Faz um FedNow? O que esperar do pagamento instantâneo dos EUA

Por que o FedNow vem sendo chamado pelos brasileiros de “Pix americano”? Apesar de similares, podemos esperar os mesmos resultados?
Faz um FedNow? O que esperar do pagamento instantâneo dos EUA
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Bruna Cataldo
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O Pix tornou pagamentos instantâneos uma sensação no Brasil. Não só batendo recordes atrás de recordes de chaves cadastradas, quantidade de operações e volume transacionado, mas literalmente caindo no gosto popular ao ponto de virar meme e da frase “Faz um Pix?” ter entrado para o dia a dia do brasileiro rapidamente. O resultado foi um processo acelerado de digitalização da economia do país e forte inclusão financeira. Em julho, os EUA lançaram sua própria versão de pagamentos instantâneos na figura do sistema FedNow e a pergunta que fica é: vai pegar? Os primeiros resultados não são tão promissores.

O FedNow e a aposta dos EUA nos pagamentos instantâneos: os resultados dos primeiros meses

Lançado em julho de 2023, o FedNow estava em desenvolvimento desde 2019. Assim como outras plataformas de pagamentos instantâneos como o UPI indiano e o Pix, ele opera 24h por dia 7 dias da semana e está disponível para que bancos e cooperativas de crédito, não importando o porte,  se cadastrem e passem a oferecer a modalidade de pagamento aos seus clientes. Aqui aparece a primeira – e talvez principal – diferença para o Pix: as instituições não foram obrigadas a aderir, o movimento é voluntário.

O principal resultado a ser analisado para averiguar o sucesso dos primeiros meses do FedNow – antes mesmo da adesão de clientes – é a de instituições. Isso porque o universo de pessoas para quem a modalidade estará disponível é condicional a ela. No primeiro comunicado feito pelo Fed, na ocasião do lançamento, 35 instituições tinham entrado para o sistema, com 16 exercendo o papel de dar suporte ao processamento dos pagamentos. No mesmo documento, o Fed indicou acompanhar e buscar trabalhar com mais de 9 mil instituições. 

Três meses depois, no entanto, apenas 108 tinham aderido e o próprio Fed reconheceu que o volume transacionado ainda era baixo. Para efeito comparativo, no primeiro trimestre de operações o Pix já havia registrado mais de 150 milhões de chaves e superado o TED em número de transações. Apesar de os próprios responsáveis pelo FedNow não demonstrarem preocupação, declarando que o objetivo não era replicar a experiência de países como Brasil e Índia, mas promover uma adesão gradual, a realidade é que o resultado é desanimador e coloca em dúvida se o produto “vai pegar” como os outros do mesmo tipo. 

E a experiência dos EUA, na verdade, ajuda a apontar ainda mais os acertos do Pix e coloca o caso brasileiro como fonte de aprendizado para que o Fed tenha o mesmo sucesso do BCB no médio e longo prazo.

Considerando que os EUA não possuem transferências interbancárias equivalentes ao TED, seria de se esperar que o interesse fosse maior, mas o início da operação do FedNow se mostrou lento e contrário à experiência internacional para a modalidade de pagamentos instantâneos. E a experiência dos EUA, na verdade, ajuda a apontar ainda mais os acertos do Pix e coloca o caso brasileiro como fonte de aprendizado para que o Fed tenha o mesmo sucesso do BCB no médio e longo prazo.

As dificuldades do FedNow destacam ainda mais as causas do sucesso do Pix 

Para além do papel central do Banco Central em desenvolver a infraestrutura tecnológica e normativa para operar o Pix, algumas outras características foram fundamentais para o sucesso da política. A primeira foi a obrigatoriedade. Como a política surgiu como parte da agenda de competitividade do Banco Central, o regulador estipulou que certo perfil de instituição seria obrigada a oferecer o Pix como modalidade de pagamento. 

A partir de então, passou a ser interesse das mesmas divulgar e estimular a adesão ao produto, facilitando o ganho de capilaridade do Pix ao dividir o papel de difusor da modalidade com o mercado. Chegou ao ponto de, na inauguração do Pix, o mercado ter passado pelo que ficou conhecido como a “guerra das chaves”. Ao tornar a adesão voluntária, o Fed dificulta a popularização do seu produto, já que ainda precisa ultrapassar a etapa de convencer o mercado de que é do interesse deles participar para, só depois, tal processo chegar ao público.

Em outra frente, o sucesso do Pix também tem sido largamente atribuído ao fato de o Banco Central ter desenvolvido a marca e a estratégia de comunicação já com a massificação como objetivo, o que os responsáveis pelo FedNow deixaram claro não ter sido o caso. Da escolha de um nome de fácil compreensão e uso de redes sociais para divulgação, às parcerias com empresas de energia e transporte para disponibilização da modalidade em atividades rotineiras desde a implementação e criação de uma agenda progressiva de funcionalidades que mantivesse o produto sempre na boca do povo, o Pix foi pensado para ser conhecido por todos o mais rápido possível. Este não é o caso do FedNow até o momento.

Tais questões não significam que o pagamento instantâneo americano não vai crescer, ou se tornou um fracasso. Para todos os efeitos, o Fed alega que a movimentação gradual é intencional. Ainda assim, a experiência brasileira representa uma oportunidade de aprendizado para os EUA sobre como fazer a digitalização dos pagamentos não só uma transformação do sistema financeiro, mas um fenômeno pop.

 

Bruna Cataldo é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFF.

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