Pagamentos instantâneos: O mercado asiático

Os pagamentos instantâneos estão se disseminando por todo o mundo, principalmente após a pandemia, e na Ásia não é diferente. Só que, agora, os pagamentos em tempo real dos países asiáticos estão ultrapassando fronteiras.
Pagamentos instantâneos: O mercado asiático
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Equipe Propague
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Governos de todo o mundo têm liderado ações para facilitar a digitalização das economias e, consequentemente, os pagamentos em tempo real. As instituições financeiras, por sua vez, buscam aproveitar essas oportunidades, apostando nas transações instantâneas como atrativo para o consumidor e tendência em geral para os serviços financeiros. 

O Brasil, por exemplo, lançou o PIX em novembro de 2020 e  a plataforma digital para pagamentos instantâneos promoveu uma revolução no país e virou caso de sucesso global. Esse tipo de transação, entretanto, já é uma realidade na Ásia há algum tempo, tendo como pioneiro o Japão. Inclusive, o modelo brasileiro seguiu de perto os desenvolvimentos de alguns países asiáticos, como China e Índia. 

Considerando a influência que tem no debate, fica, então, o questionamento: Qual o estágio atual de desenvolvimento do mercado de pagamentos instantâneos na Ásia e suas tendências?

Índia

A Índia é a principal referência de pagamentos instantâneos na Ásia desde o lançamento da sua plataforma chamada UPI (Unified Payments Interface) pela autoridade monetária do país, o RBI, em 2016. Os resultados foram revolucionários: o Banco Mundial estimava 50 anos para que o país conseguisse ter pelo menos 80% da população bancarizada caso seguisse o ritmo do momento. Após o UPI, a meta foi alcançada em 2018.

De acordo com relatório Prime Time for Real-Time  da ACI Worldwide, a Índia realizou 48,6 bilhões transações com pagamentos instantâneos em 2021. A China, segundo país com maior movimentação na modalidade, não chegou a 20 bilhões. Os altos números de transações em tempo real na Índia, no entanto, não são novidade. O que chama atenção é que o crescimento continua a superar as previsões. 

Mesmo já operando há mais de 5 anos e tendo uma alta adesão, o UPI ainda tem a terceira maior taxa de crescimento de plataformas de pagamento instantâneo a nível internacional, com 33,5%. Fica atrás apenas do Brasil e de Omã. 

Esse crescimento está associado a apostas do país para o futuro da plataforma: ser o ponto focal de um ecossistema de embedded finance e aumentar o número de aplicações e casos de uso, em especial os relacionados a pagamentos internacionais. A previsão, por exemplo, era do lançamento de 13 novas aplicações da UPI entre o fim de 2021 e 2022, dentre elas a possibilidade de fazer pagamentos internacionais com QR-codes.

China 

 A economia chinesa, é outro destaque em adesão às transações em tempo real na Ásia e mundo, sendo o segundo país com maior volume transacionado na modalidade. Apenas em 2021 foram feitas, aproximadamente, 18,5 bilhões de transações. 

Os analistas da ACI estimaram que a adoção desse tipo de pagamento resultou em uma redução de custos da ordem de US$ 15,4 bilhões para empresas e consumidores chineses e  expectativa é que o país atinja cerca de 31,3 bilhões de transações instantâneas em 2026. 

Olhando para composição, no entanto, o relatório mostra que os pagamentos instantâneos ainda tem muito espaço para crescer, já que representaram apenas 5,7% do total de transações e 9,5% do valor total gasto.. Vale destacar também que a participação no total gasto coloca a modalidade à frente das transações de pagamento em papel. 

Assim, a China ainda tem espaço para desenvolver seu setor de transações em tempo real, principalmente por poder se aproveitar do fato de que cerca de 80% de toda a população adulta possui carteiras digitais e as utiliza rotineiramente, com o país sendo grande destaque de digitalização de pagamentos e transição para um sistema cashless.

Hong Kong

Hong Kong lançou seu esquema de pagamentos em tempo real, o Faster Payment System (FPS), em setembro de 2018 e o relatório da ACI mostrou que teve considerável sucesso. Identificaram que, apenas em 2021, foram registrados 261 milhões de pagamentos em tempo real, o que correspondeu a 7,3% do total de transações e 16,8% do valor total transacionado. Esperam que esses percentuais atinjam 22,8% e 27,7%, respectivamente em 2026. . 

A baixa participação em termos de volume e a elevada participação no valor transacionado, mostram que os pagamentos instantâneos em Honk Kong são utilizados em uma quantidade menor de transações, mas de elevado valor como, por exemplo, compra de imóveis ou carros.  Há espaço, então, para Hong Kong buscar a redução do ticket médio incentivando a adoção da modalidade para transações mais rotineiras e, dessa forma, crescer o pagamento instantâneo.

Japão

O Japão foi um dos pioneiros na adoção de pagamentos instantâneos, com seu sistema Zengin tendo sido lançado em 1973. Apesar disso, esse tipo de pagamento não tem tanta penetração no mercado japonês.Os pagamentos instantâneos corresponderam a apenas 3% do total de transações em 2021. 

Apesar da baixa representatividade em número de transações, a participação é alta no valor total transacionado. Assim como na China, a modalidade é associada a compras de valor alto e mais esporádicas, não rotineiras, resultando em tickets médios mais altos. 

Olhando para a participação no valor total transacionado em 2021, por exemplo, os pagamentos em tempo real corresponderam a 89,6% . A ACI estima que tal valor possa chegar a 90,8% até 2026. O motivo é o fato de todas as transferências bancárias serem feitas em tempo real. Um fenômeno semelhante ao que se vê com a substituição do TED pelo Pix no Brasil. 

