, uma parcela inferior a 1% tem como remuneração mais de quatro salários-mínimos.

Por fim, considerando a procedência dos brasileiros sem registros financeiros, a pesquisa revelou que a maior parte, ou cerca de 38%, está na região Sudeste do país. Olhando por estado, 19,4% estão em São Paulo, 10% em Minas Gerais e 8,3% no Rio de Janeiro.

No Nordeste, a Bahia (7,3%), Pernambuco (5,2%) e o Ceará (4,9%) concentram a maioria das pessoas invisíveis ao crédito na região.

Já no Sul do país, o Rio Grande do Sul (5,9%) é o estado com o maior contingente de indivíduos que não possuem registros financeiros.

Entretanto, é no Norte onde está a menor proporção de brasileiros nessa situação, sendo 0,5% no Acre, 0,4% no Amapá e 0,3% em Roraima.

Para chegar aos resultados, a Serasa Experian considerou as pessoas que estavam, em março de 2023, na sua base de dados com o CPF constando do Cadastro Positivo, porém sem nenhuma informação objetiva de pagamentos, e os indivíduos que estavam no mesmo Cadastro, mas que pediram para ser descadastrados.

 

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