CBDC: o que os mercados desenvolvidos podem aprender com os países emergentes?

As economias emergentes estão trilhando o caminho para uma economia digital reimaginada. Para se tornarem participantes, os países desenvolvidos precisam ver as oportunidades que as moedas digitais de banco central trazem.
CBDC o que os mercados desenvolvidos podem aprender com os países emergentes
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Equipe Propague
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Mesmo com todos os desafios impostos nos últimos anos, o mundo digital continua evoluindo. Junto com inovações como o metaverso e pagamentos instantâneos, a criptografia, em especial o desenvolvimento da moeda digital de banco central (CBDC na sigla em inglês), aponta para um longo e próspero caminho. Principalmente levando-se em conta uma demanda global por produtos e serviços digitais inclusivos e acessíveis.

Nesse contexto, o que se sobressai é que, embora pouco mais de uma centena de países, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), estejam em algum estágio de análise de desenvolvimento de uma CBDC, são os mercados emergentes que estão conseguindo enxergar e atender mais rapidamente essa demanda, gerando soluções para questões como a inclusão financeira e os pagamentos internacionais.

Dessa forma, olhando para a liderança alcançada por esses países em direção à moeda oficial digital, acredita-se que os mercados desenvolvidos possam se beneficiar do aprendizado dos pioneiros, cercando-se da confiança necessária para dar passos mais ousados na inovação em pagamentos digitais.

É para o que chama a atenção, por exemplo, Wolfram Seidemann, CEO da Giesecke+Devrient, empresa alemã que fornece impressão de notas e valores mobiliários, cartões inteligentes e sistemas de manuseio de dinheiro.

Em artigo publicado pelo OMFIF, ele argumenta que a forte consciência da necessidade de inovar é o que tem impulsionado a adoção da CBDC primeiramente nos mercados emergentes, mesmo com infraestruturas financeiras às vezes menos desenvolvidas ou opções de consumo menos competitivas, sendo esta a maior lição que eles têm a compartilhar.

Na sua avaliação, as economias emergentes estão trilhando o caminho para uma economia digital reimaginada e para se tornarem participantes. Os países desenvolvidos não devem perguntar quais problemas as CBDCs podem resolver, mas ver as oportunidades que elas trazem. E é isso que os países em desenvolvimento podem revelar.

Veja aqui o que é e como funciona uma CBDC.

Oportunidades para inovação

Seidemann explica que, como uma forma digital de dinheiro, a CBDC traz benefícios que vão além daqueles já amplamente difundidos, ou seja, conveniência, segurança e economia. Na verdade, ela também estimula a inovação digital ao oferecer efeitos de rede, o que é vital para criar concorrência efetiva e eficiência por meio de plataformas de pagamentos interoperáveis.

Cientes disso, os mercados emergentes estão aproveitando essas oportunidades para inovar e acompanhar as mudanças nas finanças digitais, afirma o CEO. Como exemplos no desbloqueio dos valores atrelados à CBDC, ele destaca Gana e Essuatíni, ambos na África.

No caso de Gana, ele destaca um projeto piloto bem-sucedido do Banco de Gana com a Giesecke+Devrient, onde a integração rápida de intermediários financeiros está permitindo o fluxo sem atrito de CBDC entre dinheiro móvel e contas bancárias.

Conforme disse, esse projeto enfatiza os benefícios da interoperabilidade no suporte a experiências de usuário perfeitas e novas oportunidades de negócios. “Gana agora está pronta para usar os insights e feedback do teste para apoiar planos de implantação mais amplos”, afirma.

Parceria público-privada pode ser impulso para CBDC

Diante dos resultados alcançados em Gana, Seidemann acredita que ao introduzir uma CBDC, uma forte colaboração público-privada pode ser a chave para o sucesso. Afinal, segundo ele, os bancos centrais não precisam e não querem competir com entidades financeiras privadas.

Dessa forma, aponta, um ecossistema de CBDC deve ser criado distribuindo funções entre os setores público e privado.

Assim, enquanto o banco central fornece a infraestrutura aberta, o setor privado inova na plataforma e interage com consumidores e comerciantes. É por isso, orienta, que o envolvimento inicial das partes interessadas é importante: os intermediários financeiros são cruciais para a integração, distribuição e adoção em larga escala da CBDC.

E isto é exatamente o que está sendo feito em países como Gana e Essuatíni. De acordo com Seidemann, ambos visam construir diversos ecossistemas onde a infraestrutura principal é fornecida pelo banco central e os serviços e produtos voltados para o cliente são criados por empresas privadas.

Para ele, as parcerias público-privadas criam confiança na moeda e na conveniência de serviços financeiros inovadores. Até porque, diz, a CBDC tem potencial para moldar a economia digital de amanhã e um ecossistema colaborativo poderá proporcionar uma adoção rápida da moeda digital de banco central e fortes oportunidades de crescimento.

CBDC e seu papel de inclusão na economia digital

Em seu artigo, Seidemann também chama a atenção para o fato de que a CBDC é uma forte indutora na promoção da participação na economia digital para os 1,4 bilhão de adultos sem banco em todo o mundo, bem como para as crianças que formarão a próxima geração de clientes.

Razão pela qual ele crê que isso também deva inspirar as nações desenvolvidas a alavancar a funcionalidade off-line, onde uma conta bancária não é necessária, e a introduzir uma forma digital de moeda pública que seja simples, resiliente e universalmente aceita.

Conforme disse, a CBDC pode facilitar a vida de muitas pessoas, oferecendo uma forma mais barata de pagamentos transfronteiriços para trabalhadores migrantes ou permitindo pagamentos digitais para pequenos comerciantes, como produtores rurais.

“É difícil imaginar todos os casos de uso futuro para uma CBDC e os novos modelos de negócios que ela pode trazer, mas ao fornecer uma infraestrutura confiável e sólida com o interesse público em mente, ela pode servir como uma plataforma de inovação segura e acessível para todos. Ademais, a CBDC fornecerá valor agregado às sociedades, servindo como um impulsionador para futuras inovações e inclusão em todo o mundo”, conclui.

 

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