Uma característica do sistema japonês que pode explicar esse cenário de baixa adesão ao Zengin, principalmente como instrumento rotineiro de pagamento, é que apenas instituições financeiras tradicionais podem fornecer pagamentos instantâneos, o que impede que as empresas fintech entrem no sistema. Nesse sentido, um dos caminhos para a expansão no Japão seria a sua expansão em direção às fintechs.

Malásia

Os pagamentos em tempo real estão disponíveis na Malásia há muitos anos através do sistema de transferência de fundos interbancários. Entretanto,  um novo sistema de pagamentos em tempo real foi introduzido em dezembro de 2018. 

Chamado DuitNow, o novo sistema permite transferências usando o número de telefone celular ou números de identificação de um destinatário, ao contrário do sistema anterior, que suportava apenas transferências usando números de conta. O sistema também trouxe novidades ao permitir pagamentos on-line, pagamentos em QR Code e pagamentos programados. 

Apesar dos desenvolvimentos, os pagamentos em tempo real representaram apenas 4,8% do total de transações em 2021, contra 77,4% feitos em papel moeda. Em termos de valor transacionado, o percentual foi de 12,9%. 

Com o número de transações de pagamento em tempo real previsto para 3,6 bilhões em 2026 em projeções da ACI, a expectativa mostrada no relatório é de que os pagamentos instantâneos passem a representar cerca de 8% das transações e 13,9% do valor transacionado, mostrando a mesma tendência de crescimento dos seus vizinhos.

Singapura

Singapura, por sua vez, tem dois sistemas bem desenvolvidos. O primeiro é o FAST, um serviço de transferência interbancárias lançado em 2014 que permite aos clientes dos bancos participantes transferir fundos de um banco para outro em tempo real. O segundo é o PayNow, lançado em 2017. O PayNow é um serviço de pagamentos instantâneos P2P construído dentro da infraestrutura FAST. 

Atualmente, a Autoridade Monetária de Singapura (MAS) está trabalhando ativamente na expansão do alcance do PayNow, vinculando sua plataforma a outras. Em 2021, ele foi vinculado ao PromptPay da Tailândia, por exemplo, permitindo transações entre os dois países. Nesse sentido, o MAS planeja conexões semelhantes com a UPI da Índia e a DuitNow da Malásia ainda em 2022. 

Tais esforços refletem em uma participação já mais representativa de 23,3% no mercado de meios de pagamento, ainda atrás da principal modalidade usada no país: os pagamentos eletrônicos, que tiveram 40,1% de participação em 2021. 

Tailândia

Já a Tailândia é um dos casos de maior sucesso, possuindo uma infraestrutura de pagamentos em tempo real bem desenvolvida. Em 2018, lançou sua própria plataforma de pagamentos instantâneos, chamada PromptPay, para promover a inclusão financeira no país. 

A título de exemplo, em 2010, mais de 97% dos pagamentos de varejo eram feitos em papel moeda no país. Em 2021, apenas 3 anos após o lançamento, o pagamento instantâneo já representava 24,7% das transações, tornando-se a segunda ferramenta de pagamentos mais popular na Tailândia. A adesão, portanto, tem sido massiva: foram registrados 56,2 milhões de IDs do PromptPay até dezembro de 2020, o que representa 80,5% da população do país. 

A Tailândia ainda está, juntamente com outros países da ASEAN, trabalhando ativamente na criação de uma rede regional de pagamentos em tempo real, conectando suas plataformas de pagamento e apostando na tendência para o futuro de pagamentos transfronteiriços em tempo real. Atualmente, o PromptPay já está oficialmente vinculado ao PayNow de Singapura e ao DuitNow da Malásia.

Tendências Asiáticas em Pagamentos Instantâneos

Como visto, países asiáticos já apostavam nos pagamentos instantâneos antes da pandemia, ainda que as iniciativas estivessem incipientes. Só que a a COVID-19 acelerou o movimento e agora há um consenso de que essas tendências vieram para ficar e devem ser expandidas.

Para fazer essa expansão, além de estimular o crescimento dos pagamentos instantâneos em seus territórios, instituições privadas e públicas têm identificado os pagamentos transfronteiriços como a grande nova oportunidade do mercado e  iniciativas para o segmento internacional já estão em curso.

Além do esforço para permitir a conexão das plataformas já mencionadas, há outras iniciativas em andamento, como o projeto Nexus, envolvendo Singapura e Malásia. Ele busca viabilizar pagamentos instantâneos entre os dois e a zona do euro. Alguns desafios, entretanto, dificultam a expansão internacional. 

Em primeiro lugar, está a necessidade de segurança dessas transações. Crimes financeiros e fraudes têm sido problemas recorrentes. Levar a modalidade a uma escala   internacional pode potencializar o problema. Assim, visando garantir que a expansão ocorra, os países da região estão focados em desenvolver mecanismos para melhorar as políticas, processos e capacidades de triagem de fraudes em tempo real. 

Além disso, há o desafio dos países estarem em diferentes estágios de desenvolvimento do mercado e infraestruturas de pagamento. Singapura e China, por exemplo, contam com mercados digitalizados e bem desenvolvidos, mas esta não é uma realidade comum a todos os países com quem estão discutindo pagamentos internacionais instantâneos. 

Adicionalmente, a expansão do mercado precisaria ser acompanhada por um desenvolvimento da infraestrutura de comunicação. Assim, a realização dessa tendência dependerá de quais soluções desenvolvem para tais desafios.

 

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